Estudo teve como objetivo avaliar as alterações na microbiota intestinal induzidas após cirurgia bariátrica de Bypass Gástrico (RYBG) e a influência na remissão de Diabetes do Tipo 2 pós-cirúrgica.
Para isso, foram recrutadas 25 mulheres obesas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). As participantes tinham de 18 a 60 anos, IMC ≥ 35 kg /m², diagnóstico confirmado de Diabetes do Tipo 2 (DM2) por exame de glicemia em jejum (≥ 126 mg / dL), Hemoglobina Glicada (HbA1c) de ≥ 7% e uso de antidiabéticos orais. Todas as participantes foram submetidas à cirurgia aberta com Bypass Gástrico em Y de Roux (RYGB) e tiveram dados pré-operatótios (n=25 / idade média de 45,80), e de 3 meses (n= 20 / idade média 46,80) e 12 meses (n=14 / idade média 46,50) do pós-operatório coletados. A composição da microbiota intestinal foi avaliada pelo sequenciamento genético, técnica 16S rRNA.
As variáveis antropométricas e de composição corporal tiveram alterações positivas após a cirurgia. Níveis de glicose, insulina, HOMA-IR, HbA1c e tolerância à glicose também foram alterados positivamente e 93% das participantes pararam de tomar antidiabéticos orais. Dados demonstraram redução da ingestão de energia, incluindo carboidratos, gorduras e proteínas. Aos 12 meses, a ingestão de energia e carboidratos aumentou em comparação com os dados pós-operatórios de três meses, entretanto, os pacientes com remissão de DM2 mantiveram a ingestão de fibras insolúveis e solúveis e pacientes sem remissão não diminuíram a ingestão de gorduras saturadas.
Não houveram diferenças significativas entre a biodiversidade na microbiota de pacientes com e sem remissão total da DM2 durante o acompanhamento. Entretanto, no pré-operatório, pacientes com remissão apresentaram níveis significativamente mais baixos de Asaccharobacter e Atopóbio e níveis mais altos de Gemella, Coprococcus e Desulfovibrio quando comparados aos pacientes sem remissão de DM2 (p <0,050). Assim, os resultados sugerem que o microbioma intestinal pré-operatória desempenha um papel potencial na previsão do resultado da remissão de DM2 após a cirurgia.
No pós-operatório (vs. pré-operatório), a abundância relativa de alguns gêneros de bactérias intestinais mudou e a riqueza microbiana intestinal aumentou, independentemente da remissão ou não da doença. No nível do filo, a proporção de Firmicutes /Bacteroidetes diminuiu significativamente apenas 12 meses após a cirurgia, quando comparado ao valor pré-operatório (p <0,046). Ao comparar alterações de microbiota e alimentação, os autores observaram que no pré-operatório, a riqueza de gêneros teve uma correlação positiva com a relação ingestão de fibras/lipídeos, e ingestão de fibras isoladamente. Em comparação com o pré-operatório, as alterações na riqueza de gênero 3 meses após a cirurgia teve uma correlação direta com a alteração da relação ingestão de fibras/lipídeos e uma correlação inversa com a ingestão de lipídios e vitamina B12. Curiosamente, a ingestão de proteínas mostrou uma correlação inversa com os níveis de Akkermansia.
O estudo concluiu que após RYBG houve um aumentou na diversidade da microbiota intestinal e alteração do perfil das bactérias, mas essas alterações não se correlacionaram com a remissão de DM2. Por outro lado, o perfil da microbiota intestinal foi influenciado pela ingestão de dieta no pré e pós-operatório e correlacionado com a remissão de DM2 no pré-operatório, sugerindo que um perfil específico de microbioma intestinal pode estar presente em pacientes responsivos à remissão da doença. Esses achados levantam a possibilidade de avaliar o perfil da microbiota intestinal para prever remissão de DM2 após RYGB ou modular esta variável (talvez por intervenções alimentares) para alcançar o benefício metabólico.