A nutrição trófica pode ser definida como “a administração mínima de nutrientes com efeitos benéficos, como a manutenção do epitélio intestinal e da função imunitária”, de acordo com a ESPEN. Não há consenso quanto representaria em termos calóricos, porém muitos estudos definem como de 10 a 20% do Gasto Energético (GE). Já a nutrição plena pode ser considerada aquela que proporciona 80% ou mais das necessidades energéticas do indivíduo.
É importante ressaltar que, a escolha da nutrição adequada para o paciente crítico precisa levar em consideração as fases da doença: fase aguda e fase crônica. A fase aguda é dividida em dois períodos. O primeiro é marcado por instabilidade hemodinâmica e aumento no catabolismo permanecendo por 1 a 2 dias (fase Ebb) e o segundo por uma intensa perda de massa muscular, mobilização de substratos energéticos para preservar os tecidos, tendo duração de 2 a 7 dias. Passada a fase aguda, inicia-se a fase crônica, também denominada fase anabólica, em que cessa a resposta metabólica ao trauma e a perda tecidual pode ser substituída por ressíntese.
Portanto, este entendimento é importante para guiar a terapia nutricional. A literatura e a prática clínica apontam que tanto o overfeeding como o underfeeding em pacientes críticos aumentam o risco de mortalidade e demais complicações. Desta forma, estudos tem comparado a utilização de nutrição trófica versus plena em desfechos clínicos. Os resultados são bastante contraditórios, sendo que há estudos que mostram superioridade de um tipo de nutrição à outra e muitos estudos não encontram diferenças. Ao avaliar a literatura, percebe-se que esta contradição pode ocorrer devido a diferenças metodológicas importantes entre os estudos. Além disso, muitos estudos não diferenciam a nutrição hipocalórica (permissive underfeeding) da trófica, gerando ainda mais controversas.
Assim, a prática clínica deve estar pautada nas diretrizes de manejo do paciente crítico. De acordo com a ASPEN (2016) e o DITEN (2018) é recomendado que o uso de nutrição trófica ou plena é adequado para pacientes críticos em geral, sendo que os desfechos clínicos não diferem de acordo com a literatura. No caso de pacientes com alto risco nutricional ou desnutrido grave, recomenda-se a nutrição plena de 24 a 48h, monitorando o risco de síndrome de realimentação. A ASPEN (2016) especifica que nos casos de pancreatite aguda severa ou moderada e de sepse, recomenda-se iniciar com nutrição trófica na admissão e aumentar progressivamente após 24 a 48h.
Por outro lado, a ESPEN (2019) recomenda que o uso de nutrição hipocalórica (<70% GE) deve ser preferida à nutrição plena na primeira semana de internação na UTI quando o GE for estimado via fórmulas preditivas. No caso de determinação do GE via calorimetria indireta, preferir nutrição plena após o término da fase aguda.