Fitoesteróis e saúde cardiovascular: quais são as evidências?

Postado em 7 de agosto de 2023

Os fitoesteróis podem reduzir o colesterol, mas seus efeitos cardiovasculares ainda são controversos.

Milhões de pessoas sofrem com doenças cardiovasculares. Para conter essas enfermidades, o uso de fármacos é o tratamento de primeira linha. Entretanto, alguns tratamentos alternativos, como os fitoesteróis, já foram propostos para proteger a saúde cardiovascular. Mas será que essa é mesmo uma boa estratégia?

fitoesteróis e saúde cardiovascular

Foto: Shutterstock.com

Neste artigo, você entenderá o que são fitoesteróis, onde eles são encontrados, e quais as evidências científicas sobre seu uso para a saúde do coração.

Fitoesteróis, o que é?

Os fitoesteróis são compostos lipossolúveis naturalmente presentes em alimentos de origem vegetal. Nas células vegetais, os fitoesteróis contribuem para a estrutura e estabilidade das membranas.

Existem mais de 250 fitoesteróis identificados na natureza. Os mais comuns são: β-sitosterol, campesterol, estigmasterol, brassicasterol e avenasterol.

Os fitoesteróis possuem uma estrutura química muito semelhante ao colesterol, que é encontrado apenas em alimentos de origem animal. Ambos são absorvidos no intestino delgados e incorporados em micelas mistas.

Entretanto, o organismo excreta a maioria dos fitoesteróis absorvidos, capturando apenas uma pequena parcela pelo fígado. Na prática, apenas 0.5 a 5% dos fitoesteróis são absorvidos, versus 50 a 60% de absorção do colesterol dietético.

Quais os alimentos que contêm fitoesteróis?

Diferente do colesterol, os fitoesteróis não são sintetizados no organismo humano, sendo a dieta sua única fonte. Os mais comuns na alimentação são o campesterol, o β-sitosterol e o estigmasterol.

Os principais alimentos que contêm fitoesteróis são:

  • Óleos: de milho, girassol, soja, algodão e azeite de oliva;
  • Oleaginosas: pistache, amêndoas, castanha de caju, macadâmia;
  • Cereais: gérmen e farelo de trigo;
  • Leguminosas: soja, ervilha, lentilha, feijão roxo;
  • Frutas: maracujá, laranja, banana;
  • Vegetais: couve flor, couve de bruxelas;
  • Alimentos fortificados: margarina, iogurte, leite.

Uma dieta ociental típica contém de 300 a 400 mg de fitoesteróis ao dia, enquanto dietas veganas contém aproximadamente 500 mg/dia.

Fitoesteróis diminuem o LDL colesterol

Como a absorção dos fitoesteróis e do colesterol ocorre pela mesma via, estas substâncias competem entre si. Assim, a presença de fitoesteróis no intestino diminui a absorção do colesterol, de 30 a 50%. Além disso, os fitoesteróis também podem cocristalizar com o colesterol, facilitando sua eliminação por via fecal.

Em resposta à menor absorção, a síntese hepática do colesterol aumenta. Este aumento, porém, não é suficiente para retomar aos níveis anteriores. Como consequência, a concentração plasmática de colesterol diminui.

Em termos práticos, alguns estudos avaliaram quantitativamente a redução do colesterol sérico a partir da ingestão de fitoesteróis. Os resultados mostram uma redução de:

  • 2 a 3% com a ingestão de 300 a 400 mg/dia;
  • 9% com a ingestão de 1500 a 2000 mg/dia (obtida exclusivamente com suplementação);
  • 12 a 12.5% com a ingestão de 3 g/dia (obtida exclusivamente com suplementação).

Em uma metanálise com 15 ensaios clínicos, dietas enriquecidas com fitoesteróis produziram uma redução de 12 mg/dL nos níveis de LDL-colesterol, em comparação ao uso isolado de estatina.

Em caso de suplementação, dados científicos mostram maior eficácia de fitoesteróis apresentados em alimentos sólidos. Além disso, o melhor horário para a ingestão é ao final de uma das refeições principais.

Fitoesteróis e saúde cardiovascular: o que diz a ciência?

Apesar dos benefícios para a redução do colesterol, os efeitos dos fitoesteróis na saúde cardiovascular ainda são controversos.

Alguns estudos demonstram resultados positivos para a suplementação de fitoesteróis, tais como benefícios para a rigidez arterial e menor mortalidade a longo prazo. Outras pesquisas, no entanto, não observam nenhum efeito benéfico consistente.

Por outro lado, determinados estudos sugerem uma associação entre proporções elevadas de fitoesteróis ao aumento do risco cardiovascular, como o desenvolvimento de aterosclerose, doença cardíaca coronariana, aterogênese e ocorrência de infarto.

Portanto, atualmente não existem evidências conclusivas sobre o papel dos fitoesteróis na saúde cardiovascular.

Vale ressaltar que, em pacientes com sitosterolemia homozigótica, a ingestão de fitoesteróis aumenta muito o risco cardiovascular. Contudo, a prevalência dessa condição é extremamente baixa.

Fitoesteróis: o que dizem as diretrizes?

De acordo com várias sociedades científicas internacionais, o uso regular de 2 g/dia de fitoesteróis, sob supervisão profissional, pode ser recomendado para a diminuição de 7 a 10% do LDL-colesterol. É o caso, por exemplo, da Sociedade Europeia de Cardiologia (ECS) e da Sociedade Europeia de Aterosclerose (EAS).

Já a American Heart Association (AHA) restringe o uso de fitoesteróis a pacientes com hipercolesterolemia familiar e para prevenção secundária, enfatizando que mais informações são necessárias para recomendá-los à população geral.

No Brasil, a ANVISA permite que alimentos com ≥ 0.8 g de fitoesteróis livres apresentem a alegação de redução da absorção do colesterol, em associação à uma alimentação balanceada e estilo de vida saudável.

Ainda, algumas instituições de saúde não recomendam tal estratégia, como é o caso do Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (NICE) do Reino Unido, e da Sociedade Cardíaca Alemã (DGK).

O que podemos concluir?

Como vimos até aqui, os fitoesteróis podem ser grandes aliados na redução do colesterol plasmático. Porém, não se sabe se este benefício se traduz para a saúde cardiovascular em si. Portanto, mais estudos ainda são necessários.

Por fim, o consumo de fitoesteróis através de fontes dietéticas é benéfico e seguro. Já a decisão de indicar a suplementação de fitoesteróis na hipercolesterolemia deve considerar a atualização constante, o perfil lipídico do paciente e o risco cardiovascular individual.

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Referências:

Cabral CE, Klein MRST. Phytosterols in the Treatment of Hypercholesterolemia and Prevention of Cardiovascular Diseases. Arq Bras Cardiol. 2017 Nov;109(5):475-482. doi: 10.5935/abc.20170158.

Makhmudova U, Schulze PC, Lütjohann D, Weingärtner O. Phytosterols and Cardiovascular Disease. Curr Atheroscler Rep. 2021 Sep 1;23(11):68. doi: 10.1007/s11883-021-00964-x.

Phytosterols. Linus Pauling Institute. Oregon State University.

Poli A, Marangoni F, Corsini A, Manzato E, Marrocco W, Martini D, Medea G, Visioli F. Phytosterols, Cholesterol Control, and Cardiovascular Disease. Nutrients. 2021 Aug 16;13(8):2810. doi: 10.3390/nu13082810.

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