4 ações estratégicas para prevenção da obesidade em crianças e adolescentes

Postado em 3 de junho de 2020 | Autor: Colunistas Convidados

Adriana Gandolfo e Patrícia Zamberlan

Adriana Servilha Gandolfo e Patrícia Zamberlan são nutricionistas*

A prevalência mundial da obesidade infantil vem apresentando um rápido aumento nas últimas décadas, sendo caracterizada como uma epidemia mundial. A pesquisa de orçamentos familiares (POF 2008-2009) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), em parceria com o Ministério da Saúde (MS), apresentou um aumento importante do número de crianças acima do peso no país, principalmente na faixa etária de 5 a 9 anos de idade e entre adolescentes.

Em um mundo globalizado onde um dos pilares é a formação de consumidores e de centros comerciais, em substituição à formação de cidadãos e comunidades, foram alterados os valores, os costumes, as relações com o trabalho, a vida familiar e o lazer. A obesidade pode ser compreendida como um efeito colateral dessas mudanças.

Cada vez mais os pais concentram esforços no crescimento profissional e material para manterem seu poder aquisitivo e se conservarem no mercado de trabalho competitivo e exigente de produtividade e eficiência. Sem tempo, não têm disposição para o convívio com os filhos. Atualmente, restaurantes do tipo fastfood são o protótipo da vida contemporânea, marcada pelo consumo solitário de alimentos ultraprocessados.

Assista também: 5 alimentos que toda criança deve comer

Iniciativas de prevenção da obesidade infantil

Algumas ações estão sendo realizadas pelos países das Américas no combate à crescente epidemia de obesidade ao assinarem o Plano de Ação (2014-2019) para a Prevenção da Obesidade em Crianças e Adolescentes com duração de cinco anos junto à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Essas ações estratégicas visam transformar o atual ambiente em oportunidades para um aumento no consumo de alimentos nutritivos e da atividade física. Veja quais são as linhas de ações:

  1. Melhoria da atenção primária à saúde, promoção de aleitamento materno e alimentação saudável;
  2. Melhoria de ambientes de nutrição, visando adotar normas e/ou regulamentações sobre venda de alimentos e bebidas nas escolas e promover e fortalecer programas escolares que aumentam de atividade física nas escolas;
  3. Políticas fiscais e regulamentação do marketing e rotulagem de alimentos, visando reduzir consumo de bebidas açucaradas e produtos energéticos com poucos nutrientes para crianças e adolescentes;
  4. Ações que visam aumentar a disponibilidade e acessibilidade de alimentos nutritivos; criação de espaços públicos como parques e implantação de programas de “ruas abertas”.

A OPAS criou um sistema de coleta de dados para monitorar as atividades e avaliar o progresso das ações propostas com objetivo de atingir a meta. A implementação dessas políticas é um modelo a ser seguido por outros países para auxiliar na prevenção da obesidade em crianças e adolescentes.

Em 2014, o governo brasileiro lançou um guia alimentar inovador, que encoraja a população a consumir alimentos naturais ou minimamente processados, e a mais recente ação desenvolvida pelo governo foi assinar em 26 de novembro de 2018 um acordo com a indústria alimentícia para reduzir 144 mil toneladas de açúcar de alimentos industrializados no país até 2022.

O Brasil é um dos primeiros países do mundo a realizar acordo com a indústria, e a meta é reduzir o teor de açúcar de bebidas adoçadas, biscoitos, achocolatados em pó, bolos e misturas para bolos e produtos lácteos.

 

*Adriana Servilha Gandolfo é nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo. Pós-graduada em Saúde Materno Infantil pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Pós-graduada em Desnutrição e Recuperação nutricional pela Unifesp. Mestre em Ciências pelo departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP. Nutricionista Supervisora do Serviço de Nutrição e Dietética do Instituto da Criança/HCFMUSP. Coordenadora da Câmara Técnica de Nutrição Clínica (CONUCLI) do Comitê Assistencial, Técnico-científico e Administrativo de Nutrição (CANUT)/HCFMUSP.

*Patrícia Zamberlan é nutricionista pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Mestre e Doutora em Ciências pelo Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP. Nutricionista da EMTN do Instituto da Criança, HCFMUSP. Especialista em nutrição parenteral e enteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE/BRASPEN).

Bibliografia recomendada:

American Dietetic Association. Position of the American Dietetic Association: Individual-Family-School- and Community-Based Interventions for Pediatric Overweight. Journal of the American Dietetic Association. 2016.

Cominato L, Di Biagio GF, Lellis D, Franco RR, Mancini MC, Melo ME de. Obesity Prevention: Strategies and Challenges in Latin America. Current Obesity Reports (2018) 7:97–104.

Ebbeling CB, Feldman HA, Chomitz VR, Antonelli TA, Gortmaker SL, Osganian SK, Ludwig DS.  A Randomized Trial of Sugar-Sweetened Beverages and Adolescent Body Weight. The New England Journal od Medicine 367: 15 October 11, 2012.

Gandolfo AS. Educação nutricional em consultório. In: Nascimento AG, Mattar LBF, Neri L de C, Yonamine GH, Silva APA. Educação Nutricional em Pediatria.1º edição – Barueri, SP: Manole, 2018.

Geserick M, Vogel M, Gausche R, Lipek T, Spielau U, Keller E, Pfäffle R, Kiess W, Körner A. Acceleration of BMI in Early Childhood and Risk of Sustained Obesity. New England Journal of Medicine. Vol.379, Nº14, 2018.

Guia alimentar para a população brasileira. 2ª edição – Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009. Antropometria e análise do estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro. IBGE, 2010.

Organização Pan-Americana da Saúde. Plano de Ação para Prevenção da Obesidade em Crianças e Adolescentes. 2015.

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