Duarte e colaboradores realizaram revisão de literatura sobre a relação entre microbiota intestinal humana (MI), dieta, obesidade, e desenvolvimento/progressão de Doença Hepática Gordurosa Não Alcoolica (DHGNA), e discutiram o uso de prebióticos e probióticos na modulação da MI.
Os autores lembram que quadros de disbiose estão associados à supercrescimento bacteriano, produção de toxinas e aumento da permeabilidade intestinal, resultando em alterações nas funções metabólicos e imunológicas da MI, e essa disbiose pode ser causada por alimentação não saudável, estress e uso de antibióticos.
Apontamos a seguir os principais itens discutidos:
Microbiota intestinal e obesidade
Sinais microbianos regulam a liberação do fator adiposo de jejum (FAJ) de células epiteliais intestinais, que atua como um inibidor da lipase lipoproteica (LPL) e regula o armazenamento de gordura periférica. Os metabólitos microbianos também regulam função de hormônios e a resposta inflamatória do hospedeiro. Obesidade e composição da dieta não saudável podem alterar a barreira intestinal e resultar no mau funcionamento do eixo intestino-fígado, permitindo a passagem indiscriminada de componentes bacterianos para a circulação. A interação entre os dois órgãos, seja saudável ou não, inclui a transferência da MI e seus potenciais produtos hepato-tóxicos para o fígado. O crescimento excessivo de bactérias Gram-negativas aumenta a produção de produtos hepatotóxicos, como lipopolissacarídeos (LPS), que por sua vez estimulam o receptor Toll-4 e, por fim, o NF-kβ e citocinas proinflamatórias, como IL-6, fator de crescimento transformador-beta e TNF-α.
Microbiota intestinal e DHGNA
O desenvolvimento e a progressão da DHGNA envolvem processos patofisiológicos complexos que são influenciados por fatores de risco tais como polimorfismos genéticos, dieta e a composição da MI. O aumento da permeabilidade intestinal leva a translocação bacteriana. As endotoxinas produzidas por essas bactérias penetram na veia porta e diminuem a secreção de FAJ, aumentando a atividade da LPL, promovendo a síntese de novos ácidos graxos e a produção de triglicérides e ativando receptores Toll-like inflamatórios nos hepatócitos. Dessa forma, a MI aumenta a exposição do fígado a endotoxinas, que desempenham um papel importante na progressão da DHGNA. Estudos mostraram que o crescimento bacteriano exacerbado aumenta a permeabilidade intestinal em pacientes com DHGNA, desregula o processo inflamatório e corrobora com o desenvolvimento da dença. Pacientes obesos com DHGNA apresentam diminuição da concentração de Faecalibacterium, bactérias que possuem efeitos antiinflamatórios, e de Ruminococcus, associados à produção de AGCCs. Também foi observado que a fibrose avançada pode estar associada ao aumento de lactobacilos em pacientes com DHGNA e obesidade: algumas de suas espécies produzem ácido láctico a partir da fermentação de carboidratos na dieta e podem produzir acetato e etanol, o que pode induzir dano hepático, inflamação, e levar à progressão da doença. A disbiose intestinal também pode estar associada a alterações no nível de metabolitos séricos, incluindo aminoácidos de cadeia ramificada e aminoácidos aromáticos.
Prebioticos e probioticos e a microbiota intestinal
A suplementação com probióticos pode melhorar os fatores inflamatórios e os parâmetros metabólicos da DHGNA. Consumo de Bifidobacterium pseudocatenulatum melhorou a tolerância à glicose, estado inflamatório e esteatose hepática. Estudos demonstraram que o uso de probióticos multistraína foi capaz de modular a MI, reduzindo significativamente a atividade da transaminase e reduzindo a expressão de TNF-α e IL6 em pacientes com DHGNA. Também foi mostrado que a suplementação simbiótica melhora a esteatose hepática, os níveis de aspartato aminotransferase, o perfil lipídico e a o modelo de avaliação homeostática nesses pacientes. O uso de simbióticos (Bifidobacterium longum e fructo-sacioligossacarídeo), em combinação com modificação do estilo de vida (dieta e exercício), foi capaz de melhorar as concentrações de aspartato aminotransferase, lipoproteína de baixa densidade e TNF-α, levando à diminuição de endotoxinas e esteatose.
Em conclusão, os autores verificaram a existência de evidencias demonstrando o papel da MI na patogênese da DHGNA/NASH, entretanto ainda não se sabe ao certo a melhor maneira de modular a MI na melhora da progressão dessa doença.
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