Uma pesquisa conduzida por pesquisadores da Universidade de Pelotas, acompanhou, durante mais 30 anos, 3.500 recém-nascidos e observou que uma criança amamentada por pelo menos um ano obteve aos trinta anos de idade quatro pontos a mais de QI (quociente de inteligência) e acréscimo de R$ 349 na renda média.
As informações sobre o desempenho nos testes de QI e o tempo de amamentação foram obtidas entre 3.493 participantes da amostra inicial de nascidos em Pelotas em 1982. Nos primeiros anos de vida das crianças, os pesquisadores coletaram dados sobre o tempo de amamentação de cada criança. Quando estavam com 30 anos, em média, os participantes realizaram testes de QI (Escala de Inteligência Wechsler para adultos, terceira versão), e as informações sobre grau de escolaridade e nível de renda também foram coletadas.
Os pesquisadores dividiram os participantes em cinco grupos com base na duração do aleitamento quando bebês, fazendo o controle para dez variáveis sociais e biológicas que podem contribuir para o aumento de QI, entre elas: renda familiar ao nascimento, grau de escolaridade dos pais, ancestralidade genômica, tabagismo materno durante a gravidez, idade materna, peso ao nascer e tipo de parto.
Nas análises, as durações do aleitamento materno exclusivo e do aleitamento materno predominante (a amamentação como a principal forma de nutrição com alguns outros alimentos) foram associadas positivamente com o QI, nível de escolaridade e renda. Os participantes que foram amamentados por 12 meses ou mais apresentaram QI mais elevados (diferença de 3.76 pontos, 95% CI 2.20-5.33), mais anos de escolaridade (0.91 anos, 0.42-1.40) e renda mensal mais elevada (341.0 reais, 93.8-588.3), do que aqueles que foram amamentados por menos de 1 mês. Os resultados sugerem ainda que o QI foi responsável por 72% do efeito sobre a renda.
Segundo os autores, um possível mecanismo biológico para este efeito é a presença de ácidos graxos saturados de cadeia longa no leite materno, que são essenciais para o desenvolvimento neurológico.
O estudo, publicado na revista The Lancet, é o primeiro no Brasil a mostrar o impacto do aleitamento no QI e o primeiro internacionalmente a verificar a influência na renda.