Chegou a tão esperada hora de ver o bebê ter suas primeiras experiências com os alimentos! Até então o pequeno recebia apenas leite materno ou fórmula, que sabemos ser suficiente para seu desenvolvimento. A partir dos 6 meses, a introdução alimentar tem início e essa fase costuma gerar bastante insegurança e dúvidas por parte dos cuidadores. Quando se trata de uma família vegetariana, essas angústias são ainda maiores, afinal, será que os bebês podem ser vegetarianos desde essa fase da vida?
Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública (IBOPE) de outubro de 2012 revelou que 15,2 milhões de brasileiros se declararam vegetarianos, o que corresponde a 8% da população brasileira com mais de 18 anos, e, nos EUA, 2% da população de 6 a 17 anos são vegetarianos.
Diante desse cenário, há alguns anos as academias e sociedades de pediatria no mundo todo debruçaram-se a estudar e publicar recomendações que nos ajudam a responder a pergunta que não quer calar: bebês podem ser vegetarianos desde o momento da introdução alimentar?
A resposta é sim! Segundo a Associação Dietética Americana (ADA), a Academia Americana de Pediatria (AAP) e a Sociedade Canadense de Pediatria (SCP), a alimentação vegetariana pode ser seguida em todos os ciclos de vida, inclusive a gestação, lactação e infância. O parecer da ADA considera ainda que a dieta vegetariana, apropriadamente planejada, é saudável, nutricionalmente adequada e promove benefícios à saúde, prevenindo doenças. Vale ressaltar que, como qualquer dieta ou alimentação, o acompanhamento profissional é sempre bem-vindo.
Como fazer uma introdução alimentar vegetariana?
A Sociedade Brasileira de Pediatria preconiza que a introdução de alimentos sólidos é a mesma para bebês vegetarianos e não vegetarianos. Mas como fazer isso na prática?
Antes de tudo é importante entender que, a alimentação nesse momento é complementar ao leite materno, até que o bebê aprenda a comer para então, um dia, a alimentação ser a base e, o leite, o complemento. Portanto, é preciso tempo e paciência.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a alimentação do bebê onívoro (que come carne), deve conter 5 grupos de alimentos: cereais ou tubérculos, leguminosas, carnes ou ovos, legumes e verduras.
A maior diferença entre o prato de refeição do bebê vegetariano e do bebê onívoro, é a retirada da carne do prato. Para equilibrar a quantidade de proteínas, aumentamos um pouco a quantidade de leguminosas (feijões, lentilhas, ervilhas, grão de bico), que são a fonte de proteína e ferro do reino vegetal.
A Sociedade Vegetariana Brasileira propôs um esquema para montar o prato da introdução alimentar do bebê vegetariano. Elaborando o prato dessa forma, o bebê terá contato com todos os grupos alimentares de uma forma equilibrada e variada.
Há ainda alguns detalhes importantes para considerar para aproveitar ao máximo os nutrientes no prato vegetariano:
- Adicione ½ colher de sobremesa de óleo de linhaça no prato, antes de servir. O óleo de linhaça é uma excelente fonte de ômega-3 e quando o bebê deixar de ser amamentado, essa adição será necessária.
- Ofereça sempre uma fruta fonte de vitamina C logo após o almoço e jantar. A vitamina C ajuda a aumentar a absorção de ferro. Além das frutas cítricas (laranja, tangerina, kiwi, limão), mamão, goiaba, caju e acerola são ótimas fontes dessa vitamina.
- A mistura entre leguminosas e cereais garante proteínas de ótima qualidade. Por isso é interessante dar preferência aos cereais como fonte de carboidrato no prato vegetariano. Cereais incluem arroz, milho, aveia, cevada, quinoa, trigo.
E suplementar, é necessário?
A suplementação do bebê vegetariano no primeiro ano é a mesma do bebê onívoro, não há necessidade de aumentar nenhuma dose dos suplementos habituais, porém o desmame é um momento de risco nutricional maior para aqueles cujos pais optaram por ser vegetarianos, em grande parte devido a vitamina B12, que é o único nutriente encontrado somente em produtos de origem animal.
Por isso, enquanto seu bebê estiver sendo amamentado, mesmo depois que iniciar a introdução alimentar, você não precisa se preocupar com a deficiência de nutrientes. Após o desmame, é ideal que vocês conversem com o pediatra e procurem um nutricionista especializado no atendimento de pessoas vegetarianas para orientar a melhor forma de estruturar a alimentação e avaliar a necessidade da suplementação da vitamina B12 e observar de pertinho a ingestão dos outros nutrientes.
Veja também: quais alimentos é melhor não dar ao bebê
*Alweyd Tesser é nutricionista (CRN-3: 38964), com experiência no atendimento de indivíduos vegetarianos e veganos, e mestre em ciências pela Faculdade de Medicina da USP.
Referências bibliográficas:
Academy of Nutrition and Dietetics. Vegetarian Diets. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, v.116, n.12, pp. 1970-1980, 2016.
Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Nutrologia. Vegetarianismo na infância e adolescência. n.12, pp. 1-10, 2017.
Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Nutrologia. Manual de alimentação da infância à adolescência. 4.ed, 2018.
Sociedade Vegetariana Brasileira. Departamento de Saúde e Nutrição. Alimentação para bebês e crianças vegetarianas até 2 anos de idade. 2018.