Com a expectativa de vida aumentando, a doença de Alzheimer (DA) está se tornando uma preocupação crescente. Segundo a Alzheimer’s Disease International (ADI), o número de pessoas com a doença pode chegar a 13,8 milhões até 2060.
Atualmente, não existe um tratamento eficaz para reverter a DA, mas apenas tratar seus sintomas. Além disso, os tratamentos farmacológicos geralmente têm efeitos adversos. Nesse sentido, a adoção de medidas alternativas para o manejo do Alzheimer vêm ganhando força. A abordagem nutricional, por sua vez, demonstra resultados promissores.
Neste artigo, iremos explorar quais nutrientes têm se mostrado eficazes na prevenção e tratamento da DA, segundo as evidências científicas recentes. Confira!
Doença de Alzheimer: o que é?
A Doença de Alzheimer (DA) é uma condição neurodegenerativa crônica, progressiva e irreversível, caracterizada pelo declínio das capacidades cognitivas e funcionais, perda episódica de memória e habilidades de linguagem, sintomas neuropsiquiátricos e morte prematura.
Embora a etiologia da DA não seja bem compreendida, ela se manifesta no nível bioquímico, com o acúmulo de depósitos de peptídeo beta-amiloide (Aβ) e a formação de emaranhados neurofibrilares de proteína tau no cérebro, que levam à degeneração neuronal.
A DA aparece mais frequentemente em pessoas com mais de 65 anos de idade, mas também pode ocorrer na juventude. Seu início é frequentemente assintomático, com mudanças cerebrais podendo ocorrer até 20 anos antes dos primeiros sintomas notáveis.
Dentre os fatores de risco para o Alzheimer, estão inclusos:
- Fatores de risco não modificáveis: genética, idade avançada, sexo feminino
- Fatores de risco modificáveis: nível de educação, atividade física, dieta, tabagismo e consumo de álcool
Quais nutrientes podem ajudar a prevenir e tratar o Alzheimer?
Proteínas
De modo geral, as proteínas são nutrientes cruciais para a saúde dos idosos. Na terceira idade, recomenda-se que pelo menos 20% da ingestão calórica diária seja advinda das proteínas, para compensar a perda de massa magra e combater a sarcopenia.
Porém, para além da composição corporal, pesquisas sugerem que um fornecimento adequado de proteína ao longo da vida pode atuar preventivamente contra a doença de Alzheimer.
Em um estudo que avaliou o efeito da proteína na função cognitiva, foi observado que a substituição de 5% da energia da dieta proveniente de proteína, por uma quantidade equivalente de energia proveniente de carboidratos, foi associada a uma maior risco de declínio cognitivo.
Este estudo também sugeriu que o consumo de legumes, peixe e carne magra tem efeitos mais benéficos na função cognitiva do que comer produtos de origem animal de fast-food.
Ômega-3
Os ácidos graxos ômega-3, especialmente EPA e DHA, têm atraído atenção significativa na pesquisa sobre a doença de Alzheimer por conta de seus efeitos neuroprotetores, como aumentar a neuroplasticidade das membranas nervosas, promover a sinaptogênese, modular as vias de transdução de sinal em células neuronais e aliviar o estado inflamatório.
Assim, alguns estudos sugerem que níveis adequados desses ácidos graxos podem estar associados a uma desaceleração do declínio cognitivo, declínio da memória, e a um menor risco de desenvolver a DA. Entretanto, muitas vezes esse efeito só é demonstrado em estágios leves à moderado da doença.
Embora as evidências científicas sejam mistas e controversas, incluir fontes alimentares de ômega-3, como peixes, nozes, sementes e óleos vegetais, pode trazer melhorias sutis para pacientes com DA.
Nutrientes antioxidantes
O estresse oxidativo, exacerbado pela presença de β-amiloide no cérebro, é um fator significativo no desenvolvimento do Alzheimer. Embora não se saiba se o estresse oxidativo seja uma causa ou consequência da DA, foi relatado que a ingestão adequada de nutrientes antioxidantes ajuda a combater o declínio cognitivo e de memória.
Sabe-se, por exemplo, que pacientes com DA frequentemente apresentam níveis reduzidos de antioxidantes como α-caroteno, β-caroteno, licopeno, luteína, vitaminas A, C, E e D.
Na investigação “Rotterdam Study”, com duração de 6 anos, observou-se que uma alta ingestão alimentar de vitaminas C e E está associada a um risco reduzido de desenvolver a doença de Alzheimer.
Já em um ensaio clínico randomizado, demonstrou-se que a suplementação de α-tocoferol na dose de 2000 UI por dia pode retardar a progressão da doença de Alzheimer leve e moderada.
Embora os efeitos benéficos dos antioxidantes na função cognitiva humana não sejam conclusivos, os pacientes com DA são aconselhados a ter suas dietas ricas nestes compostos, com abundância de vegetais, frutas e óleos vegetais prensados a frio.
Vitaminas do complexo B
As vitaminas do complexo B são essenciais para a metilação do DNA e o metabolismo da homocisteína, cuja concentração elevada está fortemente associada ao risco aumentado de demência vascular e DA.
Nesse sentido, níveis elevados de homocisteína contribuem para o declínio cognitivo, danos à substância branca do cérebro, atrofia cerebral e demência, sendo comuns em pacientes com DA.
Assim, manter níveis adequados de vitaminas B, como B6, B9 (ácido fólico) e B12, é crucial para reduzir a homocisteína plasmática e minimizar o estresse oxidativo nos neurônios.
No estudo EMCOA (Effects and Mechanism Investigation of Cholesterol and Oxysterol on Alzheimer’s disease), foi comprovada uma relação entre deficiência de vitamina B12 e declínio cognitivo. Além disso, demonstrou-se que a concentração correta de vitaminas B6, B9 e B12 tem um efeito positivo nos recursos mentais de pessoas saudáveis.
Cálcio e Magnésio
A deterioração do metabolismo do cálcio nos neurônios pode contribuir para a doença de Alzheimer e o envelhecimento cerebral, afetando a poda de dendritos, a perda sináptica, a agregação de β-amiloide e a proteína tau, além de causar inflamação e estresse oxidativo.
Portanto, melhorar a atividade do cálcio neuronal pode ser uma estratégia promissora para reduzir o risco de declínio cognitivo e Alzheimer.
Já o magnésio, como bloqueador natural dos canais de cálcio, tem atraído interesse por sua relação com a cognição.
Um estudo do Personalized Prevention of Colorectal Cancer Trial (PPCCT) revelou que a redução da relação cálcio:magnésio, por meio de suplementação de magnésio ao longo de 12 semanas, melhorou significativamente a pontuação no teste MoCA (teste de Avaliação Cognitiva Montreal) em participantes com mais de 65 anos.
Compostos Polifenólicos
Pesquisas recentes sugerem que compostos polifenólicos, incluindo flavonoides, ácidos fenólicos e taninos, podem atrasar ou prevenir o declínio cognitivo relacionado à idade. As fontes desses compostos são alimentos de origem vegetal, incluindo uvas, mirtilos, azeite de oliva, nozes, cacau, e chá verde.
Por exemplo, estudos apontaram que o consumo de suco de uva roxa, rico em flavonoides, pode melhorar a saúde do sistema circulatório do cérebro, a memória espacial, o desempenho ao dirigir, a cognição e o humor.
Além disso, uma investigação com 921 participantes mostrou que o maior consumo de flavanol alimentar, principalmente kaempferol e isorhamnetina, pode proteger contra o desenvolvimento da demência de Alzheimer.
Ademais, o Epigalocatequina-3-Galato (EGCG), um polifenol encontrado no chá verde, tem propriedades protetoras contra danos neuronais e pode reduzir o acúmulo de β-amiloide, bem como melhorar a função de aprendizagem e memória.
Indo além dos nutrientes
Como visto, diversos nutrientes parecem exercer uma influência positiva na prevenção e tratamento do Alzheimer, embora, algumas vezes, evidências científicas concretas sejam escassas.
Entretanto, vale ressaltar que não basta focar em apenas um ou outro nutriente: é preciso que a alimentação, como um todo, também seja saudável.
Nesse sentido, alguns padrões alimentares, como a dieta mediterrânea, a dieta DASH e a dieta MIND (Mediterranean-DASH Diet Intervention for Neurodegenerative Delay) já demonstraram efeitos protetores contra o Alzheimer.
Além disso, também é importante excluir fatores dietéticos que possam causar influências negativas, como aumento da inflamação. São exemplos:
- Alimentos ultraprocessados - fast food, refeições prontas para consumo
- Ácido graxo saturado (como gorduras animais e óleo de palma)
- Ácidos graxos trans (como gorduras parcialmente hidrogenadas)
- Açúcar simples
- Alimentos de baixa qualidade (risco de consumo excessivo de poluição e toxinas como metais pesados
O que podemos concluir?
Em resumo, a nutrição desempenha um papel crucial na prevenção e manejo da Doença de Alzheimer.
Embora não exista uma solução única e definitiva, evidências científicas indicam que uma dieta rica em proteínas magras, ácidos graxos ômega-3, antioxidantes, vitaminas do complexo B, cálcio e magnésio pode contribuir para a saúde cognitiva e potencialmente retardar a progressão da doença.
Assim, embora a alimentação não substitua os tratamentos médicos convencionais, ela pode atuar como uma estratégia complementar importante para a prevenção e o manejo da Doença de Alzheimer.
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Referências:
Xu Lou I, Ali K, Chen Q. Effect of nutrition in Alzheimer’s disease: A systematic review. Front Neurosci. 2023 May 4;17:1147177. doi: 10.3389/fnins.2023.1147177. PMID: 37214392; PMCID: PMC10194838.
Stefaniak O, Dobrzyńska M, Drzymała-Czyż S, Przysławski J. Diet in the Prevention of Alzheimer’s Disease: Current Knowledge and Future Research Requirements. Nutrients. 2022 Oct 30;14(21):4564. doi: 10.3390/nu14214564. PMID: 36364826; PMCID: PMC9656789.
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