A desnutrição piora a qualidade de vida relacionada a saúde e o prognóstico em pacientes com câncer avançado. Dessa maneira, Bouleuc e colaboradores realizaram estudo avaliou os benefícios clínicos da nutrição parenteral em comparação a alimentação oral em pacientes com caquexia por câncer avançado sem prejuízo gastrointestinal. Para isso foi realizado um estudo randomizado, controlado, prospectivo, multicêntrico, em pacientes desnutridos, com expectativa de vida entre 2 e 12 meses, com TGI funcionante sem sintomas de carcinomatose peritoneal ou obstrução intestinal e com cateter central. Os pacientes foram randomizados em grupo dieta oral, no qual ingeriam dieta oral conforme vontade ou grupo dieta parenteral, que receberiam nutrição parenteral dependendo da ingestão via oral que apresentavam, sendo no mínimo 1000 kcal e 6g de nitrogênio ou até atingir 30-35kcal/kg e 1,2-1,5g de ptn/kg.
Fizeram parte do estudo 111 pacientes com câncer, sendo 48 no grupo NP e 60 no grupo VO. A idade média deles foi 67 anos sendo 55% mulheres e o câncer digestivo foi o tipo mais comum (28,8%). A perda de peso média foi de 8,2kg nos últimos 6 meses, 73% apresentaram albumina baixa e a média de ingestão calórica era 40% das necessidades. Não houve diferença entre os grupos NP ou VO nos resultados do questionário de qualidade de vida (HR 1,31; p=0,18), funcionalidade física (HR 1,58; p=0,024) e fadiga (HR 1,19; p=0,393). A análise post hoc, excluindo dados além de 6 meses de acompanhamento, mostrou um aumento estatisticamente significativo na sobrevida livre de piora para funcionamento físico, com mediana de 2,23 meses no grupo VO versus 1,05 meses para o grupo NP (HR, 2,03; p = 0,0008). Também houve um aumento estatisticamente significante da sobrevida livre de piora para dimensão da dor (HR, 1,79; p = 0,004) no grupo VO versus grupo NP e uma tendência a favor da VO. Não houve diferença estatística na sobrevida por grupos, com uma média de 3 meses para o grupo VO e 2 meses para o grupo NP (p=0,14). Os eventos adversos foram maiores no grupo NP que no VO (7 versus 1 paciente) e os principais eventos adversos foram infecção de cateter (5), infecção (1) e edema agudo de pulmão (1).
Assim, os autores concluíram que a nutrição parenteral não melhorou nem qualidade de vida e sobrevida de pacientes com câncer avançado e caquexia relacionada ao câncer, além de causar mais efeitos adversos em comparação a via oral. Este estudo apoia a recomendação de não prescrição de nutrição parenteral para pacientes com câncer avançado com expectativa de vida menor que 3 meses e trato GI funcionante.