Pesquisadores norte-americanos publicaram na revista científica Journal of the American Medical Association (JAMA) um estudo em pacientes com lesão pulmonar aguda que comparou a nutrição enteral (NE) com baixo volume (denominada “trófica”) com a dieta enteral plena (considera o volume total da dieta de acordo com as necessidades nutricionais individuais). Os pesquisadores verificaram que a estratégia da nutrição enteral trófica não diminuiu o tempo de ventilação mecânica, bem como os índices de mortalidade e complicações infecciosas, mas foi associada com melhor tolerância gastrintestinal.
Trata-se de um estudo randomizado, multicêntrico, que foi realizado durante três anos. Nesse período foram selecionados 1.000 adultos com lesão pulmonar aguda, em ventilação mecânica e com indicação clínica de nutrição enteral.
Os pacientes receberam durante os seis primeiros dias de início da NE as seguintes dietas: grupo nutrição enteral plena (n=492) recebeu de 25 a 30 kcal/kg de peso por dia de calorias não proteicas e 1,2 a 1,6 g/kg de peso por dia de proteína, com volume inicial de 25 mL/h, avançando conforme a tolerância do paciente até atingir as necessidades nutricionais calculadas; e o grupo nutrição enteral trófica (n=508) iniciou o tratamento com volume de 10 mL/h (correspondendo a 10-20 kcal/h). Após o sexto dia de tratamento, todos os pacientes passaram a receber a nutrição enteral plena.
Assim, o grupo nutrição enteral plena recebeu mais calorias durante os primeiros seis dias: cerca de 1300 kcal/dia comparado com 400 kcal/dia (p<0,001). Os pacientes que receberam nutrição enteral trófica não aumentaram o número de dias livre de ventilação mecânica (14,9 [IC 95%, 13,9-15,8] versus 15,0 [IC 95%, 14,1-15,9]; p=0,89) e não reduziram a mortalidade no período estudado (23,2% vs 22,2%; p=0,77) em comparação com a nutrição enteral plena. Não houve diferenças na incidência de complicações infecciosas entre os grupos.
Apesar de receber mais agentes pró-cinéticos, o grupo nutrição enteral plena apresentou mais episódios de vômitos (2,2% vs 1,7%; p=0,05), volumes gástricos residuais elevados (4,9% vs 2,2%; p<0,001) e constipação (3,1% vs 2,1%, p=0,003). Os valores médios de glicose plasmática e administração de insulina foram maiores no grupo nutrição enteral plena durante os seis primeiros dias.
“Ao contrário dos estudos anteriores em adultos criticamente enfermos, a nutrição enteral hipocalórica não reduziu significativamente a mortalidade, complicações infecciosas e o tempo de permanência na unidade de terapia intensiva (UTI). Estes resultados também diferem dos benefícios previamente relatados de proporcionar maior ingestão calórica em pacientes críticos”, concluem os autores.