A regulação do apetite é controlada por ações cerebrais da dopamina. Estudos recentes mostram que a estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC), que aumenta a excitabilidade do córtex pré-frontal dorsolateral, pode reduzir o apetite, mas os mecanismos associados a esse efeito permanecem desconhecidos e a variabilidade da resposta é grande.
Estudo randomizado, duplo-cego, controlado por simulação, com desenho paralelo teve como objetivo determinar se o polimorfismo Val158Met no gene Catecol-O-Metil Transferase (COMT) poderia influenciar os efeitos da ETCC sobre o apetite. Para isso, foram selecionadas 38 mulheres entre 20 e 40 anos, IMC entre 30 e 35kg/m² e peso estavel nos últimos três meses, que foram categorizadas em portadoras ou não do alelo Met. Foi realizada e comparada ETCC (cortex pré-frontal) ativa versus falsa em três fases de intervenção conduzidas durante um período de 30 dias. Na fase um, as participantes receberam (ou não) estimulação para avaliar a performance de memória; na segunda fase, as participantes passaram pelo periodo de estimulação (ativa ou falsa) de 10 sessões durante duas semanas e após isso, por mais duas semanas, realizaram outras seis sessões de estimulação associada a dieta hipocalórica (redução de 30% das necessidades calóricas diárias). Para avaliação do apetite, foi aplicada uma escala visual analógica antes, durante e ao fim das intervenções.
Os autores verificaram que as participantes portadoras do alelo Met e que receberam ETCC ativa foram as únicas que apresentaram uma redução significativa do apetite ao longo do tempo (p=0,013). Por outro lado, as não portadoras do alelo Met mantiveram altos níveis de apetite e desejo de comer durante a intervenção, efeito que foi impulsionado por um aumento paradoxal atrasado do apetite após estimulação. O desempenho das tarefas de memória de trabalho na fase I correlacionou-se com subsequente mudança de apetite de maneira dependente do COMT, sendo que melhorias na velocidade durante a tarefa previaram aumento do apetite em portadores de Met (p<0.008) e redução do apetite em não portadores de Met (p=0,015).
Os autores sugerem que as diferenças genotípicas que afetam os níveis de dopamina influenciam os efeitos da ETCC sobre o apetite, ou seja, existe interação entre características do genótipo e o efeito da neuromodulação. Esse dado deve ser considerado no desenho de estudos futuros.