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Diretriz ESPEN sobre nutrição e hidratação em demências

nutrição em demências

Fonte: Canva

As demências compõem um grupo de doenças que elevam significativamente o risco de desnutrição e desidratação devido à baixa ingestão alimentar. Portanto, a nutrição em demências, que abrange os cuidados essenciais com a alimentação e a hidratação, desempenha um papel fundamental no tratamento dessas síndromes.

Fonte: Canva

Sabendo disso, a Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo (ESPEN) revisou e atualizou suas diretrizes de 2021 sobre nutrição e hidratação em demência, à luz da atual evidência científica sobre o tema. Ao todo, são 40 recomendações; a seguir, confira os pontos chaves deste novo material.

O que é demência e quais suas consequências nutricionais?

De acordo com os especialistas, a demência é uma síndrome clínica maligna caracterizada por comprometimento cognitivo global, com declínio da memória e pelo menos em um outro domínio cognitivo – como linguagem, visuoespacial ou função executiva. 

Muitas doenças podem causar uma síndrome demencial, tais como Alzheimer, demência por corpos de Lewy, demência cerebrovascular e formas mistas como as causas mais comuns.

As muitas alterações fisiopatológicas da demência afetam a alimentação e a hidratação de diversas formas. Exemplos:

Com estas considerações, uma característica clínica proeminente da demência é a perda de peso, começando antes mesmo do diagnóstico. Conforme a doença progride, a prevalência de desnutrição aumenta.

As consequências graves da alimentação insuficiente aumentam o risco de sarcopenia, fragilidade, morbidade e mortalidade. Além disso, uma vez que muitos nutrientes desempenham um papel importante para a saúde cerebral, deficiências nutricionais podem prejudicar as capacidades cognitivas. 

Portanto, forma-se um ciclo vicioso, ao passo que a nutrição inadequada deteriora o estado nutricional e de hidratação, o que por si só contribui para a aceleração da demência.

Triagem, avaliação e monitoramento nas demências

Pessoas com demência devem ser rotineiramente rastreadas para desnutrição e desidratação com ferramentas validadas. A triagem deve repetir-se em intervalos regulares, como a cada três meses, e mais frequentemente se ocorrerem alterações na saúde geral, capacidade ou comportamento no comer/beber.

Não há ferramentas de triagem específicas para pessoas com demência, mas as ferramentas usadas devem ser validadas e, de preferência, específicas para uma população adulta mais velha. Para risco de desnutrição, geralmente utiliza-se o Mini Nutritional Assessment (MNA) de forma abreviada.

Para a triagem de desidratação, recomenda-se medir ou calcular a osmolalidade sérica, tendo em mente que a osmolalidade normal não descarta outras formas de desidratação.

Além da triagem de desnutrição e desidratação, a triagem para disfagia também pode ser útil, particularmente em estágios avançados da doença.

Uma triagem positiva para estes aspectos deve ser seguida por avaliação sistemática, intervenção individualizada para reduzir o risco e tratar a desnutrição e/ou desidratação, monitoramento e ajuste correspondente das intervenções.

Nesse sentido, o peso corporal deve ser rotineiramente monitorado e documentado, e os hábitos, preferências, habilidades e comportamentos individuais em relação à alimentação e à bebida devem ser avaliados e considerados na medida do possível.

Estratégias para auxiliar a nutrição em demências

Sabendo das muitas dificuldades que o indivíduo com demência pode ter no momento de se alimentar e se hidratar, os profissionais sugeriram algumas estratégias para dar suporte à este momento.

Primeiramente, ressalta-se que as restrições alimentares que podem limitar a ingestão de alimentos e/ou líquidos devem ser evitadas. Por outro lado, os profissionais devem encorajar pessoas com demência a compartilhar suas ocasiões de comer e beber com colegas, familiares e amigos, visando a melhora da qualidade de vida.

Na hora da refeição, os enfermos devem receber suporte e assistência profissional. Tal suporte também pode ser fornecido por familiares, voluntários e ajudantes se houver escassez de profissionais, desde que sejam adequadamente treinados. O uso de utensílios adequados pode apoiar a independência para comer e/ou beber.

Outra estratégia valiosa é aumentar a frequência das refeições, como lanches. Pessoas com demências, desnutrição e desidratação (ou até risco destas condições) devem receber bebidas, lanches adicionais e/ou “finger foods”, facilitando o aporte nutricional. Nesse contexto, o aconselhamento dietético individual, feito por nutricionista, também é importante. 

Para minimizar os efeitos adversos da farmacoterapia no apetite, recomenda-se que profissionais qualificados realizem uma revisão da medicação.

Por fim, estimulantes de apetite não são indicados, incluindo medicamentos, bebidas alcoólicas, produtos à base de ervas e aditivos realçadores de sabor. 

Intervenções nutricionais orais na demência 

Particularmente em relação à alimentação oral, os especialistas ESPEN também fazem algumas recomendações.

Segundo os experts, pessoas com demência e (risco de) desnutrição devem receber alimentos e bebidas fortificados para aumentar a ingestão de energia e proteína.

Para pessoas com demência e sinais de disfagia orofaríngea e/ou problemas de mastigação, alimentos e bebidas fortificados com textura modificada devem ser considerados como uma estratégia compensatória, em paralelo ao tratamento padrão, para dar suporte à ingestão adequada de alimentos e líquidos.

Os suplementos nutricionais orais (SNO) são bem-vindos em pessoas com demência e (risco de) desnutrição, para melhorar a ingestão energética e proteica, e melhorar ou manter o estado nutricional. Entretanto, SNO não devem ser oferecidos rotineiramente para corrigir comprometimento cognitivo ou prevenir declínio cognitivo e funcional adicional.

Outras estratégias que não são recomendadas para corrigir comprometimento cognitivo ou prevenir declínio cognitivo adicional incluem:

Terapia nutricional em demências

A decisão a favor ou contra a terapia nutricional e hidratação para pessoas com demência deve ser tomada individualmente com relação à situação clínica, prognóstico geral e preferências do paciente.

Entretanto, na fase terminal da vida, não se recomenda a nutrição enteral, parenteral ou fluidos parenterais

A nutrição enteral e parenteral podem ser usadas temporariamente em pessoas com demência leve ou moderada, se a ingestão nutricional significativamente baixa for predominantemente causada por uma condição potencialmente reversível. Contudo, não indica-se a terapia nutricional em pacientes com demência grave.

Finalmente, a nutrição parenteral pode ser administrada temporariamente em períodos de ingestão insuficiente para superar uma situação de crise.

Mais recomendações

Além das recomendações individuais, os experts da ESPEN também realizam recomendações a nível institucional, bem como classificam os estágios de disfunção cognitiva e demência com base nos sintomas de memória, orientações, entre outros.

Para ler o material completo, clique aqui.

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Referência:

Volkert, D., Beck, A. M., Faxén-Irving, G., Frühwald, T., Hooper, L., Keller, H., … & Chourdakis, M. (2024). ESPEN guideline on nutrition and hydration in dementia–Update 2024. Clinical Nutrition, 43(6), 1599-1626.

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