O tratamento convencional do autismo baseia-se na combinação de três pilares: terapia comportamental, farmacoterapia e adaptação adequada da dieta. Desse modo todos eles podem contribuir para aliviar a gravidade da doença, que inclui os sintomas psicológicos, comportamentais e gastrintestinais. A atividade física e os cuidados nutricionais são elementos de grande valia para a prevenção da obesidade, bem como maior independência funcional, participação social e qualidade de vida do autista.
O autismo ou Transtorno do Espectro Autista (TEA) se caracteriza pelo início precoce, tipicamente antes dos 3 anos de idade, de desordens no desenvolvimento psicomotor que afetam a capacidade de comunicação e de desenvolvimento nas áreas de aprendizado, interação social e adaptação. O diagnóstico é uma decisão clínica estabelecida com base em uma lista de critérios comportamentais, pois não há um marcador biológico específico para tal determinação.
Além das características próprias nos portadores da síndrome, principalmente no desenvolvimento cognitivo, ainda há a ocorrência de desordens gastrintestinais, como diminuição da produção de enzimas digestivas, inflamação e alteração da permeabilidade da parede intestinal, fatores de risco para o agravamento dos sintomas da doença.
Sabe-se que alterações no trato gastrintestinal associadas à deficiência de proteases conduzem ao aumento da concentração de peptídeos opioides circulantes. Esses compostos, por terem ação semelhante à do peptídeo opioide endógeno β-endorfina, atuam sobre o sistema nervoso central, induzindo ao agravamento da síndrome.
O glúten e seus peptídeos derivados podem estimular a produção de linfócitos T-helper, citocinas inflamatórias e desencadear respostas inflamatórias, reações autoimunes e rompimento da comunicação neuroimune. Uma dieta isenta de alimentos que contenham glúten ou caseína tem sido associada com melhora no quadro sintomático da síndrome.
Além disso, os autistas podem ser mais propensos ao sobrepeso e à obesidade, particularmente relacionados à inatividade física devido às suas limitações e dificuldade de convívio social. As alterações ponderais têm sido relacionadas com distúrbio de sono, maior idade e uso de alimentos não saudáveis como recompensa ou agrado. Ressalta-se o agravamento dessa condição no que diz respeito às morbidades associadas à obesidade, o que pode afetar de maneira relevante a qualidade de vida do indivíduo.
É importante que crianças e adolescentes com deficiências, em especial aquelas que são propensas a riscos nutricionais, sejam acompanhadas por profissionais e estimuladas a participar de atividades físicas e adaptações da dieta.
Bibliografia (s)
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_pessoa_autismo.pdf. Acessado em: 20/10/2016.
Broder-Fingert S, Brazauskas K, Lindgren K, Iannuzzi D, Van Cleave J. Prevalence of overweight and obesity in a large clinical sample of children with autism. Acad Pediatr. 2014; 14(4):408-14.
Carvalho JA, Santos CSS, Carvalho MP, Souza LS. Nutrição e autismo: considerações sobre a alimentação do autista. Revista Científica do ITPAC. 2012; 5(1):1-7.
Gao L, Xi QQ, Wu J, Han Y, Dai W, Su YY. Association between Prenatal Environmental Factors and Child Autism: A Case Control Study in Tianjin, China. Biomed Environ Sci. 2015; 28(9):642-50.
Kawicka A, Regulska-Ilow B. How nutritional status, diet and dietary supplements can affect autism. A review. Rocz Panstw Zakl Hig. 2013; 64(1):1-12.
Kummer A, Barbosa IG, Rodrigues DH, Rocha NP, Rafael MS, Pfeilsticker L, et al. Frequência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes com autismo e transtorno do déficit de atenção/hiperatividade. Rev Paul Pediatr. 2016; 34(1):71-77.
Leal M, Cunha NM, Pavanello U, Ferreira NVR. Terapia nutricional em crianças com transtorno do espectro autista. Cad. da Esc. de Saúde. 2015; 1(13):1-13.
Niederhofer H. Association of attention-deficit/hyperactivity disorder and celiac disease: a brief report. Prim Care Companion CNS Disord. 2011;13(3).