A gastrite é uma inflamação que afeta a integridade da mucosa gástrica, provocando dor, azia e prejuízo à absorção de nutrientes. Em condições como estresse metabólico, uso prolongado de anti-inflamatórios, queimaduras, traumas, tabagismo e etilismo, além de infecção por Helicobacter pylori, é comum o desenvolvimento dessa patologia.
A dietoterapia, nesse sentido, tem um importante papel na redução dos desconfortos e agravo da doença. A partir de mudanças na alimentação, é possível minimizar o quadro inflamatório e recuperar o prazer em se alimentar que, por vezes, é desassistido nesses pacientes.
Como orientar a prática alimentar e estilo de vida do paciente?
Recomenda-se em pacientes com gastrite evitar jejum prolongado, fracionando a alimentação diária em 5 ou 6 refeições. Essa conduta visa evitar o acúmulo de suco gástrico no estômago que provocará mais incômodo. A ingestão apropriada de líquidos ao longo do dia (não conjuntamente às refeições) e um comer atento, mastigando bem os alimentos, também ajudarão no processo digestivo em tempo adequado, sem causar um esvaziamento gástrico precoce ou muito lento.
Como comentado anteriormente, fumar e ingerir bebida alcóolica com frequência provocam irritação na mucosa gástrica, portanto, para evitar pioras no quadro clínico, recomenda-se o abandono ou minimização dessas práticas. A atividade física leve a moderada também contribui para um bom funcionamento do sistema digestório, uma caminhada após as refeições pode auxiliar no trânsito do bolo alimentar.
E quais os alimentos contraindicados na dietoterapia da gastrite?
Alimentos que provoquem aumento na secreção ácida do estômago devem ser consumidos com moderação ou evitados quando o paciente apresentar crises de gastrite. Exemplos:
– Bebidas gaseificadas ou com cafeína
– Chocolate
– Frutas ácidas
– Carnes vermelhas e embutidos
– Alimentos gordurosos como frituras e ultraprocessados
– Doces concentrados como goiabada e doce de leite
– Temperos e molhos condimentados
E quais alimentos podem fazer parte da dieta do paciente com gastrite?
Uma dieta balanceada na maioria das comorbidades vai ser o indicado. No caso da gastrite, alimentos de origem vegetal cozidos ou assados, carnes magras como frango e peixe, ovos, leguminosas, cereais e oleaginosas podem ser consumidos de acordo com as necessidades e preferências do paciente.
Sobre o consumo de leite e seus derivados, ainda não existe um consenso. Alguns estudos apresentam que eles podem aliviar os sintomas gástricos, mas outros relatam que o alto teor proteico desses alimentos causaria o rebote ácido no estômago. Logo, o consumo moderado é mais indicado.
E quanto aos micronutrientes?
É preciso atentar-se a nutrientes que auxiliam no processo de redução do estresse oxidativo provocado pela inflamação gástrica e até mesmo na cura de feridas caso a gastrite avance para uma úlcera. Nesse sentido, nutrientes como zinco e selênio têm papel relevante na manutenção do sistema imunológico e na cicatrização.
O uso frequente de antiácidos pode provocar deficiência de B12, ácido fólico e ferro por afetar a biodisponibilidade desses micronutrientes. Além disso, quando a gastrite é ocasionada por infecção de H. pylori, a homeostase de ferro também é afetada já que esse patógeno provoca exacerbação da demanda de ferro.
Portanto, o nutricionista que prestar atendimento a um paciente com gastrite deve não só orientar uma dieta que reduza a secreção de suco gástrico, mas também observar os níveis de vitaminas e minerais para evitar deficiências nutricionais e melhorar o quadro inflamatório.
Referências
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