O congresso híbrido GUT MICROBIOTA FOR HEALTH 2022 aconteceu de 12 a 13 de março em Washington DC nos EUA e apresentou os avanços na área de microbioma e microbiota intestinal (MI) em diversos aspectos e com diferentes abordagens experimentais e clínicas. De um modo geral, houve maior integração entre dados do metagenoma bacteriano com a genética e metabolômica do hospedeiro assim como com aspectos clínicos. Destaco, a seguir de forma não exaustiva algumas das apresentações que me pareceram as de maior interesse para nossos leitores do Nutritotal Pro.
O pesquisador Dan Knights, Universidade de Minnesota – EUA, abordou a relação entre MI, dieta e geografia. Apontou que Vangay e col., já em 2018, observaram redução da diversidade filogenética da MI, ao se comparar indivíduos vivendo na Tailândia em comparação com a primeira geração emigrante nos EUA e mais ainda com a segunda geração que, muito se assemelhou ao grupo controle americano. Isto aconteceu aparentemente independente do IMC dos indivíduos. Johnson e col., em 2019, ao analisar esta mesma população verificaram que a composição da MI não se modificou ao longo de 34 dias, embora houvesse importante variação de ingestão dietética no que diz respeito aos grupos alimentares. Por outro lado, os mesmos autores observaram que a variação da MI não se explica pelo conteúdo de nutrientes disposto nos rótulos nutricionais dos alimentos consumidos e sim pela ingestão de grupos alimentares, de modo que muitas das associações são personalizadas. Ainda, Johnson e col. propuseram que a dieta, em média, pode explicar em até 4% a variação da MI entre as distintas pessoas e até em 6% a variação da MI diária em uma determinada pessoa. É possível que a industrialização alimentar intensa esteja, de alguma forma, associada com a perda de micróbios ancestrais e eventualmente relacionada com muitas doenças.
A seguir, a Dra. Rachel Carmody, Harvard -EUA, mostrou que a forma de preparo dos alimentos tem relação com a composição do MI. Por meio de elegantes estudos experimentais e clínicos, ela revelou que o cozimento de tubérculos em particular, aumentou sua digestibilidade, e reduziu a presença de compostos xenobióticos, incluindo aqueles compostos relativos à defesa dos vegetais. O mesmo se aplicou para milho, ervilhas, cenoura e beterraba, que ingeridas cruas modificaram a composição do MI e a sua metabolômica. Com a ingestão de uma dieta crugívora menos energia é ganha pelo hospedeiro, mais nutrientes estão disponíveis para fermentação e existe modificação da estrutura e função do MI.
O Dr. Gary Wu, Universidade da Pensilvânia – EUA, para melhor elucidar a importância do consumo de fibras dietéticas na composição e metabolômica da MI, mostrou os resultados de um estudo publicado em 2021 por Tanes e colaboradores. Grupos de voluntários se alimentaram de dieta vegana, omnívora e uma dieta enteral elementar. A microbiota intestinal assim como as hidrolases de glicosídeos se modificou dramaticamente no grupo alimentado com dieta elementar em relação aos demais. Em adição, a dieta elementar reduz a produção bacteriana de ácido iloepropiônico pela MI e se associa a maior abundancia de Firmicutes.
O palestrante Nicola Segata, Universidade de Trento – Itália, aprofundou o tema, ao indicar que níveis de Blastocistis e Prevotella copri estão elevados na MI em condições de saúde. A seguir discutiu que a maior abundancia de P. Copri pode se explicar por serem, no mínimo 4 espécies diferentes. Ele ainda mostrou melhor caracterização da MI baseada no tempo de trânsito intestinal observado, por uma nova técnica, com a ingestão de um composto azul, que cora as fezes. Para finalizar ele apontou que algoritmos baseados em aprendizado de máquina podem predizer como cada pessoa vai responder a determinados alimentos, o que abre caminho para uma verdadeira recomendação dietética personalizada individual.
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Professor Associado do Departamento de Gastroenterologia da FMUSP, Mestre, Doutor e Livre-Docente pela Universidade de São Paulo, USP, Especialista em Terapia Nutricional Enteral e Parenteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral – BRASPEN, Diretor do GANEP Nutrição Humana