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Uso de leite artificial na maternidade influencia percepção materna quanto à amamentação

De acordo com um estudo brasileiro apresentado durante a 21ª Conferência Mundial WONCA de Médicos de Família, no Rio de Janeiro, em novembro de 2016, o uso de fórmulas nas maternidades é um fator que merece atenção especial, pois pode influenciar negativamente a percepção materna quanto à amamentação.

Para investigar como as mães cujos filhos receberam leite artificial na maternidade percebem o aleitamento materno, pesquisadores brasileiros, desenvolveram um estudo qualitativo com entrevista semiestruturada. A investigação avaliou ainda o papel do Programa de Saúde da Família no gerenciamento clínico e na orientação materna nesse contexto.

O estudo incluiu seis mães que foram acompanhadas pelas equipes do Programa de Saúde da Família Machado Fagundes e Carangola, no município de Petrópolis (RJ). A seleção das participantes foi feita a partir de amostra por conveniência, tendo como base dados das unidades básicas de saúde sobre mulheres que foram acompanhadas no pré-natal e que se encontravam dentro do período entre o pós-parto e até seis meses depois.

As entrevistas foram realizadas nas casas das puérperas e duraram, em média, de 30 a 40 minutos. Todas foram gravadas em áudio. Foram feitas seis perguntas bem amplas, que permitiam que as mães contassem as próprias experiências na maternidade e em casa.

Alguns discursos chamaram a atenção. Os autores citaram algumas percepções das mulheres quanto ao fator que motivou o uso do leite artificial na maternidade, por exemplo, parto cesáreo, prematuridade e ausência de força para sugar, bem como incapacidade do leite materno de “sustentar” o recém-nascido.

Outros aspectos de destaque dizem respeito à influência da introdução da fórmula láctea no hospital: Uma das entrevistadas disse que “talvez se não tivessem dado leite artificial na maternidade, teria menos coragem para começar a usá-lo”; outra informou que deu mamadeira “porque não tinha experiência de amamentar de forma correta”. Ela só conseguiu amamentar após receber orientação no posto quanto à pega.

Frente aos resultados, Barbosa e colaboradores entenderam que o uso domiciliar de leite artificial em recém-nascidos foi influenciado pelo uso na maternidade. Além disso, crenças e falsos motivos são apontados como justificativas para a introdução da fórmula láctea. Os autores destacam que há perpetuação da falsa ideia de que o bebê prematuro não tem força para sugar e de que o leite materno é insuficiente para o adequado crescimento do bebê.

“O apoio da equipe de saúde da família se mostrou importante na orientação da maneira mais adequada para amamentação, na descontinuidade do uso de fórmulas lácteas sem indicação verdadeira, e no incentivo ao aleitamento materno”, concluem os autores. “Segundo as recomendações de 2014 da Organização Mundial da Saúde, as fórmulas lácteas são indicadas com base em condições da criança, por exemplo, galactosemia clássica, leucinose, fenilcetonúria, nascidos com menos de 1500 g, nascidos com menos de 32 semanas de idade gestacional e risco de hipoglicemia; ou com base em condições maternas, tais como: infecção por HIV, doença grave (sepse), vírus do herpes simples tipo 1 com lesões em mamas, medicações como iodo, quimioterapia e antiepilépticos, abcesso, mastite, hepatites B e C e uso de drogas”, afirmam.

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