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Guia de Nutrição para Oncologistas

Nutrição para Oncologistas

Fonte: Canva

A oncologia é uma especialidade multidisciplinar, tanto no tratamento quanto no suporte do paciente com câncer. O olhar do oncologista sobre o estado nutricional do paciente é essencial, assim como o envolvimento de profissionais de outras áreas da saúde, como nutricionistas e nutrólogos.

Recentemente, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e a Escola Brasileira de Oncologia (EBO) reuniram grandes especialistas da área, com objetivo de oferecer ao oncologista uma referência prática e objetiva sobre o papel da nutrição no cuidado oncológico.

Fonte: Canva

Abaixo, conheça os principais pontos abordados por esse material tão essencial. 

Avaliação inicial do paciente

O primeiro passo no cuidado nutricional do paciente oncológico é a avaliação inicial. Essa etapa deve ser realizada em todos os pacientes, seja no ambulatório ou durante a internação, pois orienta e justifica a intervenção nutricional.

Ela começa com a triagem nutricional, um processo simples, rápido e de baixo custo:

Existem ferramentas validadas e recomendadas para essa triagem, como o NRS-2002, o MUST e a versão reduzida da ASG-PPP. Mais recentemente, surgiram instrumentos específicos para oncologia, como o NUTRISCORE e o CNS, ainda em processo de validação. 

Quando a triagem indica risco, parte-se para a avaliação nutricional completa:

A ferramenta mais utilizada é a ASG-PPP, especialmente desenvolvida para pacientes com câncer, por sua sensibilidade em detectar precocemente a necessidade de intervenção.

Leia também: Qual a diferença entre triagem nutricional e avaliação nutricional?

Terapia nutricional oral

Sempre que possível, a nutrição deve ser feita pela via oral. Além de ser a forma mais fisiológica, ela preserva a rotina e a autonomia do paciente. O pilar da terapia nutricional oral (TNO) é o aconselhamento dietético aliado ao uso de suplementos nutricionais, quando necessário.

Esses suplementos estão disponíveis em diferentes formatos (líquidos prontos, em pó para reconstituição, fórmulas padrão ou específicas para determinadas condições clínicas). Eles são indicados para pacientes com ingestão alimentar reduzida, desnutrição, sarcopenia, caquexia ou em casos de câncer de alto risco nutricional.

Recomendação de energia e proteínas

A oferta energética varia de:

Já a ingestão de proteínas deve ter como alvo 1,2 g/kg/dia, podendo variar entre 1,0 e 1,5 g/kg/dia e chegar até 2,0 g/kg/dia em casos de sarcopenia ou inflamação. A distribuição ao longo do dia (20 a 30 g por refeição) é fundamental para favorecer o anabolismo.

Embora ainda exista debate sobre a qualidade da proteína ideal, há evidências de que aminoácidos de cadeia ramificada (como leucina) e o HMB (um metabólito da leucina) podem ter efeito positivo no metabolismo muscular. 

Já a suplementação de glutamina não é recomendada de forma rotineira, pela falta de evidências.

Ômega-3

Os ácidos graxos ômega-3 podem contribuir para atenuar inflamação, melhorar a ingestão alimentar, auxiliar no ganho de peso e na preservação de massa muscular.

As recomendações variam entre 2–4 g/dia (EPA+DHA), sendo que, para câncer avançado, indica-se pelo menos 2 g/dia de EPA por oito semanas.

Nutrição enteral e parenteral no paciente oncológico

Nutrição enteral 

A nutrição enteral é indicada quando o paciente não consegue ingerir pela via oral menos de 50% das necessidades por mais de uma semana, ou 50–75% das necessidades por mais de duas semanas. Sempre que possível, deve ser priorizada em relação à parenteral, por ser mais fisiológica e de menor risco de complicações.

O início deve ser progressivo, com ajuste em até 72–96h, acompanhado de monitoramento clínico e laboratorial. O desmame é indicado quando a ingestão oral atinge >70% das necessidades por 3 dias consecutivos.

Clique aqui para saber mais sobre nutrição enteral.

Nutrição parenteral 

A nutrição parenteral deve ser reservada para situações em que o trato gastrointestinal não é capaz de garantir aporte adequado, seja por disfunção orgânica, complicações do tratamento oncológico ou contraindicação à via enteral.

Indicações incluem:

A indicação de TNP em cuidados paliativos deve ser individualizada. Em pacientes com expectativa de vida <90 dias ou capacidade funcional comprometida, o benefício tende a ser limitado. A decisão deve considerar preferências do paciente, qualidade de vida, custo e possíveis complicações.

Abordagens dietéticas alternativas no câncer

Após o diagnóstico de câncer, muitos pacientes buscam mudanças no estilo de vida e recorrem a informações nutricionais de diferentes fontes. Entretanto, esse interesse frequentemente leva ao contato com informações incorretas ou dietas da moda, que podem comprometer o estado nutricional e prejudicar o tratamento. 

Sociedades como ASCO, BRASPEN, ESMO e ESPEN não recomendam dietas restritivas em pacientes com câncer, pela falta de evidências consistentes e pelo risco de deficiência de nutrientes.

Apesar da ampla divulgação, nenhuma das abordagens dietéticas alternativas (dieta cetogênica, restrição calórica, probióticos, chás, etc) tem evidência suficiente para recomendação em oncologia

Pelo contrário, muitas apresentam riscos nutricionais e interações medicamentosas. O papel do nutricionista e da equipe multiprofissional é fundamental para educar pacientes, corrigir desinformações e promover estratégias alimentares seguras e baseadas em evidências.

Leia a diretriz completa

Além dos tópicos aqui apresentados, o guia traz outros conteúdos fundamentais, como:

Vale a pena a leitura completa: clique aqui e acesse o material completo.

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Referência:

Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica; Escola Brasileira de Oncologia. Guia de nutrição para o oncologista. 2ª ed. Coord. Chaves ALF. São Paulo: SBOC; [2025].

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