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Hábitos alimentares, atividade física, sono e risco de déficit cognitivo. Existe relação?

Revisão de literatura analisou evidencias de associações fortes e confiáveis entre hábitos alimentares, atividade física e sono e o risco de demência e declínio cognitivo, no intuito de auxiliar médicos e trazer respostas para dúvidas apontadas por seus pacientes.

Hábitos alimentares
Mudanças na alimentação podem melhorar fatores de risco cardiovascular, estresse oxidativo e reduzir inflamação. Além disso, estudos demonstraram uma relação entre disbiose microbioma, neuroinflamação e neurodegeneração, sugerindo que a microbiota intestinal pode ser um dos mecanismos através do qual a dieta influenciaria o risco de demência.

Em relação aos tipos de dieta, os achados sobre a Dieta Mediterrânea (DM ainda são inconclusivos). Meta-análise concluiu que alta adesão a DM foi associada a um risco reduzido de demência e prejuízo cognitivo avançado. Em um outro estudo realizado com indivíduos com fatores de risco vascular, a dieta DM melhorou o desempenho cognitivo após 6,5 anos de intervenção, com tendência a uma menor incidência de demência e melhora cognitiva. Em uma outra revisão sistemática com 32 estudos, foi verificado que a maioria dos trabalhos mostra uma associação entre DM e melhora da função cognitiva, redução do risco de prejuízo cognitivo ou decréscimo do risco de demência.

Outros trabalhos avaliaram a dieta DASH e observaram associação desta dieta com melhores resultados nos testes de performance cognitiva e declínio mais lento da função cognitiva. A adoção da dieta DASH também foi associada à melhora da performance de velocidade psicomotora.

Houveram ainda estudos com a dieta MIND (associação entre DM e DASH), que encontraram associação desse padrão alimentar com menor redução cognitiva e menor risco de demência. Um estudo com 923 participantes comparou os efeitos dessas três dietas e o risco de demência. Os indivíduos do terceiro e quarto tercil do escore da dieta MIND apresentaram redução de risco de demência em relação ao menor tercil (redução de 53% e 35%, respectivamente).

Atividade física
A prática de atividade física foi capaz de promover neurogênese hipocampal. Diversos estudos demonstraram associação entre atividade física e risco de demência, tanto em indivíduos sadios quanto em pacientes com déficit cognitivo. Uma revisão sistemática e meta-analise com 21 estudos verificou que indivíduos saudáveis com altos níveis de atividade física apresentaram uma redução de 14% no risco de demência em comparação aos com baixo nível de atividade física. Outra meta-analise com 17 trabalhos encontrou um efeito protetor de altos níveis de atividade física contra redução cognitiva. Entretanto, estudos de intervenção em indivíduos sem alterações cognitivas chegaram a diferentes resultados, não encontrando nenhum efeito da atividade física sobre desfechos cognitivos. Após avaliação de 19 estudos clínicos randomizados controlados, os resultados apoiam o fato da atividade física postergar ou reduzir o declínio da função cognitiva relacionado a idade.

Sono
A falta de sono poderia trazer prejuízos para a função cognitiva através da ativação da resposta inflamatória, mesmo que em níveis baixos, afetando o remodelamento sináptico ou o clearance neurotóxico. Alguns estudos sugerem uma relação entre sono deficitário e deficiência cognitiva, bem como demência. Entretanto, há controvérsia se a disfunção do sono precede a demência, sendo um fator de risco, ou se o problema com o sono é uma sequela do quadro. Estudo demonstrou que a redução da porcentagem do sono REM se associou a uma pior performance em testes cognitivos e aumentou risco de demência. Ainda, uma revisão com 16 estudos encontrou que a maioria dos trabalhos relacionou apneia do sono obstrutiva e cognição, muito provavelmente pela hipóxia intermitente ao cérebro causada por esta alteração. Ao contrário, um grande estudo não encontrou associação entre apneia do sono obstrutiva e prejuízo na cognição a longo prazo.

Dessa forma, os autores concluíram que há fortes evidências observacionais e resultados encorajadores acerca de certos aspectos da nutrição afetando o risco de demência em vida tardia. Da mesma forma, há fortes dados observacionais que pontuam que atividade pode afetar o risco de demência; no entanto, estudos clínicos de atividade física como uma intervenção de curto prazo geraram resultados controversos. Em relação ao sono, há novamente forte observação de dados relacionando disfunção do sono e risco de demência. Apesar destas intrigantes descobertas, ainda não está claro se intervir na disfunção do sono pode afetar o risco de demência a longo prazo.

 

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