Quais nutrientes são importantes para cicatrização?

Postado em 13 de novembro de 2021

O processo de cicatrização sofre grande influência do estado nutricional do paciente

cicatrização

A cicatrização é um processo em que envolve de forma coordenada uma cascata de eventos fisiológicos e bioquímicos, sendo uma resposta a um dano tecidual, com o objetivo de restaurar a sua continuidade anatômica, estrutural e funcional.

Devemos considerar que a cicatrização pode ocorrer por:

  1. Primeira intenção: Acontece quando as extremidades da ferida estão próximas, onde existe perda mínima de tecido e não há infecção;
  2. Segunda intenção: Aqui já apresenta perdas significativas de tecido e infecção;
  3. Terceira intenção: Quando há necessidade de fechamento secundário da ferida, com utilização de sutura.

Além disso o processo de cicatrização depende de diversos fatores fisiológicos e pode ser dividida em fases: homeostasia, inflamatória, proliferativa e de remodelamento.

A fase de homeostasia é uma resposta imediata a lesão, em que ocorre a liberação dos fatores de coagulação.

A fase inflamatória é caracterizada por homeostasia, formação de coágulo de fibrina e migração de células imunológicas, podendo durar até vários dias.

Já na fase proliferativa envolve secreção de fatores de crescimento, proliferação de células, como fibroblastos, endotélio e queratinócitos, e maior presença e participação de colágeno.

E na última fase, a de remodelamento, vem a ser a mais longa do processo de cicatrização, pois envolve depósito de colágeno na ferida, redução da inflamação e restauração da circulação sanguínea.

Lesões de difícil cicatrização

Depende do local da lesão, do tamanho, a causa e se há outros fatores associados, como a diabetes, câncer e desnutrição, esse processo de fechamento pode ser lento, existindo a possibilidade de não ocorrer à cicatrização completa da ferida.

As chamadas feridas crônicas, são lesões que apresentam um grande desafio para o seu processo de fechamento, ocorrendo dor e desconforto. Exemplos de lesões crônicas são as encontradas na lesão por pressão (LPP) e nas úlceras vasculares periféricas presente no pé diabético.

Lesão por pressão

Comum em pacientes com idade avançada ou que estão acamados, a LPP é caracterizada por feridas dolorosas de difícil cicatrização, que ocorre devido à pressão ou atrito entre a pele do individuo e a superfície em que se encontra, por falta de movimentação.

Essas lesões podem ser classificadas de acordo com o estágio e aparência, como podemos ver na tabela a seguir:

Tabela: Classificação de LPP

Estágio da lesão O que ocorre?
Estagio 1: Pele íntegra com eritema não branqueávelNesse estagio é caracterizado por uma pequena lesão, apresentando uma pele intacta, com alteração na sensação no local, não entanto não há alteração da cor.
Estágio 2: Perda de espessura parcial da pele com exposição da dermeNessa fase, a ferida já apresenta uma característica úmida, rosada ou avermelhada, com exposição da derme. Entretanto, tecidos mais profundos não são visíveis.
Estágio 3: Perda total da espessura da peleNo terceiro estágio já ocorre uma ferida mais profunda, ocorrendo uma perda tecidual significativa, tornando uma lesão não estadiável.
Estágio 4: Perda total da espessura da pele e perda tissularAqui já há uma perda total do tecido, tendo a exposição de tecidos mais profundos como, músculo, tendão, ligamento, cartilagem ou ossos, depende do local da lesão. Tanto no estágio 3 quanto no 4 ocorre necrose do tecido.

 

Entenda qual o papel da nutrição na LPP, no nosso podcast em parceria com a Nestlé ‘’ Podcast #38 – O papel da nutrição no tratamento da lesão por pressão’’

Pé diabético

A diabetes mellitus (DM) é uma das doenças crônicas mais presente na população, afetando milhares de pessoas mundialmente. Em indivíduos com DM há uma alteração significativa em diversos processos fisiológicos se não tratada, onde podemos destacar a dificuldade de cicatrização, ocorrendo o famoso pé diabético.

O pé diabético é uma complicação associada à própria etiologia da diabetes , que nada mais é como uma ferida ou úlceras em membros periféricos, como os pés, podendo ser agravadas por infecções.

Devido a esse ferimento o tecido periférico acaba recebendo menos oxigenação e, em longo prazo, pode ocorrer à necrose do membro afetada, onde muitas vezes a intervenção cirúrgica (amputação) é necessária.

O papel da nutrição

Como vimos, há diversos fatores que influenciam diretamente no processo de cicatrização, podendo destacar o estado nutricional, logo que, uma boa nutrição contribui não só com a manutenção da saúde, mas também de células e tecidos.

A desnutrição afeta significativamente o processo de cicatrização, pois a energia utilizada para construção de novas células origina-se das reservas corporais. O aporte energético deve atender as necessidades do paciente, no entanto, deve-se evitar excesso de carboidrato, visto que ocorrência de hiperglicemia pode prejudicar o processo de cicatrização.

Embora popularmente conhecido, o uso de açúcar ou mel em feridas é ainda contraditório na literatura, com isso alimentos como doces e frituras em excesso, devem ser estritamente evitados.

Além disso, a deficiência de proteína prolonga a fase de inflamação, diminui a proliferação, compromete a produção de colágeno e, consequentemente, está relacionada à menor regeneração de tecido. Sendo assim, a deficiência de proteína combinada com a deficiência de vitaminas e minerais compromete também a resposta imunológica.

Abaixo podemos conferir os principais nutrientes envolvidos nesse processo:

  • Ácidos graxos essenciais: ômega 3 e ômega 6, por serem constituintes das membranas celulares e serem utilizados como fonte de energia;
  • Proteínas: como mencionado, por participarem do processo de reparação tecidual e síntese de células imunológica;
  • Arginina: aminoácido condicionalmente essencial, está envolvido na síntese de substâncias que promovem crescimento celular, além de participar também da resposta imunológica;
  • Glutamina: outro aminoácido condicionalmente essencial, envolvido no aumento da síntese e redução da degradação proteica, parece ter ação também sobre a síntese e deposição de colágeno;
  • Vitamina A: associada a melhor resposta imunológica, sobretudo na fase de inflamação. Participa também da síntese de fibroblastos e de colágeno;
  • Vitamina C: além da função antioxidante e de melhorar a função imunológica, é cofator para síntese de colágeno e de outros componentes necessários para formação de novos tecidos;
  • Vitamina E: é antioxidante e importante agente estabilizador da membrana, também participa dos processos de reparo e regeneração tecidual;
  • Cobre: utilizado na formação de eritrócitos, polimerização do colágeno e fortalecimento da cicatriz
  • Zinco: cofator para mais de 300 reações enzimáticas, estando envolvido na síntese de DNA e RNA, elasticidade tecidual, atividade do sistema imunológico e fortalecimento das células de cicatrização,
  • Selênio: é antioxidante e participa da formação de fibroblastos e de vasos sanguíneos no tecido.

Assim, podemos concluir que a porte nutricional adequado, bem como a suplementação de nutrientes específicos quando necessário, é de extrema importância para o sucesso do processo de cicatrização.

 

Referência

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