Resistência insulínica, síndrome metabólica e diabetes: o que vem primeiro?

Postado em 13 de janeiro de 2021 | Autor: Natália Lopes

Todas essas situações aumentam o risco cardiovascular

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A síndrome metabólica (SM) é um conjunto de sinais e sintomas descrito desde a década de 1960, atualmente representado por um conjunto de fatores de risco cardiovascular usualmente relacionados à deposição central de gordura e à resistência à insulina. O diagnóstico e definição são discutidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III) e pelo International Diabetes Federation (IDF). Segundo a OMS, a avaliação de SM depende inicialmente da resistência à insulina ou do distúrbio do metabolismo da glicose, tornando o diagnóstico mais difícil. O IDF sugere a obesidade abdominal como critério inicial para o diagnóstico de SM, combinada com fatores como hiperglicemia, hipertrigliceridemia, HDL-c baixo e hipertensão arterial. Já o diagnóstico pelo NCEP-ATP III, é o critério recomendado pela I Diretriz de Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica e depende da combinação de pelo menos três componentes dos apresentados a seguir:

1) obesidade abdominal, marcada por circunferência da cintura de mais que 102 cm em homens e 88 cm em mulheres;
2) concentração sérica de triglicérides maior ou igual a 150 mg/dl;
3) colesterol HDL (lipoproteína de alta densidade) menor que 40 mg/dl para homens e menor que 50 mg/dl para mulheres;
4) pressão arterial maior ou igual a 130 mmHg/85 mmHg (sistólica/diastólica) e
5) glicemia de jejum igual ou superior a 110 mg/dl.

A síndrome metabólica envolve obesidade, dislipidemia, hipertensão e hiperglicemia, sendo um problema de saúde global, que atinge, principalmente, a população urbana de países em desenvolvimento e que aumenta os riscos para diabetes tipo 2, doenças coronárias, acidentar vascular encefálico entre outras condições cardiovasculares.

O fato é que ainda se discute sobre qual das quatro características principais da síndrome seria a detonadora do processo de modificação do metabolismo: se a obesidade, acompanhada frequentemente por altos níveis de triglicérides e baixos de HDL, se a hiperglicemia, característica do diabetes, ou a hipertensão.

A pergunta é importante, já que a síndrome metabólica reúne os mais importantes fatores associados a risco aumentado de morte por doença cardiovascular. Assim, seria lógico supor que impedir a instalação da síndrome significaria prevenir a doença das coronárias e, consequentemente, evitar mortes e custos para o sistema de saúde. No entanto, autores norte-americanos alertam para o fato de que os componentes que definem a síndrome têm peso igual na composição do diagnóstico da síndrome metabólica.

Também, em amostra do NHANES III, outros pesquisadores encontraram maior prevalência de doença cardiovascular (19,2%) entre indivíduos com diabetes e com a síndrome metabólica. Alta prevalência de doença coronariana foi também verificada entre os que tinham a síndrome sem o diagnóstico de diabetes, 13,9% (5). Isso faz supor que a síndrome, e não apenas o diabetes, seja responsável pelo aumento no risco para doença cardiovascular e que muitos pacientes sem diagnóstico de diabetes podem já estar desenvolvendo a síndrome metabólica. Portanto, síndrome metabólica pode ocorrer, cronologicamente, antes do diabetes.

Que dizer da resistência insulínica? A resistência insulínica ou hiperinsulinemia já foi apontada como chave do desenvolvimento da síndrome metabólica. Trata-se de condição em que quantidades crescentes de insulina são necessárias para que a resposta biológica normal seja alcançada. Embora a resistência insulínica esteja presente em quase todos os casos de diabetes do tipo 2, a maior parte dos indivíduos com resistência insulínica ainda não tem hiperglicemia, mas cursa com a síndrome metabólica e está em risco de desenvolver diabetes do tipo 2. Antes do estabelecimento do diabetes, os pacientes são capazes de hipersecretar a insulina na tentativa de manter a glicemia em níveis normais. Esta progressão da secreção da insulina atinge um ponto de falência das células beta pancreáticas, quando o nível da insulina diminui e os níveis de glicemia sobem.

O diagnóstico do diabetes ou pré-diabetes é concluído apenas quando ocorre hiperglicemia – e não na presença de hiperinsulinemia. No entanto, a medida de níveis de insulina de jejum não é recomendada na prática clínica, devido à dificuldade de sua realização e à variabilidade dos ensaios bioquímicos comercialmente disponíveis. Desta forma, frequentemente a resistência insulínica é a última parte da síndrome metabólica que é diagnosticada – embora possa estar na origem da hiperglicemia e do diabetes.

Assim, a análise dos estudos de prevalência faz supor que, cronologicamente, a resistência insulínica venha em primeiro lugar e que síndrome metabólica pode, muitas vezes, ocorrer antes da instalação do diabetes. Vale ressaltar que todos esses eventos estão estreitamente relacionados com o aumento do risco cardiovascular.

Referências:

ALEXANDER, C. M. et al. NCEP-Defined Metabolic Syndrome, Diabetes, and Prevalence of Coronary Heart Disease Among NHANES III Participants Age 50 Years and OlderDiabetes, 2003.

American Medical Association (AMA). Executive Summary of the Third Report of the National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults (Adult Treatment Panel III). Jama: The Journal of the American Medical Association, 2001.

GLUVIC, Zoran et al. Link between Metabolic Syndrome and Insulin ResistanceCurrent Vascular Pharmacology, 2016. I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica.

SAKLAYEN, Mohammad G. et al. The Global Epidemic of the Metabolic SyndromeCurrent Hypertension Reports, 2018.

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