A artrite reumatoide (AR) é uma doença autoimune inflamatória sistêmica que atinge milhões de pessoas no mundo todo. Suas características são baseadas em inflamação, rigidez, inchaço, dor e destruição das articulações ao longo do corpo.
Duas vezes mais comuns em mulheres, a artrite reumatoide está associada a um maior risco de infecção, doença respiratória crônica, doença cardiovascular e câncer. Além disso, é notável que pacientes com AR apresentam níveis mais elevados de proteína C reativa (PCR), interleucina-6 (IL-6) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α).
A dieta é um fator adaptável que possui uma função importante na regulação da inflamação e da função imunológica. Alguns estudos já indicam que uma alimentação à base de alimentos com função anti-inflamatória pode estar associada a um menor risco de desenvolvimento ou agravamento do quadro de AR.
Pensando nisso, pesquisadores realizaram um estudo para avaliar se dietas com potencial inflamatório maior estão associadas ao risco de desenvolvimento de AR. Nesse estudo foi utilizado o Índice Inflamatório Dietético (DII) como parâmetro para o potencial inflamatório da dieta.
Metodologia
O estudo em questão foi realizado com 184 mulheres da cidade de Kermanshah, no Irã, que foram diagnosticadas com artrite reumatoide definitiva, seguindo os critérios do reumatologista. O estudo foi feito apenas com o sexo feminino devido à maior prevalência de AR e à homogeneidade dos participantes.
Para a avaliação do consumo alimentar, um nutricionista treinado aplicou um questionário semiquantitativo de frequência alimentar (QFA) por meio de entrevistas presenciais. Paralelo a isso, foi avaliado o DII de cada participante usando seis marcadores (IL-1β, IL-4, IL-6, IL-10, PCR e TNFα), classificando os alimentos entre “máximo anti-inflamatório” e “máximo pró-inflamatório”.
Neste estudo, todos os pacientes foram examinados pelo reumatologista do estudo para determinar o número de articulações inchadas (AI) e articulações dolorosas (AD). Então os escores DAS-28, índice validado para monitorar a atividade da doença na AR, foram calculados.
Para fins de análise estatística e comparativa, foram feitas também avaliações antropométricas e bioquímicas. Altura, peso, IMC, percentual de gordura e massa magra, bem como as concentrações de fibrinogênio, alfaglobulinas, fator reumatoide e proteínas C reativas foram obtidos e analisados.
Relação AR x Índice Inflamatório Dietético
Nível de DII x Medidas Antropométricas
O estudo em questão fez uma análise comparativa entre algumas medidas antropométricas, como peso, massa magra, percentual de gordura e IMC, e o DII. Dessa forma, os resultados apontaram que pacientes com maiores níveis de DII eram acompanhados por uma diminuição do peso, da massa magra e da ingestão energética.
Entretanto, o IMC e a circunferência de cintura não apresentaram diferenças significativas ao passo que mudavam o nível de DII. Dessa forma, o trabalho realizado indica que, por mais que a quantidade de massa livre de gordura diminua, a quantidade de gordura corporal não acompanha essa redução.
Esse resultado é apoiado pelos dados que alguns estudos anteriores mostraram que com o aumento dos marcadores inflamatórios no organismo, a quantidade de massa livre de gordura diminui. A inflamação causa mais perda muscular ao aumentar o catabolismo muscular, que por sua vez pode levar à perda de peso nos estágios avançados da artrite.
Sendo assim, há uma forte indicação de que ao consumir uma dieta anti-inflamatória, há possibilidade de redução da gravidade da doença e da dor em pacientes com AR devido à redução de fatores pró-inflamatórios.
DII x Indicadores de AR
A análise estatística feita pelo estudo constatou que pacientes que obtinham maiores níveis de DII, ou seja, dieta com maior índice inflamatório, tinham maiores chances de PCR aumentado. Além disso, os mesmos pacientes com nível elevado de DII, apresentaram escores de DAS-28 também mais elevados.
Os resultados mostrados pelos indicadores de inflamação e de atividade de AR no organismo humano sustentam a constatação supracitada de que uma dieta com índice inflamatório elevado pode causar maior atividade e agravamento de AR.
Ademais, o estudo indicou que o maior potencial inflamatório da dieta estava associado à fatores relacionados com a atividade da doença, incluindo ESR, VAS de saúde geral, número de articulações inchadas, número de articulações sensíveis e PCR.
Conclusão
Os resultados demonstrados pelo trabalho em questão concluem que pacientes com artrite reumatoide possuem uma tendência maior seguir uma dieta pobre com alto índice inflamatório, levando ao agravamento de seu quadro clínico de AR e de seus fatores relacionados.
Portanto, o estudo ainda sugere que a adesão a uma dieta com baixo DII pode levar à diminuição do nível de fatores inflamatórios e reduzir os níveis de DAS28 que causam a diminuição da atividade da doença nesses pacientes.
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Referências
Nayebi, A., Soleimani, D., Mostafaei, S. et al. Association between dietary inflammatory index scores and the increased disease activity of rheumatoid arthritis: a cross-sectional study. Nutr J 21, 53 (2022).
Sweeney SE, Firestein GS. Rheumatoid arthritis: regulation of synovial inflammation. Int J Biochem Cell Biol. 2004;36(3):372–8
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