O que é o “paradoxo da obesidade”?

Postado em 10 de maio de 2013 | Autor: Rita de Cássia Borges de Castro

O termo “paradoxo da obesidade” foi proposto por Gruberg, em 2002, para descrever a sua constatação de que pacientes com sobrepeso e obesidade com doença arterial coronariana (DAC) apresentam menor mortalidade do que indivíduos eutróficos.

O autor chegou a esse termo por haver outros estudos anteriores que também demonstraram resultados semelhantes. Em 2001, Mosterd e colaboradores estudaram o prognóstico em pacientes diagnosticados com insuficiência cardíaca e verificaram que os indivíduos com baixos índices de massa corporal (IMC) apresentaram maior mortalidade do que os pacientes com IMCs maiores.

Durante a última década, esta descoberta inesperada tem sido observada em diversos tipos de doenças cardiovasculares e também em outras condições clínicas, como a doença renal crônica. Uma metanálise publicada em 2013 por Flegal e colaboradores concluiu que indivíduos com sobrepeso e obesidade grau 1 apresentam menor mortalidade em relação aos pacientes com IMC na faixa de normalidade. Já os pacientes com obesidade grau 2 e 3 foram associados com maior mortalidade quando comparados com os indivíduos com IMC na faixa de peso normal.

Embora a obesidade seja um conhecido fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e outras doenças crônicas, pode ser que haja algum mecanismo de proteção quando os indivíduos já estejam com alguma doença crônica. Entretanto, esses resultados devem ser interpretados com cautela e algumas hipóteses foram levantadas para esses achados. Uma delas é de que a insuficiência cardíaca congestiva e a doença renal crônica são doenças debilitantes, que levam à perda progressiva de massa gorda e magra durante a evolução da doença. Neste sentido, os pacientes obesos podem ter uma reserva metabólica melhor do que os indivíduos com peso normal ou abaixo do peso.

Outros autores criticam esses resultados e questionam o uso do IMC para diagnosticar e classificar a obesidade. Alguns pesquisadores sugerem que outras avaliações da composição corporal, incluindo a circunferência da cintura ou da relação cintura-quadril, bem como o uso de aparelhos que avaliem compartimentos corporais possam ser melhores indicadores da obesidade.

Leia mais:

Estudo identifica relação entre índice de massa corporal e mortalidade

 

Bibliografia

Lavie CJ, Milani RV, Ventura HO. Obesity and cardiovascular disease: risk factor, paradox, and impact of weight loss. J Am Coll Cardiol. 2009;53(21):1925-32.

McAuley PA, Smith NS, Emerson BT, Myers JN. The obesity paradox and cardiorespiratory fitness. J Obes. 2012;2012:951582.

Gruberg L, Weissman NJ, Waksman R, Fuchs S, Deible R, Pinnow EE, et al. The impact of obesity on the short-term and long-term outcomes after percutaneous coronary intervention: the obesity paradox? J Am Coll Cardiol. 2002;39(4):578-84.

Lainscak M, von Haehling S, Doehner W, Anker SD. The obesity paradox in chronic disease: facts and numbers. J Cachexia Sarcopenia Muscle. 2012;3(1):1-4.

Flegal KM, Kit BK, Orpana H, Graubard BI. Association of all-cause mortality with overweight and obesity using standard body mass index categories: a systematic review and meta-analysis. JAMA. 2013;309(1):71-82.

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