Pesquisadores publicaram na revista Critical Care Medicine um estudo que reuniu dados de diversas unidades de terapia intensiva pediátrica (UTIP) do mundo, com o objetivo de examinar os fatores que influenciam a adequação da ingestão de energia, relacionando-os com desfechos clínicos em crianças sob ventilação mecânica.
Trata-se de um estudo de coorte prospectivo, multicêntrico, com crianças (de 1 mês a 18 anos de idade) que necessitaram de ventilação mecânica por mais de 48 horas em UTIP. As práticas nutricionais foram registradas durante a permanência na UTIP por no máximo 10 dias e os pacientes foram acompanhados durante 60 dias ou até a alta hospitalar.
Trinta e uma UTIPs de oito países participaram deste estudo, em que foram incluídos 500 pacientes com idade média de 4,5 (±5) anos. Mais de 30% dos pacientes apresentaram desnutrição grave na admissão na UTIP. A média de prescrição diária de energia e proteína foi de 64 kcal/kg e 1,7g/kg, respectivamente. A nutrição enteral (NE) foi usada em 67% dos pacientes e foi iniciada, na maioria dos casos, em 48 horas de admissão.
Foi fornecido apenas 38% da NE prescrita em relação às calorias e 43% da quantidade de proteínas prescritas. Os pesquisadores observaram que quanto maior o percentual de consumo de energia pela NE houve menor mortalidade (p=0,002). A mortalidade foi maior nos pacientes que receberam nutrição parenteral (p=0,008).
Outro dado importante foi a menor prevalência de infecções quando as UTIPs utilizaram protocolos de terapia nutricional (p=0,008), e essa associação foi independente da quantidade de energia ou proteínas ingeridas.
“Em resumo, nosso estudo demonstrou que o fornecimento da terapia nutricional é geralmente inadequado em diversas UTIPs do mundo. A maior ingestão de energia por via enteral foi associada com menor mortalidade, enquanto que o uso de nutrição parenteral foi associado com maior mortalidade. As UTIPs que utilizaram protocolos para o início e progressão da NE apresentaram menor prevalência de infecções. Portanto, fornecer adequadamente a terapia nutricional pode ser um caminho eficaz para melhorar resultados clínicos em crianças gravemente doentes”, concluem os autores.