Sabe-se que o câncer é uma das doenças crônicas (DCNT) mais prevalente no mundo, acometendo milhares de pessoas anualmente. No câncer, devido à própria etiologia da doença e o tratamento indicado, o estado nutricional do paciente tem relação direta com o seu prognóstico, devido à presença constante de desnutrição nesses indivíduos.
Em decorrência dessa alta prevalência, a nutrição é um dos fatores associados ao tratamento oncológico em que melhor contribuiu com desfechos clínicos positivos, tornado a terapia nutricional primordial.
A desnutrição nesta população ainda é, por vezes, negligenciada na prática clínica, com isso, se faz necessários diretrizes clínicas que tragam orientações a cerca dos cuidados nutricionais nesses pacientes.
A ESPEN (Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo) publicou recentemente a diretriz prática sobre nutrição clínica no câncer, trazendo 43 recomendações baseadas em diretriz anteriores, sobre a triagem nutricional e orientações nutricionais, voltada a todos profissionais atuantes da área.
Apoio nutricional no câncer
Abaixo podemos conferir as principias orientações abordadas na diretriz:
Triagem nutricional e avaliação
Para detectar precocemente distúrbios nutricionais em sua forma inicial, é fortemente recomendado que devam ser monitoradas regularmente quaisquer mudanças de peso e IMC, além da ingestão alimentar desde o diagnóstico do câncer.
Para pacientes com risco nutricional identificado, a diretriz recomenda a utilização da avaliação objetiva e quantitativa de ingestão nutricional, de sintomas de impacto nutricional, massa muscular, desempenho físico e o grau de inflamação sistêmica.
Recomendações nutricionais
Uma dieta pobre nutricionalmente pode levar à desnutrição crônica, desta forma, promover a recuperação do estado nutricional, através da oferta de uma dieta adequada é essencial para minimizar riscos. A diretriz traz as seguintes recomendações:
- Energia: 25 e 30 kcal/kg/dia;
- Proteína: Ingestão superior a 1 g/kg/dia e, se possível, até 1,5 g/kg/dia;
- Micronutrientes: Para o fornecimento de vitaminas e minerais a diretriz recomenda a ingestão de doses diárias já estabelecidas para pacientes saudáveis, desencorajando o uso de megadoses na ausência de deficiência.
Além disso, é orientado o uso de equações de predição padronizadas para estimativa do gasto energético, e em situações de aumento de catabolismo com resistência à insulina é recomendada aumentar a ingestão de gordura para fornecimento de energia em substituição ao carboidrato, com o intuído de reduzir a carga glicêmica e melhorar a densidade energética.
Intervenções nutricionais
Segundo a diretriz a via preferencial deve ser a oral, acompanhada de aconselhamentos dietéticos a fim de aumentar a densidade calórica da refeição oferecida e o uso de suplementos alimentares como completo a dieta usual.
Já no caso da impossibilidade ou ingestão inadequada via oral, é recomendado o uso de terapia nutricional enteral ou parenteral para garantir o adequado aporte nutricional.
Nos casos de ingestão oral prejudicada por longos períodos, é se orientado a administração e evolução gradual da terapia nutricional, a fim de minimizar o risco para síndrome de realimentação, recomendado à inclusão a fórmula e controle das seguintes vitaminas e minerais:
- Vitamina B1: 200–300mg;
- Potássio: 24 mmol/kg dia;
- Fosfato: 0,3–0,6 mmol/kg/dia;
- Magnésio: 0,2 mmol /kg/dia se administrado por via intravenosa ou 0,4 mmol/kg/dia se administrado por via oral.
Além disso, pacientes com má absorção incontroláveis e ingestão insuficiente o uso de Nutrição Enteral ou NP Nutrição Parenteral domiciliar é recomendado.
Demais recomendações
Além de orientações nutricionais, a diretriz conta com recomendações a cerca da prática de exercício, ingestão de farmaconutrientes e fármacos, além de orientações para diferentes opções de tratamento oncológico.
Veja também: I Consenso Brasileiro de Nutrição Oncológica