Nutrição Enteral peri-operatória versus Cuidados Padrão e desfechos clínicos em cirurgia colorretal

Postado em 25 de março de 2019 | Autor: Marcella Gava

Estudo encontrou que o uso de dieta pré, durante e pós cirurgia não trouxe benefícios para os pacientes

Trabalho publicado na revista The Lancet investigou os efeitos de uma nutrição enteral enriquecida com lipídeos administrada logo antes, durante e após cirurgia de ressecção colorretal sobre a ocorrência de íleo pós operatório e deiscência da anastomose.

Para isso, foi realizado um estudo multicêntrico internacional, duplo cego, paralelo randomizado controlado com indivíduos maiores de 18 anos que realizariam cirurgia eletiva. No dia anterior a cirurgia, todos os pacientes receberam sonda naso-jejunal migratória e foram randomizados em grupo intervenção, que recebeu dieta enteral contínua enriquecida com lipídeos, ou grupo controle, que não recebeu nutrição peri operatória, mas recebeu solução salina para cegamento do estudo. No grupo intervenção foi administrado 1,5 ml/min de dieta enteral a partir de 3 horas antes da operação, permanecendo durante a cirurgia e após 6 horas do término da mesma. Os pacientes de ambos os grupos foram acompanhados seguindo o protocolo ERAS para paciente cirúrgico e seguidos durante 90 dias do pós-operatório.

280 pacientes foram avaliados, sendo 139 no grupo intervenção e 141 no grupo controle, fazendo parte da análise final 132 e 133 pacientes, respectivamente. A indicação cirúrgica principal foi câncer colorretal em ambos os grupos (92%). Não foi encontrada diferença entre os grupos na ocorrência de íleo pós-operatório, tempo até a ingestão oral, tempo para flatos, tempo para a primeira evacuação e uso de opioides. A ocorrência e a gravidade de deiscência de anastomose foi similar entre os grupos, assim como a incidência de infecção do trato urinário e infecção geral. A incidência de pneumonia foi maior no grupo intervenção que no grupo controle (p = 0,051). Também não houve diferença entre os grupos na taxa de complicações ou readmissões no período de 30 e 90 dias. O tempo de recuperação funcional e tempo de hospitalização foi semelhante entre os grupos, embora houvesse uma tendência a um tempo mais prolongado no grupo intervenção. O volume residual gástrico medido quando retirada a sonda nasoenteral (6h após a cirurgia) foi maior no grupo intervenção, porém o conteúdo era claro e não foi aspirado resíduo de dieta enteral. Não foi observada aspiração em nenhum indivíduo. Não foi observada diferença nas concentrações de PCR entre os grupos em nenhum dia.

Autores apontam que existem limitações no estudo como ausência de padronização entre os centros participantes, e o fato da adesão ao protocolo ERAS não ter sido monitorada continuamente durante todo o acompanhamento.

Com isso, os autores concluíram que nutrição enteral enriquecida com lipídeos no peri operatório em cirurgias eletivas não melhorou desfechos clínicos e complicações pós-operatórias em comparação as práticas padrões em cirurgia colorretal.

Referência:

Peters EG et al. Perioperative lipid-enriched enteral nutrition versus standard care in patients undergoing elective colorectal surgery (SANICS II): a multicentre, double-blind, randomised controlled trial. Lancet Gastroenterol Hepatol. 2018 Apr;3(4):242-251.

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