Cerca de 2 a 37% da população idosa mundial convive com a sarcopenia, condição caracterizada pela progressiva perda de massa muscular, com consequências clínicas prejudiciais. Entretanto, não há consenso sobre os métodos ideais de triagem de sarcopenia, assim como para seus critérios diagnósticos.
O modelo mais aceito na literatura científica é o Consenso Europeu para Definição e Diagnóstico de Sarcopenia (EWGSOP2), que indica que o diagnóstico deve se basear no rastreio da sarcopenia, avaliação da força muscular, avaliação da massa muscular e gravidade através do desempenho físico. Contudo, os métodos diagnósticos são onerosos, dificultando a reprodutibilidade clínica e afetando locais com poucos recursos.
Sabendo disso, um novo estudo buscou avaliar uma alternativa a este método: o SARC-GLOBAL, a nova ferramenta de triagem de sarcopenia. Os autores pretendiam avaliar a capacidade do SARC-GLOBAL em prever resultados clínicos negativos (quedas, fraturas, infecções, hospitalizações e mortes) relacionados à sarcopenia. Confira os detalhes a seguir.
Metodologia: comparação entre SARC-F, SARC-CalF e e SARC-GLOBAL
O estudo em questão foi uma análise longitudinal prospectiva, realizada em parceria com o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Um total de 395 participantes foram incluídos, com idade média de 70,7 ± 7,5 anos.
Informações demográficas, variáveis de estilo de vida, histórico pessoal de doenças e medidas antropométricas foram coletadas. As medidas incluíram altura, peso e circunferência da panturrilha e índice de massa corporal (IMC).
A triagem de sarcopenia foi realizada usando as ferramentas SARC-F, SARC-CalF e SARC-GLOBAL. Os três questionários foram aplicados por um único avaliador treinado por meio de entrevistas presenciais.
O diagnóstico de sarcopenia considerou os critérios do Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia em Idosos (EWGSOP2), que considera sarcopenia como a perda de massa magra, acompanhada de perda de força e função. Sendo assim, avaliou-se o índice de massa muscular esquelética apendicular (IMMA), a força de preensão manual (FPM) e a velocidade de caminhada.
Todos os participantes foram acompanhados por contato telefônico realizado por uma única pesquisa anualmente durante o período de 42 meses. Este acompanhamento avaliou a ocorrência de desfechos clínicos negativos, incluindo:
- Quedas
- Fraturas
- Infecções
- Hospitalizações
- Mortalidade
SARC-GLOBAL foi a melhor ferramenta para prever desfechos clínicos da sarcopenia
De acordo com a ferramenta SARC-GLOBAL, 35.9% dos participantes tiveram um diagnóstico provável de sarcopenia, com 21.5% confirmados pelos critérios do EWGSOP2.
O resultado clínico negativo mais comum na população foi quedas (12,9%), seguido por infecções (12,4%), hospitalizações (11,8%), fraturas (4,3%) e mortes (2,7%).
Nesse sentido, o SARC-GLOBAL foi a melhor ferramenta para predizer desfechos da sarcopenia. Por regressão logística, a ferramenta mostrou valor preditivo para chance de quedas e hospitalização em 24 meses, 36 e 42 meses. Além disso, pelo modelo de regressão de Poisson, ela previu o risco de quedas e hospitalização também em 12 meses.
Vale ressaltar que o SARC-GLOBAL inclui variáveis importantes relacionadas a esses resultados, como idade, medicação em uso e IMC, que podem fornecer uma abordagem mais holística para prevê-los.
Digno de nota é que a SARC-GLOBAL foi a única ferramenta de triagem capaz de prever o risco de infecções em 24, 36 e 42 meses.
Resultados de outras ferramentas
Semelhante ao SARC-GLOBAL, a SARC-F também foi capaz de prever o risco de quedas e hospitalizações, porém não conseguiu prever o risco de infecções.
Já a SARC-CalF não previu o risco de quedas, mas previu as chances de hospitalização (apenas em 42 meses), por regressão logística. Já no modelo de regressão de Poisson, a ferramenta também não previu quedas, apenas o risco de infecções em 24 e 36 meses, e o risco de hospitalizações durante todos os períodos.
Por fim, a sarcopenia avaliada pelo EWGSOP2 não previu as chances de nenhum dos desfechos clínicos avaliados por regressão logística, e apenas risco de infecções por regressão de Poisson.
Devido ao pequeno número de mortes no período de acompanhamento, não foi possível estabelecer modelos para o desfecho de mortalidade. Ademais, o risco de fratura não foi previsto por nenhuma das ferramentas.
Conclusão
Em resumo, a ferramenta SARC-GLOBAL foi a única capaz de prever, simultaneamente, o risco de quedas, hospitalização e infecções, demonstrando sua utilidade frente a outras ferramentas.
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Referência:
Vicedomini, Ana Carolina Costa, Dan L. Waitzberg, Natalia Correia Lopes, Natalia Magalhães, Ana Paula A. Prudêncio, Wilson Jacob Filho, Alexandre Leopold Busse, Douglas Ferdinando, Tatiana Pereira Alves, Rosa Maria Rodrigues Pereira, and et al. 2024. “Prognostic Value of New Sarcopenia Screening Tool in the Elderly—SARC-GLOBAL” Nutrients 16, no. 11: 1717. https://doi.org/10.3390/nu16111717
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