Sabidamente, o gasto energético de repouso (GER) é influenciado por fatores como idade, sexo, índice de massa corporal (IMC) e composição corporal. O GER também é influenciado pela termorregulação, que está intimamente associado à temperatura ambiente e à aclimatação de cada indivíduo. O processo de termorregulação envolve mecanismos adaptativos que incluem o tecido adiposo marrom, o sistema nervoso central, eixo do hormônio tireoidiano e a via de sinalização da catecolamina. No entanto, poucos estudos têm avaliado o impacto da termorregulação e temperatura ambiental no GER.
Assim, Pham e colaboradores investigaram a variação do GER e outro fatores, como composição corporal, função tireoidiana e sinais de catecolamina, ao longo das quatro estações do ano e o efeito da idade e composição corporal na variação do GER em uma população coreana.
Participaram do estudo 867 voluntários saudáveis (385 homens e 482 mulheres), com idades entre 20 e 69 anos, que foram divididos em quatro grupos: primavera, verão, outono e inverno, dependendo da época do ano em que foram incluídos no estudo. O GER foi medido através de calorimetria indireta, em temperatura e condições padronizadas. Além do GER, foram consideradas as variáveis peso, altura, composição corporal (por bioimpedância), massa muscular, glicemia de jejum, insulina, hormônios tireoidianos, cortisol, epinefrina e noraepinefrina (NE).
Não foram observadas diferenças significativas entre as variáveis antropométricas e de composição corporal entre os grupos. No entanto, houve uma diferença significativa (p<0,001) para o GER entre os grupos, que foi mais baixo no verão, aumentou gradualmente na primavera e outono e foi mais alto no inverno, em homens e mulheres. Em média, o GER no grupo inverno aumentou 164 kcal/d (11,3%) em homens e 108 kcal/d (9,6%) em mulheres, quando comparado ao grupo verão. Quando os pesquisadores verificaram a influência das outras variáveis nessa mudança de GER entre verão e inverno, identificaram que maior diferença de GER era observada em indivíduos mais jovens, diferença média de 182,1 kcal/d naqueles com idade de 20 a 29 anos, e de 62,8kcal/d naqueles de 50 a 68 anos. Corroborando com a literatura, os pesquisadores observaram ainda que massa muscular é a variável antropométrica que mais influencia no GER. A análise dos metabólitos indicou que o grupo inverno apresentou valores mais elevados de T3 e NE e menores níveis de glicose, insulina plasmática, níveis de HOMA-IR e epinefrina (todos p <0,05). Os pesquisadores salientam que o aumento observado em T3 e NE pode ser considerado uma adaptação ao clima frio que, consequentemente, induz um incremento de GER.
Embora mais estudos sejam necessários para que se possa incluir essa variável no cálculo do GER, os pesquisadores observam que a estação do ano é um preditor independente de GER e que seu efeito é atenuado pelo aumento de idade.