A síndrome metabólica (SM) é um conjunto de sinais e sintomas descrito desde a década de 1960, atualmente representado por um conjunto de fatores de risco cardiovascular usualmente relacionados à deposição central de gordura e à resistência à insulina. O diagnóstico e definição são discutidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III) e pelo International Diabetes Federation (IDF). Segundo a OMS, a avaliação de SM depende inicialmente da resistência à insulina ou do distúrbio do metabolismo da glicose, tornando o diagnóstico mais difícil. O IDF sugere a obesidade abdominal como critério inicial para o diagnóstico de SM, combinada com fatores como hiperglicemia, hipertrigliceridemia, HDL-c baixo e hipertensão arterial. Já o diagnóstico pelo NCEP-ATP III, é o critério recomendado pela I Diretriz de Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica e depende da combinação de pelo menos três componentes dos apresentados a seguir:
1) obesidade abdominal, marcada por circunferência da cintura de mais que 102 cm em homens e 88 cm em mulheres;
2) concentração sérica de triglicérides maior ou igual a 150 mg/dl;
3) colesterol HDL (lipoproteína de alta densidade) menor que 40 mg/dl para homens e menor que 50 mg/dl para mulheres;
4) pressão arterial maior ou igual a 130 mmHg/85 mmHg (sistólica/diastólica) e
5) glicemia de jejum igual ou superior a 110 mg/dl.
A síndrome metabólica envolve obesidade, dislipidemia, hipertensão e hiperglicemia, sendo um problema de saúde global, que atinge, principalmente, a população urbana de países em desenvolvimento e que aumenta os riscos para diabetes tipo 2, doenças coronárias, acidentar vascular encefálico entre outras condições cardiovasculares.
O fato é que ainda se discute sobre qual das quatro características principais da síndrome seria a detonadora do processo de modificação do metabolismo: se a obesidade, acompanhada frequentemente por altos níveis de triglicérides e baixos de HDL, se a hiperglicemia, característica do diabetes, ou a hipertensão.
A pergunta é importante, já que a síndrome metabólica reúne os mais importantes fatores associados a risco aumentado de morte por doença cardiovascular. Assim, seria lógico supor que impedir a instalação da síndrome significaria prevenir a doença das coronárias e, consequentemente, evitar mortes e custos para o sistema de saúde. No entanto, autores norte-americanos alertam para o fato de que os componentes que definem a síndrome têm peso igual na composição do diagnóstico da síndrome metabólica.
Também, em amostra do NHANES III, outros pesquisadores encontraram maior prevalência de doença cardiovascular (19,2%) entre indivíduos com diabetes e com a síndrome metabólica. Alta prevalência de doença coronariana foi também verificada entre os que tinham a síndrome sem o diagnóstico de diabetes, 13,9% (5). Isso faz supor que a síndrome, e não apenas o diabetes, seja responsável pelo aumento no risco para doença cardiovascular e que muitos pacientes sem diagnóstico de diabetes podem já estar desenvolvendo a síndrome metabólica. Portanto, síndrome metabólica pode ocorrer, cronologicamente, antes do diabetes.
Que dizer da resistência insulínica? A resistência insulínica ou hiperinsulinemia já foi apontada como chave do desenvolvimento da síndrome metabólica. Trata-se de condição em que quantidades crescentes de insulina são necessárias para que a resposta biológica normal seja alcançada. Embora a resistência insulínica esteja presente em quase todos os casos de diabetes do tipo 2, a maior parte dos indivíduos com resistência insulínica ainda não tem hiperglicemia, mas cursa com a síndrome metabólica e está em risco de desenvolver diabetes do tipo 2. Antes do estabelecimento do diabetes, os pacientes são capazes de hipersecretar a insulina na tentativa de manter a glicemia em níveis normais. Esta progressão da secreção da insulina atinge um ponto de falência das células beta pancreáticas, quando o nível da insulina diminui e os níveis de glicemia sobem.
O diagnóstico do diabetes ou pré-diabetes é concluído apenas quando ocorre hiperglicemia – e não na presença de hiperinsulinemia. No entanto, a medida de níveis de insulina de jejum não é recomendada na prática clínica, devido à dificuldade de sua realização e à variabilidade dos ensaios bioquímicos comercialmente disponíveis. Desta forma, frequentemente a resistência insulínica é a última parte da síndrome metabólica que é diagnosticada – embora possa estar na origem da hiperglicemia e do diabetes.
Assim, a análise dos estudos de prevalência faz supor que, cronologicamente, a resistência insulínica venha em primeiro lugar e que síndrome metabólica pode, muitas vezes, ocorrer antes da instalação do diabetes. Vale ressaltar que todos esses eventos estão estreitamente relacionados com o aumento do risco cardiovascular.
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