Evitar o consumo de ultraprocessados está entre as recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira. Isso porque, esses alimentos, além de serem produzidos através de um modo insustentável para os recursos do planeta, contém uma quantidade excessiva de açúcar, gordura, sal e aditivos alimentares que estão intimamente ligados ao desenvolvimento ou piora de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como diabetes, hipertensão e câncer. Mas e os agrotóxicos?
Agora, outra questão sobre os ultraprocessados, surgiu: esses alimentos podem estar contaminados com agrotóxicos. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estabelece, para produtos in natura, um limite máximo de resíduos (LMR) de agrotóxicos nesses alimentos. No entanto, ainda não existe um LMR para alimentos processados ou ultraprocessados.
O Idec decidiu então, testar 27 produtos alimentícios consumidos pelos brasileiros para verificar a quantidade e o tipo de agrotóxico presente nesses alimentos e comparar com os agrotóxicos e LMRs registrados na Anvisa, a partir do ingrediente predominante em cada produto (soja, trigo, milho ou açúcar). Além disso, a pesquisa buscou detectar agrotóxicos proibidos para as culturas de soja, trigo, milho e cana de açúcar nos alimentos analisados.
Entre os alimentos selecionados estavam refrigerantes, salgadinhos, biscoitos de água e sal, biscoitos recheados, néctares, bebidas de soja, cereais matinais e pães de trigo. Todos foram selecionados com base nas marcas mais vendidas, com maiores teores de açúcar, milho, trigo e soja, que tivessem apelo infantil ou à saúde, e testados no laboratório da Cgcre (Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro), credenciado junto ao MAPA (Ministério da Pecuária e Abastecimento) e utilizado pela Anvisa.
Os resíduos analisados foram de diferentes tipos de agrotóxicos (análise multiresidual) + análise de glifosato (herbicida com potencial carcinogênico), glufosinato (herbicida relacionado nas pesquisas com ratos com má formação embrionária e problemas no sistema nervoso central), diquat e paraquate (o paraquate é o mais tóxico, apontado como importante causador de morte por administração acidental ou intencional, podendo levar à falência do coração, rins e fígado).
Não há convicção científica sobre a eliminação ou redução dos agrotóxicos nos alimentos que sofrem processamento. Mas, considerando os achados da pesquisa, essa teoria pode ser refutada, pois foram encontrados glifosato e glufosinato em 14 produtos e todos os alimentos que tinham trigo na composição, tinham resíduos de agrotóxicos. Entretanto, nenhum deles apresentou resíduos de diquat e paraquate, e todos os agrotóxicos encontrados estavam dentro dos limites máximos estabelecidos pela Anvisa.
Por fim, vale ressaltar que a conscientização e conhecimento popular são primordiais para que possamos cobrar das autoridades responsáveis atitudes coerentes a favor da nossa saúde e a do nosso planeta.
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