Houttu e sua equipe realizaram estudo a fim de investigar se a microbiota intestinal, metabolismo sérico e perfil inflamatório diferem em relação ao grau de sobrepeso em mulheres gestantes. Para isso, foram estudadas 99 gestantes com sobrepeso e obesidade ao início da gestação (menos de 17 semanas), sem comorbidades. A microbiota intestinal foi avaliada (amostra de fezes), assim como marcadores inflamatórios. Também foram coletados dados dietéticos, pelo recordatório alimentar de três dias, e nível atividade física, por formulário próprio. Foram quantificadas glicemia, insulina, hemoglobina glicada (HbGlic), PCR de alta sensibilidade (PCRas), atividade de lipopolissacarídeo (LPS), análises metabolômicas e de composição fecal.
A ingestão calórica e fibra diárias ingeridas além da atividade física realizada foram semelhantes entre as gestantes obesas e com sobrepeso. Também não houve diferença entre níveis séricos de zonulina (marcador de permeabilidade intestinal) e atividade de LPS (marcador de endotoxemia) entre os grupos. Em ambos os grupos de gestantes os filos dominantes foram Bacterioidetes e Firmicutes, sem diferença entre os grupos. Entretanto, a espécie Prevotella copri esteve mais alta em obesas enquanto Prevotellauniformis esteve reduzida, em comparação ao grupo sobrepeso, sendo que após ajuste de variáveis, a família Prevotellacea e apresentou-se mais alta em obesas (p=0,19).
Dos metabólitos lipídicos, 157 de 213 estavam estatisticamente diferentes entre os dois grupos de gestantes e 84 metabólitos permaneceram diferentes após ajustes estatísticos. Também foram encontradas concentrações significativamente superiores de isoleucina, leucina, valina e fenilalanina nas gestantes obesas.
Os marcadores inflamatórios HbGlic (p< 0,001) e PCRas (p=0,0015) estavam estatisticamente elevados em gestantes obesas, e o IMC apresentou correlação com estes parâmetros (p<0,001). Após ajuste para P-values, 171 dos 213 lipídeos se correlacionaram estatisticamente com HbGlic e 59 dos 213 com PCRas. Nosmodelos de regressão linear por etapas, as variáveis mais fortemente associadasao valores de HOMA2-IR foram IMC pré-gestacional, concentração de VLDL, evalina, enquanto para HbGlic foram a concentração de VLDL,fenilalanina, leucina e isoleucina. A ingestão calórica diária também secorrelacionou com diversos metabólitos lipídicos, mesmo após ajuste pordiversas variáveis.
Com isso, os autores destacam o impacto do excesso de peso e obesidade namicrobiota intestinal materna, variáveis metabólicas e perfis inflamatórios, sugerindoque novas ferramentas/ ações sejam adotadas com o objetico de suplementar asmedidas clínicas padrão para predição do risco de alterações metabólicasdurante a fase inicial da gravidez.