Diretriz ESPEN sobre insuficiência intestinal crônica em adultos

Postado em 22 de novembro de 2023 | Autor: Natália Lopes

No material atualizado, os profissionais EPSEN elaboraram 146 recomendações e 16 declarações para guiar o tratamento da insuficiência intestinal crônica.

A insuficiência intestinal crônica (IIC) ocorre quando a falência do intestino persiste por meses ou anos. Ela pode ser causada por graves doenças gastrointestinais ou sistêmicas, e câncer em estágio avançado.

Sendo uma doença rara, a conscientização sobre a IIC entre profissionais da saúde é escassa, incluindo sua definição, classificação, e formas de tratamento. 

insuficiência intestinal crônica

Fonte: Canva.com

Sabendo disso, a Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo (ESPEN) atualizou sua diretriz sobre insuficiência intestinal crônica em adultos, definindo 146 recomendações e 16 declarações. A seguir, confira os pontos chaves deste novo material.

O que é insuficiência intestinal crônica?

Define-se “insuficiência intestinal crônica” (IIC) como a redução persistente da função intestinal abaixo do mínimo necessário para a absorção de macronutrientes e/ou água e eletrólitos, de modo que a suplementação intravenosa (SIV) seja necessária para manter a saúde e/ou crescimento, em um paciente metabolicamente estável.

A IIC que requer apenas SIV de fluidos e eletrólitos é menos grave do que a IIC que requer SIV de misturas de nutrição parenteral com macronutrientes. 

Os possíveis mecanismos fisiopatológicos da IIC são:

  • Síndrome do intestino curto (SIC)
  • Fístula enterocutânea intestinal
  • Doença extensa da mucosa intestinal delgada
  • Dismotilidade intestinal
  • Oclusão mecânica intestinal 

Nos três primeiros casos, o mecanismo primário da insuficiência é a má absorção de alimentos ingeridos, devido à redução ou desvio da superfície mucosa absorvente. 

Já na dismotilidade ou oclusão intestinal, ocorre uma restrição da nutrição por conta de sintomas digestivos e/ou obstrução intestinal. Além disso, essas condições podem ser complicadas por crescimento bacteriano excessivo que levam à má absorção.

Nutrição parenteral na IIC

A suplementação intravenosa (SIV), necessária para a IIC, pode ser fornecida através da nutrição parenteral. Em pacientes metabolicamente estáveis e com as condições necessárias, a NP domiciliar é uma opção. Para isso, pacientes e cuidadores devem ser treinados acerca da infusão, procedimentos de segurança e reconhecimento de complicações.

As necessidades proteicas e energéticas devem ser baseadas nas características individuais de cada paciente, como a presença de outras doenças subjacentes.

Em pacientes totalmente dependentes da NP domiciliar, pode-se fornecer um mínimo de 1g/kg/semana de emulsão lipídica intravenosa contendo ácidos graxos essenciais, como aquelas à base de óleo de peixe ou azeite. 

Em caso de escassez de micronutrientes, deve-se iniciar a suplementação com multivitaminas e multiminerais. Se a NPD for total, indica-se a via intravenosa. Por outro lado, se a NPD for parcial, indica-se a via sublingual, oral, enteral, intramuscular ou subcutânea. 

Por fim, a monitoração da NP para insuficiência intestinal crônica deve ser regular, contando com parâmetros bioquímicos: hemoglobina, ferritina, albumina, proteína C-reativa (PCR), análise de gases no sangue venoso ou bicarbonatos séricos, função renal, função hepática e glicose, concentrações séricas e basais de micronutrientes.

Síndrome do Intestino Curto (SIC)

A Síndrome do Intestino Curto (SIC) é um dos possíveis mecanismos patológicos associados à insuficiência crônica intestinal. Ela é definida pela presença de um segmento de intestino delgado residual menor que 200 cm. 

Segundo os especialistas ESPEN, a dieta na SIC com cólon preservado deve ser rica em carboidratos complexos; baixa em mono e dissacarídeos; baixa em gordura; e com um alto teor de TCM.

Já na SIC sem cólon preservado, pode ter qualquer proporção de gordura para carboidrato, mas com baixo teor de mono e dissacarídeos.

Pacientes com SIC podem avançar do suporte parenteral para alimentação oral ou enteral conforme tolerado. Na nutrição enteral, sugere-se priorizar o uso de dietas enterais isotônicas poliméricas.

Dismotilidade crônica do intestino delgado

A dismotilidade crônica do intestino delgado (DCID) refere-se a um padrão anormal de movimento muscular no intestino delgado, causando sintomas obstrutivos recorrentes e intolerância à nutrição oral ou enteral.

O aconselhamento dietético é o manejo de primeira linha na DCID.  As recomendações dietéticas para estes pacientes incluem:

  • Comer de acordo com a tolerância individual;
  • Refeições pequenas e frequentes;
  • Baixo teor de fibras e gorduras;
  • Alimentos com textura modificada;
  • Suplementos de micronutrientes para prevenir deficiências.

Segundo a ESPEN, qualquer decisão de aplicar a nutrição enteral ou parenteral deve envolver uma consideração multidisciplinar sobre os potenciais riscos e benefícios. 

Outras recomendações

As demais orientações presentes na diretriz dizem respeito ao funcionamento de centros de insuficiência intestinal crônica, prevenção e tratamento de complicações, IIC na gravidez e lactação, avaliação da qualidade de vida, entre outros.

Para ler a diretriz completa, clique aqui.

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Referências

Pironi L, Cuerda C, Jeppesen PB, Joly F, Jonkers C, Krznarić Ž, Lal S, Lamprecht G, Lichota M, Mundi MS, Schneider SM, Szczepanek K, Van Gossum A, Wanten G, Wheatley C, Weimann A. ESPEN guideline on chronic intestinal failure in adults – Update 2023. Clin Nutr. 2023 Oct;42(10):1940-2021. doi: 10.1016/j.clnu.2023.07.019. Epub 2023 Jul 29. PMID: 37639741.

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