De modo geral, os lipídios devem representar 20 a 35% das calorias da dieta enteral.
A Terapia Nutricional Enteral (TNE) é uma estratégia terapêutica importante para pacientes hospitalizados, com papel na manutenção e recuperação do estado nutricional.
Na composição das dietas enterais, os lipídios se incluem como requisitos fundamentais para suporte calórico, auxílio na absorção de vitaminas, dentre outros benefícios para a saúde dos pacientes.
Para determinar a composição de lipídios das fórmulas enterais, são seguidas as recomendações de órgãos de referências, tais como BRASPEN, ESPEN e ABRAN. A seguir, você irá conhecer as orientações vigentes no que diz respeito à recomendação de lipídios na terapia de nutrição enteral.
Recomendações gerais
A depender do contexto de saúde de cada paciente, a composição lipídica das fórmulas enterais pode variar de 2 a até 45% das calorias totais. Nas fórmulas enterais padrão, a composição de macronutrientes são estabelecidas visando as recomendações para pessoas saudáveis. Sendo assim, o conteúdo de lipídios pode seguir as recomendações de diferentes instituições.
Para a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/OMS), sugere-se o consumo de 15 a 35% de lipídios em relação à ingestão energética total. Além disso, no máximo 10% das calorias diárias devem ser oriundas de ácidos graxos saturados, diminuindo para 6% em caso de doença cardíaca.
Já a American Heart Association (AHA) orienta o consumo lipídico em torno de 25 a 35% do valor energético total (VET), de modo a diminuir os riscos de doenças cardiovasculares. Ainda, sugere-se que menos de 7% do consumo deve advir de gordura saturada, e menos de 1% para gordura trans.
Mais especificamente para a terapia nutricional, os órgãos de destaque recomendam que os lipídios devem representar 20 a 35% do VET da dieta, ou ainda 1 a 2,5 g/kg/dia (orientando não ultrapassar para minimizar complicações metabólicas).
Recomendações de lipídios para condições específicas
Em alguns casos, a fórmula enteral padrão não é condizente com as condições clínicas, nível de estresse metabólico e estado patológico do paciente atendido. Nessas situações, são oferecidas fórmulas enterais especializadas, com composição específica de macronutrientes.
Infelizmente, ainda há uma carência de dados sobre o caráter lipídico recomendado na composição nutricional de dietas enterais, para indivíduos com determinadas patologias. Muitas publicações e diretrizes focam no conteúdo proteico, e as orientações para carboidratos e lipídios não são contempladas.
Ainda assim, na tabela a seguir encontram-se algumas orientações para o oferecimento de lipídios em fórmulas enterais especializadas, para certas condições.
Condição | Recomendações específicas para lipídios em TNE | Diretriz |
Câncer | Uso suplementação com ácidos graxos n-3 de cadeia longa ou óleo de peixe | ESPEN, 2021 |
Diabetes Mellitus | 0,7 a 1,5 g/kg/dia | BRASPEN, 2020 |
Tratamento intensivo | ≤ 1,5 g/kg/dia Uso moderado de ômega-3 | ESPEN, 2019 |
Crianças em TN | 0 a 12 meses: 30 a 31 g/kg/dia Demais idades: 25 a 40% | AMB, 2011 |
Prevenção de doenças cardiovasculares | Lipídios totais: < 30% Gorduras saturadas: ≤ 10% MUFA: 10 a 15% PUFA: < 10% Colesterol: < 300 mg/dia |
Ácidos graxos na nutrição enteral
A composição lipídica das dietas enterais deve conter ácidos graxos (AG) essenciais e não essenciais.
AG não essenciais
Para os ácidos graxos não essenciais, são utilizados AG monoinsaturados, e triglicerídeos de cadeia média (TCM) como fonte de AG saturados.
O uso de TCM ao invés de triglicerídeos de cadeia longa (TCL) justifica-se pelo fato de possuírem menor peso molecular, maior hidrossolubilidade, melhor absorção, biodisponibilidade e digestão, e transporte ao fígado facilitado.
AG essenciais
Em relação aos ácidos graxos poli-insaturados, estes podem ser advindos do ômega-6 ou ômega-3.
Para o ômega-6, a recomendação é que se ofereça 10 a 17 g/dia de ácido linoléico (2 a 4% do VET). Ele auxilia na manutenção da pele e proteção contra feridas e infecções, mas seu excesso pode comprometer a evolução clínica de certos pacientes devido ao aumento da síntese de eicosanóides pró-inflamatórios e intensa peroxidação lipídica.
Já para o ômega-3, sugere-se o oferecimento de 0.9 a 1.6 g/dia de ácido alfa-linolênico (0,25 a 0,5% do VET). Seus benefícios são diversos, incluindo alívio de dor, redução nos níveis de triglicerídeos, diminuição da pressão sanguínea em hipertensos, prevenção de enfermidades cardiovasculares, inibição da proliferação de linfócitos e produção de anticorpos.
Leia também:
- Ômegas-3 e 6: qual deve ser a proporção deles na dieta?
- Posicionamento BRASPEN: uso de ômega-3 via parenteral
Fontes lipídicas
Para o fornecimento de lipídios nas dietas enterais, uma variedade de óleos podem ser utilizados, sendo eles:
- AG monoinsaturados: óleo de oliva e canola;
- TCM: emulsões contendo triglicerídeos de cadeia média;
- Ômega-6: óleos de soja, açafrão, milho e girassol;
- Ômega-3: óleo de peixe.
Se você gostou deste conteúdo, veja também:
- Indicação e vias de acesso da nutrição enteral
- Protocolos no manejo da Nutrição Enteral
- Cuidados com sonda nasoenteral: como lidar com a obstrução?
Referências
BOLOGNESE, Marciele Alves et al. Nutrição enteral com ênfase na composição lipídica: uma revisão. Research, Society and Development, v. 10, n. 15, p. e506101523178-e506101523178, 2021.
CARDOSO, Maria Gabriela Castro; PRATES, Sarah Morais Senna; ANASTÁCIO, Lucilene Rezende. Fórmulas para nutrição enteral padrão e modificada disponíveis no Brasil: Levantamento e classificação. Braspen Journal, 2018.
COPPINI, L. Z. et al. Recomendações Nutricionais para adultos em terapia nutricional enteral e parenteral. Projeto Diretrizes. Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, Sociedade Brasileira de Clínica Médica e Associação Brasileira de Nutrologia. São Paulo, 2011.
DIAS, Débora Borges; ALVES, Thaisy Cristina Honorato Santos. Avaliação do perfil lipídico de fórmulas enterais utilizadas em um hospital filantrópico de Salvador-BA. Revista da Associação Brasileira de Nutrição – RASBRAN, v. 10, n. 1, p. 22-30, 2019.
Bibliografia (s)
American Society for Parenteral and Enteral Nutrition. The A.S.P.E.N. Nutrition support core curriculum: a case-based approach—the adult patient. 2007. ISBN # 1-889622-08-7.
American Heart Association Nutrition Committee, et al. Diet and lifestyle recommendations revision 2006: a scientific statement from the American Heart Association Nutrition Committee. Circulation. 2006;114(1):82-96.
Torrinhas RSMM, Campos LN, Waitzberg DL. Gorduras In: Waitzberg DL. Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica. São Paulo: Atheneu. 2009. p 121-47.