Perder urina não pode ser considerado normal após atingirmos a idade para aquisição da continência urinária. Essa fase natural do corpo humano costuma ocorrer por volta dos três anos, sendo esperado um controle pleno de suas ações após os cinco anos de vida, incluindo o fim da enurese noturna (o popular xixi na cama).
Dentre as causas que podem levar à perda urina, temos a incontinência causada por esforços (rir, tossir, espirrar, ligada a algum grau de incompetência do esfíncter urinário), por urgência (não consegue chegar ao banheiro, decorrendo de contrações involuntárias da bexiga), mista (associada a ambos os mecanismos) ou por transbordamento (quando a bexiga não consegue esvaziar adequadamente, atingindo uma pressão maior que o esfíncter suporta, havendo “vazamento”)
Mas como a alimentação pode influenciar a continência urinária?
A nutrição atua de forma importante desde o início do aprendizado na hora de migrar da fralda para o vaso sanitário na infância. Isso se deve pelo fato de que a constipação intestinal pode influenciar negativamente a micção em si, sendo capaz de causar relaxamento incorreto, má adaptação da criança ao vaso sanitário e ao hábito de segurar por muito tempo tanto as fezes quanto a urina.
Isso pode desencadear em um aprendizado de evacuatório e miccional inadequado entre as crianças, levando à chamada síndrome disfuncional de eliminação.
Ter o intestino “cheio”, por vezes, é interpretado pelo cérebro como se a bexiga também estivesse nessa condição, sendo uma das explicações para a hiperatividade do órgão, com contrações involuntárias da bexiga que podem resultar em aumento da frequência miccional, noctúria (acordar a noite para urinar) e episódios de urgência urinária.
O tratamento dessa condição passa também pelo controle do hábito intestinal, sendo a alimentação o pilar básico. Vale ressaltar que parte do tratamento medicamentoso envolve remédios que possuem efeito colateral de reduzir o trânsito intestinal, reforçando a constipação.
Como surge a constipação intestinal?
Ela se deve, em grande parte, à ingestão insatisfatória de fibras, má hidratação e falta de atividade física, sendo necessárias intervenções. Consumir frutas, vegetais folhosos e bastante água são hábitos que devem ser aprendidos desde a infância e exemplificado pelos familiares.
A idade eleva a incidência tanto da incontinência quanto da constipação, e a população idosa deve sempre ser rastreada ativamente e tratada para ambas as condições.
Alguns alimentos e bebidas são tidos como “irritantes vesicais”, sendo tais efeitos reportados por muitos, porém, não obrigatórios para todos. Dentre os principais temos a cafeína (café, chás escuros), os apimentados, os cítricos (laranja, limão, abacaxi), os alcoólicos e os gaseificados. Dependendo do efeito, que é particularizado, esses alimentos devem ser evitados. E aqueles de baixo valor biológico, como os refrigerantes, não utilizados.
Vale ressaltar que não há um alimento herói ou vilão. Ainda assim, a alimentação saudável, com controle do peso e do intestino, é parte do tratamento dessa condição com grande frequência populacional, mas lembre-se: não é normal, tem tratamento e esse não necessariamente é cirúrgico.
*Maurício Jacomini Verotti é urologista formado em Medicina pela Faculdade de Medicina da USP e Urologia pela FMABC. É membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia desde 2006 e membro internacional da Associação Americana de Urologia AUA desde 2014. Instagram: @urologistaalphaville