A abordagem da terapia nutricional no paciente com enterocolite necrosante (EN) tem como objetivo evitar complicações e promover a recuperação nutricional. Trata-se de uma síndrome multifatorial, porém sem etiologia definida, que afeta principalmente o trato gastrintestinal de recém-nascidos. Essa síndrome é caracterizada por distensão abdominal, vômitos biliosos (causados pelo refluxo de bile para o estômago) e hematoquezia (eliminação de fezes com sangue), podendo evoluir para necrose intestinal seguida de perfuração, pneumoperitônio (presença de ar na cavidade abdominal), peritonite e choque.
São reconhecidos alguns fatores que possuem maior risco para o desenvolvimento da doença, como prematuridade, o uso prematuro de fórmulas infantis e dieta enteral, desidratação grave, tipo de colonização bacteriana intestinal, sepse, choque, entre outros. Praticamente todo o segmento intestinal pode ser afetado, no entanto, sabe-se que o íleo terminal e o colo ascendente são os locais mais frequentes de acometimento dessa síndrome.
O estado nutricional do paciente com EN é prejudicado devido à menor reserva de substratos para as necessidades metabólicas. Isso gera uma perda da manutenção de funções gastrintestinais que ainda são imaturas (digestão, motilidade, mecanismos de defesa, circulação vascular/microvascular e integridade da mucosa), deteriorando ainda mais o estado nutricional e o metabolismo.
Segundo a diretriz brasileira de Terapia Nutricional na Prevenção e no Tratamento da Enterocolite Necrosante da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE) e Associação Brasileira de Nutrologia, a prática de evitar a terapia nutricional enteral (TNE) é frequente nos recém-nascidos com EN ou nos pré-termos com alta probabilidade de desenvolvê-la. De acordo com a diretriz, em ambas as situações, não há consenso do momento ideal de introdução de TNE. Entretanto, estudos têm demonstrado que a introdução de TNE mínima precoce pode ser útil na prevenção da doença.
A diretriz da Sociedade Americana de Nutrição Parenteral e Enteral (ASPEN, 2012) sugere que a nutrição enteral mínima deve ser iniciada dentro dos primeiros dois dias de vida e avançar por 30 mL/kg/d em crianças ≥ 1000 g. Essa sociedade ressalta também que se deve dar atenção especial à velocidade de administração e osmolaridade da dieta enteral. Além disso, é sugerido o uso exclusivo de leite materno ao invés de produtos à base de leite de vaca ou fórmulas infantis em recém-nascidos com risco de EN.
A terapia nutricional parenteral é frequentemente utilizada no tratamento de pacientes com EN com o objetivo de evitar a desnutrição adicional em recém-nascidos pré-termo. Essa terapia é indicada para reduzir as perdas nitrogenadas e evitar a deficiência de micronutrientes, incluindo os ácidos graxos essenciais, e deve ser iniciada precocemente (nas primeiras 48 horas de vida), pois estudos têm demonstrado que pode ser reduzido o tempo de internação e a incidência de complicações infecciosas.
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