Os primeiros 1000 dias correspondem ao período desde a concepção, totalizando os 270 dias da gestação, mais os primeiros dois anos de vida da criança. Atualmente, os pediatras enxergam essa fase de rápidas e importantes modificações fisiológicas como uma janela de oportunidades, em que estratégias adequadas de incentivo a boa alimentação materna e da criança seriam capazes de otimizar o seu desenvolvimento e promover modificações metabólicas capazes de reduzir o risco de doenças crônicas ao longo da vida.
Sabemos que a ocorrência de determina doença ou característica é influenciada em cerca de 20% por questões genéticas e 80% por questões ambientais. Assim, associamos ao conceito dos 1000 dias o conceito de Imprinting metabólico, que relaciona a exposição ambiental e nutricional durante esse período à modificações dos padrões de expressão genética, com influência sobre fenótipos e funções fisiológicas. Nesse sentido, nota-se a importância do estado de saúde materno, incluindo o período periconcepcional, gestacional e pós-natal precoce, no desenvolvimento e crescimento saudável da criança. A desnutrição materna, por exemplo, pode resultar em retardo do crescimento intra-uterino e distúrbios metabólicos, como resistência à insulina, diabetes, hipertensão e dislipidemia, além de maior risco de aterosclerose e morte fetal.
Entre os fatores maternos que influenciam o epigenoma fetal destacam-se: idade materna, exposição a radiação e toxinas, fumo, uso de medicamentos, estresse, prática de exercícios físicos, IMC, metabolismo de carboidratos, consumo de gorduras saturadas e trans, ômegas, consumo adequado e/ou suplementação de micronutrientes e compostos bioativos. Entre os nutrientes e compostos bioativos mais importantes nessa fase, podemos incluir o ácido fólico, vitamina D, vitamina B12, vitamina A, ferro, magnésio, zinco, cálcio, ácido docosahexaenóico (DHA) e probióticos, que muitas vezes são suplementados antes mesmo da concepção quando a gravidez é planejada.
Após o nascimento, a atenção se volta a importância do aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida do bebê, sendo de grande conhecimento a rica composição nutricional do leite humano e sua importância no desenvolvimento do bebê. Após os seis meses, inicia-se a introdução alimentar, sendo essa uma fase crucial para a adoção de bons hábitos alimentares ao longo da vida. Nessa fase, deve-se ofertar quantidades adequadas de água, calorias, proteínas, gorduras, vitaminas e minerais, através de uma ampla variedade alimentar, que contemple todos os grupos de alimentos.
Embora muitos mecanismos ainda precisem ser esclarecidos, é fato que os primeiros 1000 dias representam uma janela de oportunidade e modulação metabólica, já que é uma fase de grande crescimento e neuroplasticidade, influenciada por inúmeros fatores ambientais, incluindo a alimentação que tem um importante papel na prevenção de doenças como obesidade, diabetes e doença cardiovasculares ao longo da vida.