Comer com atenção plena, ou mindful eating, vem despertando interesse e, ao mesmo tempo, uma certa confusão. É importante começar a nossa conversa deixando claro que esta não é mais uma nova forma de emagrecer ou apenas uma maneira de fazer escolhas mais “assertivas” na sua alimentação, mas, sim, uma oportunidade de melhorar a nossa relação com a comida, nos reconectando com um lado mais primitivo para entender e atender nosso conhecimento interno que sinaliza o que, quanto e quando comer.
O mindful eating descende do mindfulness (atenção plena), um conjunto de técnicas meditativas com objetivo de trazer seu foco de atenção – de forma não julgadora – para o momento presente, normalmente usando a respiração como uma âncora. A partir dessas práticas, conseguimos estar mais presentes no ato de comer e atentos aos aspectos sensoriais da comida, como sabores, texturas, aromas, aspecto e sons. Também permite que fiquemos mais entregues aos sinais que o corpo nos dá em caso de fome, apetite e saciedade, seja por meio da barriga roncando, a cabeça doendo após a ingestão de algum alimento, ou quando algo não cai bem e o abdome fica inchado, a barriga dói, ou acontece o chamado refluxo.
Um dos grandes benefícios do mindful eating é melhorar esse diálogo interno, buscando atender esses sinais que foram se perdendo ao longo do tempo com a prática de dietas e reaprender a respeitá-los, fazendo com que a pessoa entenda e identifique sozinha os momentos em que precisa se alimentar e as quantidades necessárias para estar saciado.
Como consequência, essa estratégia melhora não só a relação com a comida, mas também os níveis de estresse e ansiedade, parâmetros clínicos como glicemia e pressão alta e também ajuda no tratamento de compulsão alimentar e situações de comer emocional, resultando até em diminuição do índice de massa corpórea (IMC) como possível consequência em alguns casos.
Além disso, a prática constante do mindful eating acaba fazendo com que a pessoa desenvolva uma maior consciência sobre a origem e qualidade dos alimentos e o ambiente em que as refeições são feitas, e resgate o hábito de cozinhar, que é um processo que alimenta nossa fome visual, olfativa, emocional e social.
E você também pode experimentar a prática do mindful eating! Quer saber como? Veja algumas dicas para começar:
- Procure alguma forma de praticar frequentemente algum tipo de meditação, através de um curso, livro ou aplicativo;
- Comece elegendo uma refeição no dia para estar 100% presente no momento;
- Não espere estar com uma fome muito grande para então comer – fique atento aos sinais do corpo;
- Faça a refeição sem grandes distrações como televisão e celular e sentado à mesa, de preferência em companhia de outras pessoas;
- Faça pequenas pausas enquanto come, sentindo os aromas, texturas e sabores dos alimentos que estão no prato;
- Comer mais devagar pode ajudar a perceber quando a saciedade chega e assim que isso acontecer, tente parar de comer, mesmo que seja difícil deixar comida no prato.
- Respeite mais seu estômago do que sua boca ou seu bolso quando detectar o limite de saciar a fome sem sair cheio ou estufado;
- Para algumas pessoas que estão há anos pulando de uma dieta para outra, já tomaram remédios para emagrecer, seria importante ter acompanhamento de um nutricionista que tenha formação em Mindful Eating, através da Nutrição Comportamental e do Centro Brasileiro de Mindful Eating.
*Fernanda Timerman (CRN 18985): nutricionista graduada pelo Centro Universitário São Camilo. Master of Education by research pela Faculdade de Educação e Ciências Sociais da Universidade de Sidnei – Austrália, revalidada para mestrado pela FSP-USP. Aprimorada em transtornos alimentares pelo Curso Avançado do AMBULIM (IPq-HCFMUSP) e em mindfulness e compaixão na saúde pelo Instituto Sedes Sapientiae. Instrutora qualificada em Mindfulness-Based Eating Awareness Training -MB-EAT e Coaching de Saúde e Bem-estar pela Carevolution e Wellcoaches. Coordenadora do GENTA e idealizadora do Instituto Nutrição Comportamental.