O principal tratamento para pacientes com câncer gástrico é a intervenção cirúrgica, sendo normalmente uma situação acompanhada de grande resposta catabólica, com depleção de nutrientes essenciais e desregulação da resposta imune. Tal fato pode comprometer a recuperação e aumentar o risco de complicações no período perioperatório. O período perioperatório compreende alguns dias antes e depois da cirurgia e alguns autores indicam a utilização de dieta imunomoduladora, contendo doses mais altas de arginina, óleo de peixe (ácidos graxos ômega-3), nucleotídeos e glutamina, com o objetivo de melhorar o estado nutricional e modular o sistema imunológico e a resposta inflamatória ao estresse.
Recente metanálise de Adimah e colaboradores avaliaram 16 estudos, totalizando 1387 pacientes, com câncer gástrico e que receberam suplementação de fórmula imunomoduldora ou fórmula isocalória e isoproteica no período perioperatório. A fórmula imunomoduladora continha ômega-3, arginina e nutricleotídeos e, apesar da variabilidade entre os estudos, em média os pacientes receberam de 750-1000mL de suplementação por dia, durante 5 a 7 dias no período pré-operatório. O grupo observou que, ao comprar os pacientes que receberam a a fórmula imunomoduladora com os pacientes que receberam fórmula padrão ou não foram suplementados, o grupo intervenção reduziu significativamente a ocorrência de complicações infecciosas (18,6% no grupo imunomodulação contra 29,3% no grupo sem intervenção, p<0,0001). No entanto, não houve diferença significativa para outras variáveis, como tempo de permanência hospitalar, complicações não –infecciosas e mortalidade.
Vale ressaltar que o uso de fórmulas imunomoduladoras em cirurgia ainda é bastante discutido na literatura. A diretriz da ESPEN recomenda a suplementação de imunonutrição para pacientes desnutridos submetidos a grandes cirurgias de câncer no período perioperatório, mas aborda que faltam evidências mais claras que justifiquem a utilização das formulas imunomoduladoras apenas no pré-operatório, ou de ômega-3, arginina e glutamina de forma isolada. A diretriz ACERTO também recomenda sua utilização em pacientes de maior risco e submetidos a cirurgias de grande porte, tanto através de suplementos orais como por via enteral. No entanto, é importante considerar um tempo mínimo de suplementação de 5 a 7 dias de suplementação antes da cirurgia para que resultados positivos no pós-operatório sejam observados. A diretriz ACERTO também discutiu metanálise que pontuou que administrar dietas enriquecidas com imunonutrientes é mais benéfico durante todo o período perioperatório (pré e pós-operatório) ou só no pós-operatório do que apenas no pré-operatório.