Em revisão publicada na revista The New England Journal of Medicine os autores afirmam não encontrar evidências científicas que justifiquem a suplementação precoce de glutamina em pacientes críticos, e ainda verificaram que a substituição completa da alimentação oral por enteral no início da doença severa não proporciona benefícios e pode causar malefícios a saúde do paciente. Além disso, verificaram que a utilização precoce de nutrição parenteral ou somente a nutrição parenteral suplementar não aumenta o risco de complicações infecciosas.
Até recentemente, a base de recomendações para a alimentação de pacientes internados em unidade de terapia intensiva (UTI) era de estudos observacionais ou pequenos estudos intervencionistas. Porém, recentemente o campo da nutrição em cuidados intensivos foi reavivado pelos resultados de vários estudos randomizados e controlados, que abriram um novo debate sobre a prática nutricional em UTI.
Com o objetivo de fornecer recomendações para a prática clínica nutricional nessa área, os autores empreenderam uma criteriosa revisão, onde integraram evidências mais recentes com altos níveis de evidências, seguindo alguns critérios de inclusão: atribuição dos grupos de estudo feita de forma cega; tamanho da amostra, grande o suficiente para detectar um efeito do tratamento pré-especificado; delimitação da maneira em que os pacientes foram selecionados e acompanhados; plano de análise estatística com pontos finais definidos e análise de intenção de tratamento com o manuseio adequado de riscos.
A revisão avalia que pacientes críticos internados em UTI geralmente têm anorexia, condição que dificulta a ingestão oral de alimentos por períodos que variam de dias a meses, resultado em baixa ingestão de macronutrientes, o que leva a um déficit de energia que rapidamente pode atingir proporções que contribuem para o catabolismo proteico. Diante desse cenário, os autores explanam e discutem questões e controvérsias clínicas. Os pesquisadores afirmam que as evidências encontradas limitam o número de intervenções nutricionais que podem ser confiavelmente recomendadas no cuidado do paciente crítico.
Em conclusão, os autores recomendam que na prática clínica deve-se iniciar a nutrição enteral hipocalórica na fase aguda da doença em até 7 dias em pacientes sem risco nutricional, fornecer micronutrientes para evitar a síndrome de realimentação, e ainda mencionam que não há evidências atuais que justifiquem a suplementação prévia de glutamina na doença crítica e fazem recomendações sobre tópicos que ainda precisam ser mais elucidados em futuras pesquisas.