Ícone do site Nutritotal PRO

Cuidados com sonda nasoenteral: como lidar com a obstrução?

cuidados com sonda nasoenteral

cuidados com sonda nasoenteral

As complicações mecânicas, incluindo a obstrução da sonda nasoenteral, são efeitos adversos bastante frequentes em Nutrição Enteral.

Estas complicações são muito temidas pelas equipes de saúde, pois seus danos potenciais incluem a redução da ingestão alimentar, atrasos na administração de medicamentos, necessidade de retirada dos dispositivos, exposição dos pacientes a novos procedimentos de inserção, e até mesmo o óbito.

Por isso, os cuidados com a sonda nasoenteral são imprescindíveis, e devem ser muito bem compreendidos pelos profissionais da saúde. Vamos conhecer estes cuidados?

 

Quais são as principais causas de obstrução e como evitá-las?

 

  1. Administração errônea de medicamentos

Para administrar fórmulas farmacêuticas via sonda nasoenteral há necessidade de trituração. Porém, essa prática pode ocasionar em obstrução, pois muitos medicamentos orais não são adequados para isso.

Por esse motivo, deve-se verificar a disponibilidade de medicamentos em sua forma líquida. Ainda assim, se forem líquidos viscosos e/ou hiperosmolares, devem ser diluídos com 10 a 30 ml de água estéril. Além disso, antes e depois da administração, há necessidade de lavar a sonda.

Em casos extremos, pode haver a substituição/suspensão do medicamento.

 

  1. Fatores dietéticos

Os fatores alimentares com potencial de obstrução das sondas incluem o uso de dietas com alta densidade calórica, dietas artesanais, com alto teor proteico ou ricas em fibras.

Esses componentes, principalmente grandes quantidades de proteínas, aumentam a viscosidade da dieta enteral, gerando maior risco de entupimento.

A solução para este risco é a padronização dos procedimentos de manutenção da sonda para pacientes com dietas hiperproteicas a longo prazo, bem como a sinalização e o cuidado redobrado por parte da equipe.

 

  1. Lavagem inapropriada

Um erro comum que leva ao entupimento do tubo é a lavagem inadequada (ou inexistente). Quando isso ocorre, resíduos de alimentos e/ou fármacos se acumulam na sonda, levando à sua obstrução.

Assim, o recomendado é que a lavagem ocorra de 4 em 4 horas, com volume mínimo de 20 ml de água, registrando a permeabilidade do dispositivo.

Em caso de resistência da sonda, há necessidade de lavagem com água morna e utilização de guia com escova, para retirada de eventuais resíduos no tubo.

 

  1. Desconhecimento dos profissionais

A falta de esclarecimento dos profissionais lidando com pacientes em nutrição nasoenteral é um grande fator de risco para obstrução da sonda.

Erros frequentes incluem falhas no manuseio e desatenção às normas do fabricante, que possuem produtos com diferentes modelos, materiais e diâmetros, cada qual com suas recomendações.

Assim, treinamentos institucionais, anuais ou semestrais que abranjam toda a Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional são necessários, bem como a elaboração de protocolos de orientação, e sua supervisão regrada.

Cuidadores domiciliares e os próprios pacientes também devem ser orientados quanto aos cuidados com a sonda, além de resoluções de eventuais problemas básicos.

 

O que fazer caso ocorra a obstrução?

Em caso de entupimento, a aspiração de resíduos por pacientes incapazes de proteger suas vias aéreas pode acontecer, levando à pneumonia, insuficiência respiratória e até morte.

Por isso, para desobstrução do tubo, o processo deve iniciar assim que alguma resistência na sonda seja encontrada, ou até mesmo quando o tubo começar a ficar lento. Se caso a bomba de infusão estiver em uso, esta começará a apitar. As estratégias para desobstruir são as seguintes:

  1. Lavar a sonda com água morna, usando uma seringa 30 ou 60 ml, aplicando um suave movimento de vai-e-vem no êmbolo da seringa;
  2. Caso a lavagem não resolva, recomenda-se o uso conjunto de um comprimido triturado de enzimas pancreáticas, a um comprimido de bicarbonato de sódio de 325 mg, misturado em 5 ml de água. Se a obstrução não for eliminada em 30 minutos, a solução deve ser removida do tubo e substituída por uma nova mistura.
  3. Se ainda assim não houver resultados, indica-se o uso de um fio-guia ou desobstrutor de tubos, disponíveis comercialmente.
  4. Se a obstrução não for resolvida por nenhum destes métodos, a troca da sonda nasoenteral é o correto, e, em último caso, a substituição do método nasoenteral por métodos percutâneos (tais como gastrostomia e jejunostomia).

Ademais, se a aspiração de resíduos estiver presente, estratégias para reduzi-la incluem: elevação da cabeceira, alimentação pós-pilórica, e administração de agentes de motilidade para promover o esvaziamento gástrico.

Como visto, a prevenção da obstrução da sonda nasoenteral é a prioridade. A cultura de segurança nas unidades de saúde deve ser estimulada, através da implementação de protocolos padronizados de terapia nutricional, e desenvolvimento de programas de educação continuada.

Entretanto, caso a obstrução venha a ocorrer, a equipe multidisciplinar de saúde precisa estar habilitada para lidar com sua resolução, para que eventos adversos sejam atenuados ou eliminados.

 

Referências:

ANZILIERO, Franciele; BEGHETTO, Mariur Gomes. Incidence and risk factors for nasoenteral tube-related mechanical complications in a double cohort. Nutricion Hospitalaria, 2022.

BISCHOFF, Stephan C. et al. ESPEN guideline on home enteral nutrition. Clinical nutrition, v. 39, n. 1, p. 5-22, 2020.

BORGES, José LA et al. Causes of nasoenteral tube obstruction in tertiary hospital patients. European Journal of Clinical Nutrition, v. 74, n. 2, p. 261-267, 2020.

DA SILVA, Amanda Stefani Torquato; PINTO, Regiane Lima Gasques; DA ROCHA, Leandro Rodrigues. Prevention of adverse events related to nasogastric and nasoenteric tube: an integrative review. Journal of Nursing and Health, v. 10, n. 5, 2020.

MOTTA, Ana Paula Gobbo et al. Nasogastric/nasoenteric tube-related adverse events: an integrative review. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 29, 2021.

BISCHOFF, Stephan C. et al. ESPEN guideline on home enteral nutrition. Clinical Nutrition, [S.L.], v. 39, n. 1, p. 5-22, jan. 2020. Elsevier BV.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Caderno de Atenção Domiciliar Cuidados em Terapia Nutricional, Vol. 3, 1a edição, 1a reimpressão. Brasília, 2015.

WAITZBERG, Dan L. Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na prática clínica. 5.ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2017.

Sair da versão mobile