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Qual o valor prognóstico da PCR em pacientes com sepse?

prognóstico PCR sepse

Sendo a sepse uma disfunção potencialmente fatal, algumas alternativas de triagem de risco estão sendo propostas, como a utilização da PCR como um biomarcador. Desse modo, o prognóstico seria facilitado, reduzindo o risco de mortalidade.

Mas será que essa prática tem validade na literatura científica?

prognóstico PCR sepse

Fonte: Shutterstock

 

Em primeiro lugar, o que é a sepse?

A sepse é definida como uma disfunção orgânica sistêmica, decorrente de uma resposta inflamatória desregulada do organismo à infecção.

Sendo uma das principais causas de mortalidade do mundo, com 11 milhões de óbitos em 2017, a doença representa cerca de 19,7% das mortes globais.

 

Sepse e identificação de risco 

Para lidar com sua alta taxa de mortalidade, é imprescindível que haja uma triagem qualificada de pacientes com alto risco. No entanto, esta identificação é um desafio, devido à apresentação heterogênea da doença, que é afetada por diversos fatores (paciente, microrganismo causador, local da infecção, etc).

Tradicionalmente, a sepse é identificada pela escala de gravidade “SOFA” (Sequential Organ Failure Assessment), amplamente utilizada nas unidades de terapia intensiva (UTIs). Contudo, seu uso é limitado pela baixa especificidade e sensibilidade. Portanto, faz-se necessário novos testes diagnósticos e prognósticos mais rápidos e sensíveis.

 

Biomarcadores na identificação de sepse

Atualmente, os biomarcadores estão sendo um alvo de pesquisa atraente, pois sua quantificação rápida tem o potencial de diagnosticar doenças, prever prognósticos e orientar intervenções terapêuticas precoces, tal como uma terapia antibiótica apropriada.

Um dos biomarcadores para sepse que vem sendo investigado é a Proteína C Reativa (PCR), definida como uma proteína reagente anti inflamatória de fase aguda positiva e inespecífica.

Pesquisas recentes demonstraram que pacientes sépticos apresentam redução nos níveis endógenos de PCR. Mas por que isso acontece?

 

Por que a PCR diminui em um quadro séptico?

Geralmente, em um quadro inflamatório, a resposta imune inata provoca uma tempestade de citocinas pró-inflamatórias, que geram o aumento de proteínas agudas de fase positiva, sendo a PCR uma destas proteínas. Sua produção é realizada  pelo  fígado, tendo como estímulo a presença da IL-6.

Contudo, a diminuição da PCR endógena durante a sepse é atribuída ao aumento da sua conversão à aPC (zimogênio da proteína C ativada), diminuição da sua síntese no fígado e degradação proteolítica pelo neutrófilo elastase.

Sendo a Proteína C Reativa uma molécula anticoagulante e anti-inflamatória, a sua redução ao longo da sepse causa coagulação e inflamação excessivas.

Assim, a mensuração de seus níveis endógenos ao longo da doença teria o potencial de contribuir para o diagnóstico, triagem de risco, intervenções terapêuticas e monitoramento do prognóstico, provocando uma significativa redução da mortalidade.

Mas, em termos práticos, a PCR realmente pode ser usada para esses fins?

 

Afinal, a PCR possui valor prognóstico na sepse?

Na literatura científica, evidências de baixa a moderada demonstram que os níveis de PCR, mesmo que reduzidos, são menos depletados em pacientes sépticos sobreviventes e em pacientes sépticos sem coagulação intravascular disseminada.

Assim, de uma perspectiva prognóstica, o PCR pode ser um indicador da presença de coagulação e risco de mortalidade, ajudando a adaptar a intervenção de tratamento e as decisões de admissão hospitalar.

Contudo, ainda há uma lacuna científica em relação à utilidade do PCR como um biomarcador de sepse, pois os dados atuais não são suficientes para determinar com alta certeza se os níveis dessa proteína são diferentes em pacientes sépticos versus não sépticos.

 

Mais estudos são necessários

Considerando que a dosagem de PCR já é utilizada na prática clínica, é prontamente disponível e de baixo custo, ela se afirma como um biomarcador de bom uso na análise da sepse, principalmente na análise de coagulação e mortalidade, como visto anteriormente.

Entretanto, por não ser capaz de distinguir uma infecção de uma inflamação, nem permitir a análise precisa do agente infeccioso, é necessário que ela seja associada a outros biomarcadores e à avaliação clínica geral do paciente.

Desse modo, estudos mais robustos sobre a sensibilidade e especificidade da Proteína C Reativa ainda são necessários.

 

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Referências:

CATENACCI, Vanessa et al. Diagnostic and prognostic accuracy of Protein C in adult patients with sepsis: protocol for a systematic review and meta-analysis. BMJ open, v. 11, n. 9, p. e050754, 2021.

CATENACCI, Vanessa et al. The prognostic utility of protein C as a biomarker for adult sepsis: a systematic review and meta-analysis. Critical Care, v. 26, n. 1, p. 1-12, 2022.

DE AGUIAR, Yngrid Carneiro et al. A dosagem de biomarcadores no diagnóstico e prognóstico de sepse neonatal: uma revisão de literatura. Revista de Medicina, v. 100, n. 5, p. 494-502, 2021.

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