Pacientes em hemodiálise (HD) apresentam maior prevalência de desnutrição energético-proteica, decorrente da ingestão alimentar inadequada, por anorexia, perdas nutricionais no tratamento, e pelo próprio processo inflamatório da doença.
Uma das principais consequências da desnutrição energético-proteica é a perda de massa muscular, que impacta diretamente a sobrevida e o risco de hospitalização desses pacientes. Estudos antecessores mostram que a suplementação de BCAA (aminoácidos de cadeia ramificada) junto com a suplementação oral, poderia melhorar o apetite, a ingestão alimentar e consequentemente aumentar a massa muscular magra, desses indivíduos.
E partir disso, um estudo recente fez análise post hoc (potência observada), avaliando o impacto da BCAA no estado nutricional, função física e qualidade de vida em pacientes crônicos em hemodiálise.
A pesquisa, realizada na Suíça, incluiu 27 pacientes em HD e que apresentavam os seguintes parâmetros: albumina plasmática <38 g /L e ingestão dietética <30 kcal/kg/dia e <1 g proteína/kg/dia de acordo com recordatório de 24h. Os participantes receberam suplementação oral de BCAA (7g/dia) ou glicina (7g/dia) 2 vezes ao dia por 4 meses.
Além disso, foram coletadas medidas de peso corporal e composição por absorciometria de raio-X de dupla energia (DXA) e bioimpedância (BIA), gasto energético de repouso pela calorimetria indireta, ingestão alimentar, atividade física e função avaliada pelo pedômetro e dinamômetro manual hidráulico, qualidade de vida e parâmetros sanguíneos a cada período de suplementação.
Foi observado que a suplementação de BCAA não teve influência na massa corporal magra, em comparação com a glicina, que aumentou a massa livre de gordura desses indivíduos. Apesar de BCAA e glicina não influenciarem a massa magra, ambos os grupos apresentaram ganho de força muscular avaliada pelo dinanômetro.
Os pesquisadores concluíram que a suplementação com aminoácidos de cadeia ramificada não teve efeito sobre a massa muscular dos pacientes, mas a suplementação de glicina melhorou significativamente a massa livre de gordura de pacientes em HD. Os pesquisadores destacam, também, que mais pesquisas devem ser realizadas para avaliar os efeitos da suplementação de glicina em longo prazo.
Referência
Genton, L., Teta, D., Pruijm, M., Stoermann, C., Marangon, N., Mareschal, J., Bassi, I., Wurzner-Ghajarzadeh, A., Lazarevic, V., Cynober, L., Cani, P. D., Herrmann, F. R., and Schrenzel, J. (2021) Glycine increases fat-free mass in malnourished haemodialysis patients: a randomized double-blind crossover trial, Journal of Cachexia, Sarcopenia and Muscle.
Nutricionista. Especialista em Nutrição Enteral e Parenteral pela BRASPEN. Especialização em Fitoterapia pela Ganep. Especialização em Nutrição Clínica pelo Centro Universitário São Camilo. Coordenadora de projetos e inovação do Ganep Educação e Nutritotal