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Qual a importância da abreviação do jejum pré operatório e como deve ser feito com segurança ao paciente?

O objetivo do jejum pré-operatório é minimizar o conteúdo de alimentos sólidos e líquidos do estômago a fim de diminuir o risco e o grau de regurgitação do conteúdo gástrico, prevenindo a aspiração pulmonar e suas consequências.
No entanto, a preocupação em reduzir o risco de aspiração pulmonar durante muitos anos levou ao extremo em que, na maioria das vezes, os pacientes permaneciam em jejum prolongado de 12 até 18 horas, ou mais. Esta conduta tem sido questionada nas últimas décadas. Assim, a antiga orientação “Nada por boca após meia-noite” está sendo substituída por períodos menores de jejum pré-operatório. Estudos recentes indicam que o uso de uma solução líquida enriquecida com carboidrato promove maior satisfação, menor irritabilidade, menor número de vômitos, aumento do ph gástrico e especialmente uma menor resposta orgânica ao estresse cirúrgico.
A Sociedade Americana de Anestesiologistas desenvolveu diretrizes para o jejum pré-operatório. Baseado em extensa revisão da literatura, as diretrizes referem-se a pacientes saudáveis, de todas as idades, submetidos a procedimentos eletivos, sem incluir pacientes com maior risco de aspiração. Tais recomendações podem ser adotadas, modificadas ou rejeitadas de acordo com as necessidades clínicas individuais e estão sujeitas a revisões periódicas de acordo com a evolução do conhecimento sobre o assunto.
As recomendações são as seguintes:

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Para as gestantes, esta mesma sociedade recomenda que a ingestão moderada de líquidos sem resíduos pode ser permitida para aquelas em trabalho de parto não complicado. Nos casos em que há outro fator de risco associado, como diabetes, obesidade mórbida e via aérea difícil, ou risco elevado para evolução para parto cesariano, deve haver restrição líquida determinada caso a caso. Com relação aos sólidos, propõe-se o período de 8 horas ou mais para cesarianas eletivas.
Dessa maneira, o objetivo principal da abreviação do tempo de jejum é reduzir a resposta inflamatória após o trauma cirúrgico. O jejum prolongado, entre outras consequências, estabelece uma atuação fisiológica diminuída da insulina. Consequentemente, a oferta de glicose aos tecidos fica prejudicada, a mobilização de gordura e proteína é estimulada, levando ao balanço nitrogenado negativo. Este estado metabólico contribui para o aumento das taxas de infecção e mortalidade.
A oferta de nutrientes no pré-operatório (até 2 horas antes da cirurgia), mais especificamente carboidratos, tem sido vista como um dos possíveis fatores benéficos, com potencial de minimizar a resposta orgânica. Estudos recentes mostraram que pacientes que receberam carboidratos, no pré-operatório, tiveram menor resistência hepática à insulina e diminuição das perdas de nitrogênio, do primeiro ao terceiro dia pós-operatório. Além disso, houve melhor controle glicêmico, o que pode ser traduzido em menor risco de complicações relacionadas à hiperglicemia. Por esse motivo, as recomendações atuais propõem o uso de dieta líquida clarificada enriquecida com carboidrato até 2 horas antes da cirurgia. Exceto para paciente obeso mórbido, com refluxo gastroesofágico importante, gastroparesia funcional ou mau esvaziamento gástrico e sub-oclusão ou obstrução intestinal.
O retorno da dieta no pós-operatório tem sido prescrito apenas após a volta do peristaltismo, caracterizada clinicamente pelo aparecimento dos ruídos hidro-aéreos e eliminação de gases. Com isso, o jejum pós-operatório pode ser bastante prolongado. Apesar das necessidades energéticas estarem aumentadas em decorrência do trauma operatório, a oferta de proteínas é zero e o balanço nitrogenado torna-se negativo.
O jejum prolongado no pós-operatório, sem evidência científica, baseia-se no pressuposto de que o repouso intestinal seria importante para garantir a cicatrização de anastomoses digestivas com menor risco. Diversos estudos científicos têm discutido e contrariado esse tipo de conduta. A realimentação precoce após cirurgias envolvendo ressecções e anastomoses intestinais pode ser conduzida sem riscos e com benefícios adicionais de alta mais precoce, menor incidência de complicações infecciosas e diminuição de custos.
Assim, a Sociedade Americana de Nutrição Parenteral e Enteral (ASPEN) recomenda que não há necessidade de esperar a eliminação de gases e ruídos hidro-aéreos para iniciar a dieta, indicando que esta pode ser iniciada em 24-48 horas no pós-operatório.
Acesse os demais conteúdos do curso:
Rompendo Paradigmas em Nutrição Pré e pós-Operatória

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