Você já parou para pensar o quanto a nossa vida está cercada pela biotecnologia?
Dos alimentos em seu prato, passando por vacinas e medicamentos como insulina e terapias gênicas… tudo é fruto da biotecnologia.
Mas afinal, o que é biotecnologia?
A biotecnologia é uma ciência que utiliza processos biológicos para desenvolver produtos que possam oferecer algum tipo de benefício para os seres humanos.
Algumas pessoas ainda acham que a biotecnologia é um termo novo, mas ela está presente na humanidade há milhares de anos. Historicamente, podemos dividi-la em:
– Biotecnologia clássica: baseada em observações da natureza, por exemplo, seleção de organismos pelas suas características visíveis a olho nu, resultando na modificação do conjunto genético dos organismos ao escolher os genes que propagavam essas características para os descendentes.
Um exem
– Biotecnologia moderna: baseada em ferramentas de biotecnologia moderna, como a tecnologia do DNA recombinante, permitindo a seleção de organismos pelos seus genes, bem como a produção de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). Um exemplo é a produção de insulina humana, que em vez de ser extraída do pâncreas de animais, passou a ser produzida por bactérias geneticamente modificadas (GM) e transgênicas. Lembrando que os OGMs são organismos cujo material genético tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética. Transgênicos são OGMs que receberam um gene de ser vivo de outra espécie em seu DNA por meio de técnicas empregadas na biotecnologia.
Com esses exemplos, podemos dizer que a biotecnologia tem uma capacidade absurda de pesquisar e beneficiar a humanidade, ao mesmo tempo em que promove a sustentabilidade do meio ambiente, o que justifica o seu avanço cada vez maior.
Qual a relação entre biotecnologia e alimentação?
Sem dúvidas, uma das principais áreas de aplicação da biotecnologia é a agricultura.
Como já citado, o melhoramento genético clássico de plantas com características desejáveis, como frutos maiores, foi o primeiro passo para o uso da biotecnologia na agricultura. Posteriormente, com a Revolução Verde, conhecida como a 3ª Revolução Agrícola (1950/1960), observamos o aprimoramento das técnicas de biotecnologia e a utilização de OGMs permitiu um melhor manejo de plantas daninhas devido ao cultivo de culturas tolerantes a herbicidas, assim como maior controle de pragas com a disponibilidade de plantas protegidas contra insetos e doenças específicas.
O mais recente nesta longa progressão de avanços é o desenvolvimento de culturas geneticamente editadas. Essa abordagem está sendo usada para gerar e usar variação genética por meio de edições precisas nos genomas de importantes espécies de culturas alimentares.
Atualmente, vivemos o desafio da segurança alimentar, ou seja, garantir que todas as pessoas tenham acesso físico e econômico a uma alimentação que seja suficiente, segura, nutritiva e que atenda às necessidades nutricionais e preferências alimentares de modo a propiciar vida ativa e saudável.
Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que são como um “apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade”.
Em seu segundo objetivo “Fome zero e agricultura sustentável”, a ONU propõe que existam sistemas sustentáveis de produção de alimentos, por meio da implantação de práticas agrícolas resilientes, ou seja, com aumento de produtividade e produção, mas com manutenção dos ecossistemas, capacidade de adaptação às mudanças climáticas e que promovam a melhoria progressiva da qualidade da terra e do solo. O uso da biotecnologia e de culturas GM é crucial para alcançar esse objetivo.
Veja também: Qual o impacto da agricultura tradicional e moderna na segurança alimentar?
Biotecnologia aplicada na agricultura moderna
Por meio da modificação genética de sementes, que envolve seleção e melhoramento de plantas, cruzamento convencional e edição do genoma, é possível conseguir uma produtividade maior de forma mais sustentável.
Trazendo alguns números, no período entre 2013 e 2018, o uso global de culturas GM ajudou a reduzir a emissão de gases de efeito estufa em 2,1 bilhões de kg de dióxido de carbono, graças a 774 milhões de litros de combustíveis usados a menos. Isto equivale a subtrair 1,28 milhão de carros de circulação por ano.
E apesar de ainda existir um preconceito contra os OGMs, eles são comprovadamente seguros. A batata-doce, por exemplo, uma cultura alimentar amplamente consumida no mundo, é naturalmente transgênica. Ela foi obtida através de um mecanismo de ocorrência natural, durante a evolução e domesticação da cultura: a transformação mediada por Agrobacterium. E este tem sido justamente o método de escolha para o desenvolvimento de culturas GM, que são cultivadas em mais de 170 milhões de hectares. Impedir o uso de OGMs, é ser contra a biotecnologia e seus esforços para contribuir para um futuro agrícola mais sustentável.
25 anos de Biossegurança no Brasil
Em 2020, foi celebrado 25 anos do sistema de biossegurança no Brasil, que segue a Lei nº 11.105/2005. Nesses 25 anos, desde que as culturas GM foram plantadas pela primeira vez, as culturas GM e a biotecnologia não apenas transformaram a agricultura, fornecendo uma ferramenta valiosa para os agricultores, mas também foram importantes para a produção de vacinas humanas, medicamentos biológicos na área humana e animal, produção de biocombustíveis, entre outros produtos.
Os 25 anos de uso de OGMs na agricultura deve ser comemorado, e a continuidade da pesquisa de ponta para a descoberta de novos benefícios, estimulada. A biotecnologia, seus produtos e serviços contribuem para o avanço da humanidade, seja na área da saúde, na produção de alimentos ou em outras aplicações.
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Referências:
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