Como os pais podem ajudar a criança que se recusa a comer?

Postado em 17 de julho de 2019 | Autor: Colunistas Convidados

Adriana Gandolfo e Patrícia Zamberlan

Adriana Servilha Gandolfo e Patrícia Zamberlan são nutricionistas*

A desnutrição infantil é caracterizada por deficiência de macro e micro nutrientes que pode ser devido à privação alimentar (definida como desnutrição primária) ou em decorrência de uma doença de base (conhecida como desnutrição secundária). Pode ocorrer de forma aguda ou crônica e afetar muito o crescimento e o desenvolvimento da criança. Portanto, investigar as causas da desnutrição é fundamental para que o tratamento seja efetivo.

Dentre alguns questionamentos que podem auxiliar na identificação e no tratamento de crianças desnutridas, pode-se citar a apresentação de alguma doença que possa estar comprometendo o estado nutricional do pequeno, ou se ele apresenta dificuldade para mastigar e/ou engolir ou até se tem se tornado seletivo para se alimentar, escolhendo apenas aquilo que gosta.

O profissional de saúde que fará o diagnóstico pode também perguntar sobre como é a dinâmica da família no momento das refeições e querer saber com quem a criança compartilha os horários das refeições.

Previna a desnutrição infantil

Veja agora alguns dos problemas mais comuns quando o assunto é criança e alimentação.

Percepção incorreta dos pais

Quando acontece: a criança apresenta apetite ruim, mas tem um crescimento normal.

Dica: Nestes casos é preciso estar atento ao que a criança está comendo e àquilo que pode atrapalhar o apetite, mas não o ganho de peso. Geralmente a oferta calórica para a criança é alta pelo frequente consumo de guloseimas como biscoitos, doces, salgadinhos e produtos ultraprocessados, que apresentam ótima palatabilidade e aceitação, mas são pobres em valores nutricionais.

Criança muito ativa e com apetite limitado

Quando acontece: as crianças normalmente são ativas e curiosas, apresentando maior interesse em brincar e falar, do que em comer. Recusam-se a sentar para fazer a refeição, comem pouco e, frequentemente, apresentam falha no ganho de peso, o que gera conflitos com os pais.

Dica: Experimente tornar lúdico o momento da refeição, como, por exemplo, montar o prato junto com a criança e construindo desenhos com os alimentos.

Criança apática e não sociável

Quando acontece: em crianças inativas, desinteressadas (tanto pelo ambiente como pela alimentação), pouco comunicativas e interativas, a desnutrição é evidente. Nestes casos, a causa pode ser até mesmo uma depressão ou anorexia, que levam a uma baixa aceitação alimentar e consequente subnutrição; e que por sua vez piora a apatia e o desinteresse, criando um ciclo vicioso.

Dica: crianças que possivelmente apresentam distúrbios alimentares necessitam de acompanhamento psicológico e a abordagem nutricional deve ser flexível e sem restrições. O melhor a fazer nesses casos é buscar ajuda profissional adequada.

Criança apresenta alguma doença

Quando acontece: crianças portadoras de alergia alimentar, doença celíaca, esofagite, gastrite, desordens da motilidade gástrica e/ou intestinal, constipação e refluxo gastroesofágico, por exemplo, podem apresentar subnutrição, condição que está relacionada a uma causa orgânica (doença de base).

Dica: o caminho a seguir é buscar um profissional de saúde para tratar a doença e melhorar os sintomas e, consequentemente, conquistar a recuperação do estado nutricional.

E como os pais podem ajudar a criança que se recusa a comer?

Os pais devem ser encorajados a respeitar a interpretação de fome e saciedade da própria criança. É importante que haja divisão de responsabilidades: os pais decidem onde, quando e o que as crianças vão comer, e a criança decide se vai comer e quanto vai comer.

Recomendações importantes

  • Evitar distração da criança durante as refeições;
  • Manter uma atitude natural e prazerosa durante as refeições;
  • Alimentar a criança, encorajando seu apetite;
  • Limitar a duração da refeição em 20 a 30 minutos;
  • Oferecer de quatro a seis refeições por dia e água nos intervalos;
  • Oferecer sistematicamente novos alimentos à criança e oferecer de maneiras diferentes caso não haja aceitação de primeira;
  • Encorajar a criança a comer sozinha;
  • Tolerar a bagunça da criança, que é apropriada para a idade.

 

*Adriana Servilha Gandolfo é nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo. Pós-graduada em Saúde Materno Infantil pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Pós-graduada em Desnutrição e Recuperação nutricional pela UNIFESP. Mestre em Ciências pelo departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP. Nutricionista Supervisora do Serviço de Nutrição e Dietética do Instituto da Criança/HCFMUSP. Coordenadora da Câmara Técnica de Nutrição Clínica (CONUCLI) do Comitê Assistencial, Técnico-científico e Administrativo de Nutrição (CANUT)/HCFMUSP.

*Patrícia Zamberlan é nutricionista pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Mestre e Doutora em Ciências pelo Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP. Nutricionista da EMTN do Instituto da Criança, HCFMUSP. Especialista em nutrição parenteral e enteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE/BRASPEN).

Referências consultadas:

Kerzner B, Milano K, MacLean Jr WC, Berall G, Stuart S, Chatoor I. A practical approach to classifying and managing feeding difficulties. Pediatrics 2015;135:344-53.

Gomes DF, Gandolfo AS, Oliveira AC de, Potenza ALS, Micelli CLO, Almeida CB, et al. Campanha “Diga não à desnutrição Kids”: 11 passos importantes para combater a desnutrição hospitalar. Braspen Journal 2019; 34:3-23.

Candler T, Murphy R, Pigott A, Gregory JW. Fifteen-minutes consultation: diabulimia and disordered eating in childhood diabetes. Arch Dis Child Educ Pract Ed 2018;103:118-23.

Assine nossa newsletter: