Maio roxo: tire suas dúvidas sobre doenças inflamatórias intestinais

Postado em 25 de maio de 2019 | Autor: Colunistas Convidados

Maria Izabel Lamounier

Maria Izabel Lamounier de Vasconcelos* é nutricionista

A campanha Maio Roxo acende o alerta sobre as doenças inflamatórias intestinais (DII). O foco da iniciativa é aumentar a conscientização sobre esses males, e por isso, vamos falar sobre a relação deles com a alimentação. Vale saber que não há evidências de que a dieta possa causar ou contribuir para o desenvolvimento das DII. Uma vez que essas doenças tenham desenvolvido, a atenção quanto ao que se come pode apenas reduzir os sintomas e promover a recuperação.

Confira agora as perguntas mais comuns sobre as DII e sua relação com a alimentação, e aproveite o Maio Roxo para se informar melhor sobre essas doenças, seu diagnóstico e tratamento.

DII em alerta no Maio Roxo

Existe uma dieta especial para a doença de Crohn e a colite ulcerativa?

Não. A maioria dos pacientes tolera bem todos os tipos de alimentos e não requer restrições no cardápio. Mas alguns deles apresentam cólicas e diarreia quando consomem produtos lácteos. Em nutrição, geralmente é aceito que a manutenção de uma boa alimentação é mais importante do que consumir ou evitar qualquer ingrediente específico.

Ocasionalmente, os indivíduos com doença de Crohn têm um estreitamento do intestino delgado, especialmente em sua parte final, chamada íleo. Nessa situação, uma dieta com baixo teor de fibras (baixo resíduo) ou uma dieta líquida pastosa pode ser benéfica para minimizar a dor abdominal e outros sintomas que podem aparecer e incomodar bastante. Frequentemente, essas mudanças na dieta são temporárias até que a inflamação causadora do estreitamento responda ao tratamento.

Veja também: 6 alimentos proibidos na dieta durante a fase ativa da doença de Crohn

O que é uma dieta com baixo teor de fibras?

Trata-se de uma alimentação que reduz o consumo de alimentos que acrescentam resíduos às fezes, como é o caso de frutas, vegetais, sementes, farelos e todos os grãos. Sucos de frutas sem a polpa, por exemplo, não têm fibras. Um nutricionista pode ajudar o paciente no planejamento de uma dieta com baixo teor de fibras, quando necessário.

O leite deve ser evitado?

Algumas pessoas não conseguem digerir adequadamente a lactose (que é o açúcar presente no leite e em muitos produtos derivados), tendo elas uma DII ou não. Isso pode acontecer pela falta da enzima digestiva, chamada lactase, presente na superfície da parede intestinal. Assim, a precária digestão da lactose pode levar a cólicas, dor abdominal, gases, diarreia e “inchaço” na barriga.

Devido os sintomas da intolerância à lactose serem muito similares aos sintomas das DII, reconhecer a primeira pode ser bastante difícil. Um simples teste, chamado “teste de tolerância da lactose”, pode ser realizado para identificar o problema. Se o resultado for positivo, a ingestão de leite pode ser limitada. Alternativamente, enzimas de lactase podem ser acrescentadas aos produtos lácteos para que estes não causem os sintomas indesejáveis. Seu médico e seu nutricionista poderão auxiliá-lo quanto a isso.

É necessário manter a ingestão de pelo menos alguns produtos lácteos diariamente, porque eles são considerados alimentos nutritivos e em particular boas fontes de cálcio (prevenindo o aparecimento da osteoporose) e proteína.

Algum alimento específico piora a inflamação na DII?

Não. Enquanto certos alimentos, em alguns indivíduos, podem agravar os sintomas dessas doenças, não existe evidência de que a inflamação do intestino será diretamente afetada pelo consumo. Nem mesmo um alimento contaminado, que pode provocar intoxicação alimentar ou disenteria, irá agravar a DII.

Quem tem DII absorve os alimentos normalmente?

Muito frequentemente sim. Pacientes com inflamação só no intestino grosso absorvem os alimentos normalmente. Já quem tem a doença de Crohn pode ter problemas com digestão se a sua doença envolve mais o intestino delgado.

O quanto a digestão será prejudicada dependerá do quanto o intestino delgado está comprometido com a doença e se alguma parte foi removida durante a cirurgia. Se somente a última porção ou duas do íleo estiver inflamada, a absorção de todos os nutrientes, exceto da vitamina B12 estará provavelmente normal.

Se mais que duas ou três partes do íleo estiverem doentes, má absorção de gordura, significante, pode ocorrer. Se a parte superior do intestino delgado estiver também inflamada, o grau de má absorção na doença de Crohn será possivelmente muito pior e as deficiências de muitos nutrientes, minerais e vitaminas são plausíveis.

Alguma suplementação vitamínica deverá ser feita?

A vitamina B12 é absorvida no íleo, a parte final do intestino delgado. Portanto, pessoas com ileíte, ou seja, inflamação nesse local, podem requerer injeções de vitamina B12 porque não conseguem absorvê-la adequadamente da dieta.

Indivíduos que são submetidos a uma dieta com baixo teor de fibras também podem estar recebendo uma suplementação inadequada de certas vitaminas comumente encontradas nas frutas, tais como a vitamina C.

Com o estado crônico das DII, é conveniente para muitas pessoas a ingestão de preparados multivitamínicos regularmente. Em pacientes com má digestão ou que foram submetidos à cirurgia intestinal, outras vitaminas, particularmente a vitamina D, pode se fazer necessário. A suplementação da vitamina D deve ser feita somente sob orientação do médico.

Existe a recomendação de minerais específicos?

Na maioria dos pacientes com DII, não há perda de minerais. Entretanto, em pacientes com doença extensa no intestino delgado ou aqueles que tiveram boa parte do seu intestino removido cirurgicamente, o cálcio, o fósforo e o magnésio podem ser necessários à suplementação.

A terapia com ferro é importante em casos de correção da anemia. Mas, atenção: o suplemento de ferro por via oral deixa as fezes pretas, o que pode muitas vezes simular o sangramento intestinal.

 

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*Maria Izabel Lamounier de Vasconcelos é nutricionista, coordenadora dos cursos GANEP de Especialização, mestre em Nutrição Experimental pela USP e especialista em Nutrição Clínica, Nutrição Parenteral e Enteral pela SBNPE.

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