Estudo caracterizou o microbioma do leite materno de 80 lactantes saudáveis em quatro diferentes países (Espanha, Finlandia, Africa do Sul e China) a fim de investigar a potencial influencia geográfica e do tipo de parto nesta composição, e explorar a fração fúngica.
Foram coletadas amostras de leite materno, e dados como idade, peso e IMC pré gestacional. O microbioma foi avaliado por extração de DNA e sequenciamento por Illumina da região ITS1 e sequenciamento genético a partir da técnica 16S rRNA.
A idade materna média foi de 33,52 anos e o IMC pré gestacional médio foi de 24kg/m². Das 20 amostras coletadas em cada país, foram detectados níveis de fungos em 16 amostras espanholas, 14 africanas, 9 chinesas e 7 finlandesas, sem diferença quantitativa entre os países e entre os tipos de parto. Foram identificados dois filos fúngicos dominantes: Basidiomycota (58.65%) e Ascomycota (41.03%), sendo que as mulheres africanas apresentaram valores maiores de Ascomycota e menores de Basidiomycota que mulheres de outros países (p<0,05). A análise em nível de gênero mostrou dominância de Malassezia (40.6%) e Davidiella (9.0%), independentemente do local ou tipo de parto.
De maneira geral, a localização geográfica (p=0,005) e tipo de parto (p=0,023) influenciaram a composição de fungos do leite materno. Com relação ao tipo de parto, a concentração de Cryptococcus foi significativamente maior em amostras de leite de mulheres que tiveram parto normal, em comparação com aquelas que tiveram parto cesárea (p = 0,028). Foi observada maior concentração de Candida smithsonii nas chinesas que tiveram parto normal; Sistotrema sp. em espanholas que tiveram parto cesárea; Ascomycota sp que tiveram parto normal e Malasezzia restricta que tiveram parto cesárea na Finlândia; e Malassezia restricta e Davidiella tassiana nas africanas que tiveram parto cesárea (todos p<0,05).
Bactérias e fungos presentes nas amostras de leite materno mostraram interações complexas intra e interdomínios, com diferentes associações dependendo da localização geográfica e tipo de parto.
Esses resultados apoiam a existência de um microbioma do leite materno, sendo esse influenciado por fatores demográficos e pelo tipo de parto. A presença de células fúngicas sugere uma potencial influência do leite materno no desenvolvimento da micobiota do bebê, mas novos estudos são necessários para avaliar a potencial transferência de fungos do leite materno para o micobiota intestinal infantil.