Seguindo as recomendações atuais, as terapias de nutrição enteral e parenteral em pediatria devem ser iniciadas seguindo as mesmas condições de recomendações do adulto. No entanto, as diretrizes atuais ressaltam que pacientes pediátricos podem precisar de terapia nutricional especializada e apresentam algumas particularidades, principalmente nos casos de obesidade, falência intestinal associada à doença hepática, paciente crítico, em neonatos, casos de enterocolite necrotizante e doença óssea metabólica. Confira algumas das principais orientações:
– Obesidade: atenção deve ser dada para o que a terapia nutricional evite complicações, a desnutrição por falta de energia e/ou proteínas ou a superalimentação, que causa hiperglicemia e/ou síndrome da realimentação. As diretrizes ressaltam, também, as atuais ferramentas de triagem que apresentam bons resultados quando aplicadas em adolescentes, mas possuem baixo valor prognóstico para crianças menores de 13 anos e não são indicadas para crianças menores de dois anos. Para esses pacientes, é importante monitorar perfil lipídico, glicose, fósforo, hemograma completo e a melhor forma de determinar as necessidades energéticas é através do uso de fórmulas preditivas.
– Falência intestinal associada à doença hepática: esta é uma condição associada a uso prolongado de nutrição parenteral. Então, recomenda-se atenção a manipulação de cateter para prevenção de infecção, uso de emulsão lipídica com menor quantidade de óleo de soja e maior aporte de ômega-3 para reduzir o risco de doença hepática, além de se indicar a reabilitação intestinal utilizando estratégias multiprofissionais.
– Pacientes críticos pediátricos: ressalta-se que a avaliação nutricional deve ser realizada em até 48h da admissão do paciente e pelo menos semanalmente durante a hospitalização. Deve-se seguir a classificação do estado nutricional proposta pela OMS, através de escore z para IMC e peso para idade. As necessidades energéticas devem ser determinadas, preferencialmente, por calorimetria indireta, pela equação de Schofield ou pelas fórmulas preditivas propostas, também, pela OMS – não são recomendadas as equações de Harris-Benedict e RDA. A oferta proteica deve ser de, no mínimo, 1,5 g/kg/dia, com o objetivo de promover um balanço nitrogenado positivo. A terapia nutricional deve ser iniciada em 24-48h de admissão na UTI, sendo que pelo menos dois terços da meta devem ser atingidos em até uma semana.
– Neonatos com risco de enterocolite necrotizante: as diretrizes, como estratégias para minimizar o risco de enterocolite necrotizante, recomendam o uso de nutrição enteral precoce, a ≤20 mL/kg/dia nos primeiros dois dias, com um posterior aumento até 30mL/kg/dia para bebês com mais de 1,0kg; recomenda-se, também, a utilização de leite materno em substituição a fórmulas enterais. Ainda não são claros os resultados da utilização de probióticos, glutamina, arginina e ácidos graxos ômega-3, por isso, as diretrizes atuais não apoiam a sua utilização.
– Neonatos com risco de doença metabólica óssea: os neonatos com maior risco são aqueles prematuros, já que a mineralização óssea acontece principalmente no último trimestre da gestação. Nesse sentido, o status de vitamina D, cálcio e fósforo materno são importantes na determinação da saúde óssea do bebê. O aleitamento materno pode acontecer sempre que possível, porém a indícios que justificam a suplementação desse nutrientes, bem como a utilização de fórmulas enriquecidas. Maior atenção deve ser dada quando há a utilização de nutrição parenteral, uma vez que seus componentes e natureza podem aumentar o risco para doença metabólica óssea, assim, o acréscimo de cálcio e fósforo nas formulações também é indicado.
Essas são apenas algumas situações. Porém, há muitos desafios que cercam a oferta de NE e NP para pacientes pediátricos. É importante seguir as diretrizes específicas e encontrar as melhores estratégias para otimizar a terapia nutricional desses pacientes.