E como fica a dieta em pacientes com depressão?

Postado em 25 de setembro de 2019 | Autor: Colunistas Convidados

Maria Fernanda Soares Naufel

Maria Fernanda Soares Naufel* é nutricionista

Quando pensamos em tratamento para a depressão, a primeira opção que o paciente procura é o uso de medicamentos associado à terapia. Porém, manter um estilo de vida saudável, que inclui sono de qualidade, exercício físico e dieta equilibrada, pode ser tão importante quanto os remédios.

Inúmeras pesquisas apontam que a alimentação influencia diretamente em nosso humor, e por ser tão importante para saúde mental, inspirou o surgimento de um novo campo da medicina denominado Psiquiatria Nutricional.

As deficiências nutricionais comumente encontradas em pacientes com distúrbio de humor são de ômega-3, vitaminas do complexo B, minerais e de aminoácidos.

A dieta equilibrada, contendo quantidades adequadas de macronutrientes, vitaminas e minerais é a ideal no combate à depressão, enquanto dietas excessivamente restritivas em calorias ou que excluem algum dos macronutrientes são nocivas para a saúde mental.

Dieta x depressão: como os macronutrientes agem na saúde mental

Proteínas

As proteínas são constituídas de aminoácidos, e a ingestão inadequada deles pode afetar o funcionamento do cérebro e a saúde mental, já que muitos dos neurotransmissores relacionados ao humor são feitos de aminoácidos.

A serotonina, por exemplo, é um neurotransmissor produzido pelo triptofano (um aminoácido essencial), enquanto a tirosina é precursora da dopamina. A falta desses dois aminoácidos em nosso organismo prejudica os neurotransmissores, e por consequência, o humor.

Veja também: Conheça a dieta da serotonina, que promete trazer mais felicidade

Assim, a ingesta diária de alimentos fonte de proteínas de alta qualidade como carnes magras, ovos, leite desnatado e seus derivados, cogumelos, grãos, entre outros, são importantes no combate à depressão.

Carboidratos

Os carboidratos são nossa principal fonte de glicose, e nosso cérebro precisa de uma dose constante de glicose para funcionar bem e produzir neurotransmissores. Assim, dietas restritas em carboidratos podem desencadear distúrbios de humor.

Precisamos “alimentar” nosso cérebro regularmente com carboidratos de boa qualidade, por isso é importante comer pouco e várias vezes ao dia, para manter o bom humor e a disposição.

O ideal é preferir os chamados carboidratos de baixo índice glicêmico como frutas e grãos 100% integrais, pois eles mantêm o nível de açúcar no sangue mais estáveis. Também é importante evitar os carboidratos de alto índice glicêmico, como os doces.

Gorduras (lipídios)

Cerca de 50% do nosso cérebro é formado por lipídios. Estudos apontam que a deficiência de ácidos graxos (principalmente ômega-3) está relacionada ao aumento da depressão.

Assim, para garantir a saúde mental, devemos consumir diariamente quantidades moderadas de gorduras “do bem”, como peixes gordos que são ricos em ômega-3, azeite de oliva, sementes e oleaginosas (mesmo a suplementação de ômega-3 é indicada em alguns casos). Gorduras saturadas e trans devem ser evitadas.

Vitaminas e minerais

O consumo adequado de micronutrientes também é fundamental no combate à depressão, já que a deficiência de vitaminas (como a do complexo B) e de minerais podem acentuar quadros da doença. Assim, consumir frutas, verduras, legumes, grãos e sementes deve fazer parte da dieta de quem quer evitar esse mal.

Obesidade e depressão

Em estudo do nosso grupo de pesquisa da Unifesp (Naufel et al, 2019), publicado por uma importante revista científica internacional, mostramos que a obesidade abdominal e o excesso de gordura corporal estão associados com a piora da saúde mental. Assim, o controle do peso e da porcentagem de gordura do corpo também são fatores importante para a manutenção do bom humor!

Outras dicas que podem ajudar

Uma terapia alternativa conhecida como mindfulness e mindful eating (traduzida para o português como Atenção Plena), se mostrou efetiva no combate a depressão, ansiedade, estresse e distúrbios alimentares.

A técnica inovadora é uma excelente aliada dos profissionais da saúde no combate a inúmeras patologias, entre elas os distúrbios de humor e a compulsão alimentar.

Outras dicas nutricionais no combate à depressão são:

• Realizar pequenas refeições várias vezes ao dia
• Consumir frutas, verduras e legumes diariamente
• Consumir quantidades balanceadas de lipídios (principalmente de ômega-3)
• Preferir os cereais 100% integrais
• Incluir ao menos um alimento fonte de proteína magra em todas as refeições
• Evitar o consumo de carnes gordas, carnes processadas, açúcar, doces, e alimentos ultraprocessados
• Controlar o consumo de calorias e praticar exercício físico
• Beber bastante água (2 litros por dia)
• Procurar um profissional nutricionista para avaliar suas reais necessidade nutricionais

 

*Maria Fernanda Naufel é nutricionista graduada pela PUC-Campinas. É mestre em pediatria e ciências aplicadas à pediatria, especialista em saúde, nutrição e alimentação infantil pela UNIFESP/EPM. É professora do curso “Coaching de Mindfulness e Mindful Eating-SP” na Nutrição & Consciência, nutricionista no Centro de Especialistas do Sono (CES), na clínica de nefrologia Santa Rita e pesquisadora no ambulatório de sonolência excessiva diurna do departamento de neurologia da Universidade Federal de São Paulo. É também doutora em nutrição pela Unifesp.

Com colaboração de Marcelo Csermak, professor do curso “Coaching de Mindfulness e Mindful Eating-SP” na Nutrição & Consciência, pesquisador, mestre e doutor em Ciências pelo depto. de Psicobiologia da UNIFESP, praticante e especialista de técnicas meditativas há mais de 20 anos.

Referências bibliográficas:

Firth J, Marrx W, Dash S, Carney R, et al. The effects of dietary improvement on symptoms of depression and anxiety: a meta-abalysis of randomized controlled trials. Psychosom Med. 2019;81(3):265-280.

Molendijk M, Molero P, Sánchez-Pedreño F, Van der Does W, Martínez-González M. Diet quality and depression risk: A systematic review and dose-response meta-analysis of prospective studies. J Affect Disord. 2018;226:346-354.

Li Y, Ly MR, Wei YJ, Sun L, Zhang HG, Li B. Dietary patterns and depression risk: A meta-analysis. Psychiatry Res. 2017;253:373-382.

Berk M, Jacka FN. Diet and Depression – From confirmation to implementation. 2019;321(9):842-843.

Naufel MF, Boldarine VT, Oyama LM, Nascimento CMO, et al. Age and leptinemia association with anxiety and depression symptoms in onverweight middle-aged women. 2019;26(3):317-324.

BDA – The association of UK Dietitians. Depression and Diet. April 2019,

Tello M. Diet and Depression. Harvard, february 2018.

Alvarenga M, Figueiredo M, Timerman F, Cynthia A. Comer com atenção plena (mindful eating). In: Nutrição Comportamental. Editora Manole. 2018. 2a edição.

Assine nossa newsletter: