O termo “paradoxo da obesidade” foi proposto por Gruberg, em 2002, para descrever a sua constatação de que pacientes com sobrepeso e obesidade com doença arterial coronariana (DAC) apresentam menor mortalidade do que indivíduos eutróficos.
O autor chegou a esse termo por haver outros estudos anteriores que também demonstraram resultados semelhantes. Em 2001, Mosterd e colaboradores estudaram o prognóstico em pacientes diagnosticados com insuficiência cardíaca e verificaram que os indivíduos com baixos índices de massa corporal (IMC) apresentaram maior mortalidade do que os pacientes com IMCs maiores.
Durante a última década, esta descoberta inesperada tem sido observada em diversos tipos de doenças cardiovasculares e também em outras condições clínicas, como a doença renal crônica. Uma metanálise publicada em 2013 por Flegal e colaboradores concluiu que indivíduos com sobrepeso e obesidade grau 1 apresentam menor mortalidade em relação aos pacientes com IMC na faixa de normalidade. Já os pacientes com obesidade grau 2 e 3 foram associados com maior mortalidade quando comparados com os indivíduos com IMC na faixa de peso normal.
Embora a obesidade seja um conhecido fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e outras doenças crônicas, pode ser que haja algum mecanismo de proteção quando os indivíduos já estejam com alguma doença crônica. Entretanto, esses resultados devem ser interpretados com cautela e algumas hipóteses foram levantadas para esses achados. Uma delas é de que a insuficiência cardíaca congestiva e a doença renal crônica são doenças debilitantes, que levam à perda progressiva de massa gorda e magra durante a evolução da doença. Neste sentido, os pacientes obesos podem ter uma reserva metabólica melhor do que os indivíduos com peso normal ou abaixo do peso.
Outros autores criticam esses resultados e questionam o uso do IMC para diagnosticar e classificar a obesidade. Alguns pesquisadores sugerem que outras avaliações da composição corporal, incluindo a circunferência da cintura ou da relação cintura-quadril, bem como o uso de aparelhos que avaliem compartimentos corporais possam ser melhores indicadores da obesidade.
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