Oferta total das necessidades calóricas de pacientes críticos não melhora mortalidade ou funcionalidade após seis meses da internação

Postado em 23 de abril de 2020 | Autor: Marcella Gava

Estudo concluiu que a oferta aproximada de 100% da recomendação da necessidade calórica em comparação a oferta de 70% desta durante internação em UTI não melhorou quadro do paciente

Foto de paciente masculino internado em leito hospitalar.

Os autores avaliaram se a oferta de 100% das necessidades nutricionais para pacientes críticos melhoraria sua recuperação, através da mensuração de escores de qualidade de vida, retorno ao trabalho, deficiência e participação em atividades de vida diária e se esse benefício seria mais aparente em grupos específicos de pacientes. Assim, selecionaram pacientes com mais de 18 anos internados em UTI sob ventilação mecânica, que recebiam nutrição enteral. Os participantes foram divididos em dois grupos: um grupo recebeu nutrição enteral de alta densidade energética (1,5 kcal/ml) (G1) e o outro grupo recebeu nutrição enteral regular (1,0kcal/ml) (G2). O objetivo da terapia nutricional era fornecer 1ml/kg/h, utilizando o peso ideal destes pacientes. Estes foram ainda subdivididos em grupos de acordo com sua idade (maior ou menor que 65 anos) e com sua intensidade de atividade laboral. Os sobreviventes foram contactados com aproximadamente 180 dias após randomização e foram coletadas informações sobre qualidade de vida, através do questionário EQ5D5L, que contém perguntas sobre mobilidade, cuidados pessoais, atividades usuais, dor/desconforto e ansiedade/depressão, categorizados em 5 níveis.

O estudo iniciou com 3997 pacientes e após uma média de 185 dias foi possível aplicar o questionário em 2492 (65,3%) dos pacientes. Os pacientes receberam volume e oferta proteica semelhante entre os grupos, no entanto o G1 recebeu 34% (605kcal) mais calorias que o grupo G2. Não houve diferença no escore EQ5D5L entre os grupos. Até o dia 180, 29,6% dos pacientes do G1 e 28,1% dos pacientes no grupo G2, morreram. As categorias do escore utilizado foram semelhantes entre os indivíduos, exceto nos com mais de 65 anos e morando em casa com apoio. Esta categoria apontou uma estimativa de que a nutrição enteral de alta densidade seria prejudicial. Dos 818 participantes <65 anos, 456 (56%) haviam retornado ao trabalho até o dia 180. Não houve diferenças entre os grupos que receberam nutrição enteral com alta densidade energética ou regular, quanto a proporção em que retornavam ao trabalho, horas trabalhadas, turnos perdidos no trabalho, eficácia no trabalho ou grandes mudanças no tipo de trabalho realizado. A proporção de entrevistados que relataram incapacidade nula ou moderada e incapacidade moderada a grave e dias livres de incapacidade também foram semelhantes. Para maiores de 65 anos anos, não foram identificadas diferenças entre grupos. As inferências permaneceram inalteradas nas análises de sensibilidade imputando mortes como a pior pontuação.

Com isso, os autores concluíram que a oferta aproximada de 100% da recomendação da necessidade calórica em comparação a oferta de 70% desta durante internação em UTI não melhorou qualidade de vida, desfechos funcionais ou aumentou o numero de sobreviventes após seis meses.

Referências

Deane AM et al. Outcomes Six Months after Delivering 100% or 70% of Enteral Calorie Requirements during Critical Illness (TARGET). A Randomized Controlled Trial. Am J Respir Crit Care Med. 2020 Apr 1;201(7):814-822.

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